Ontem foi manchete em todos os jornais a queda do PIB (a maior em um ano desde o ano do Plano Collor) e a “saída” do país do grupo das 10 maiores economias do mundo.
Dois rápidos comentários.
O primeiro refere-se à queda em si. Em termos comparativos, não ficamos tão mal (veja gráfico abaixo com a queda do PIB ao redor do mundo). Encolhemos bem menos do que os nossos pares latino-americanos e os países europeus.
O que provavelmente levou a esse encolhimento menor foi o nosso auxílio emergencial mais generoso do que a média global. Mas este encolhimento menor teve um custo: o aumento brutal de nossa dívida. O risco percebido pelos agentes econômicos acabou se refletindo na taxa de câmbio. Conforme podemos observar no gráfico abaixo, a nossa moeda só perdeu para o peso argentino em termos de desvalorização em relação ao dólar.
Isso nos leva ao outro ponto deste post: a queda no ranking das maiores economias do mundo. No ano passado éramos a nona maior economia, neste ano fomos ultrapassados por Canadá, Coréia e Rússia, caindo para a 12a posição.
O detalhe deste ranking é que a contabilização é feita em dólar, de modo a se poder comparar os países entre si. Ora, como a nossa moeda foi a que mais se desvalorizou, caímos no ranking não pela queda do PIB em si, mas pela desvalorização do Real. A ligação entre queda do PIB e queda neste ranking é simplesmente inadequada.
Ficamos mais pobres em dólar. Em reais, nosso PIB encolheu 4,1%. Em dólares, 23,3%. Enquanto isso, o PIB russo encolheu 10,5%, o canadense 5,7% e o coreano 1,5% em dólares. Não é à toa que caímos esse tanto no ranking.
Isso significa que não ficamos tão mais pobres quando consideramos a nossa capacidade de compra de produtos fabricados aqui dentro (incluindo serviços), mas ficamos sim bem mais pobres quando se trata de comprar produtos e serviços no exterior. Além disso, o nosso posicionamento relativo no mundo perde força.
Como voltar a subir nesse ranking? Mais importante do que o crescimento do PIB em si é a revalorização do Real. E, para que o Real volte a se valorizar, é necessário diminuir o risco percebido pelos investidores. Não intervir em estatais seria um bom começo. O encaminhamento de reformas estruturais e privatizações também ajudaria. Além, claro, de tratar a dívida pública de maneira séria.
Mas alguém sempre poderá dizer que ficar bem nesse ranking é bobagem, o que importa é que o brasileiro tenha uma vida digna (um dia vou escrever um post sobre o que raios significa esse “vida digna”). Ok, é uma escolha. Ser pobre é uma escolha. Cada país caminha na direção de suas escolhas.