Situação difícil para o presidente

Que tem caroço nesse angu parece não restar dúvidas. A aprovação da compra de uma vacina que sequer foi aprovada pela Anvisa (e aqui não estamos falando da assinatura de um contrato para aquisição sujeita à aprovação, existiu a emissão de nota de fiscal, foi compra mesmo) e a esquisita intermediação de uma empresa pra lá de suspeita, quando a negociação direta com os laboratórios tem sido a norma das aquisições das outras vacinas, deixa tudo isso muito suspeito.

Isso é uma coisa. Outra coisa é provar o envolvimento do presidente na suposta maracutaia.

Quando, em 2005, Roberto Jefferson colocou a boca no trombone para denunciar o mensalão, seu alvo era José Dirceu. Ele se colocava como alguém que queria proteger o presidente de um esquema engendrado no gabinete de seu ministro da Casa Civil. Luiz Miranda também diz ter desejado proteger o presidente. (Aliás, parêntesis: a capivara de Luiz Miranda não deve muito à capivara de Roberto Jefferson. Isso não invalidou a sua denúncia, pelo contrário. Fecha parênteses).

Como sabemos, Lula não foi condenado no mensalão. A tese do “domínio do fato”, que foi amplamente discutida na época, não foi acolhida para o caso de Lula, sendo usada apenas para condenar José Dirceu. Segundo essa tese, não são necessárias provas objetivas de que o manda-chuva se meteu nos detalhes do crime, basta que tenha comprovada ciência do fato criminoso.

Luiz Miranda diz que tem provas de que Bolsonaro tinha o “domínio do fato”, mesmo sem ter gravado a conversa que manteve com o presidente. Parece difícil. Se tivesse, já as teria mostrado. O que parece é que o presidente está com problemas em manter Ricardo Barros (o seu José Dirceu) a salvo. Perder Ricardo Barros certamente não está nos planos de Bolsonaro. Mas essas coisas acabam fugindo do controle, e podem chegar, como no caso do mensalão, à dicotomia “ou ele ou eu”.

O fato é que este é um caso que tem o potencial de colocar sob estresse a tese do governo incorruptível, que não rouba e não deixa roubar. Mesmo que não se prove que o presidente tenha prevaricado, a dinâmica da coisa exigirá ações fortes daqui em diante, o que pode estressar a relação com os caciques do Centrão. Situação difícil para o presidente.

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