Alguns estados são mais iguais do que outros?

Hoje, nota política no Estadão traz a reclamação de alguns governadores, de que seus estados estariam sendo prejudicados pela distribuição das entregas de doses pelo Ministério da Saúde. São citados especificamente os governadores do Pará, Bahia, Piauí e São Paulo. Será que esses governadores têm razão em reclamar? Vejamos.

Fiz três gráficos para tentar analisar a questão. O gráfico 1 mostra o percentual da população de cada estado já vacinado. São Paulo lidera, com 67% da população tendo recebido pelo menos a 1a dose (ou a dose única). Bahia, Piauí e Pará cobriram, até o momento, 49%, 46% e 39% das suas populações, respectivamente. O Pará está em último lugar entre os estados brasileiros. Será que isso aconteceu porque esses estados receberam menos doses?

O gráfico 2 mostra quantas doses cada estado recebeu em relação às suas respectivas populações. Podemos observar que, de fato, Bahia, Piauí e Pará receberam bem menos doses em relação à média nacional, respectivamente 85%, 83% e 77% em relação às suas populações. São Paulo recebeu 97%, enquanto a média nacional foi de 91%. Mas, nem tudo é como parece.

Fiz uma outra conta: qual o percentual de doses que está em estoque em cada estado? Se a falta de doses fosse um gargalo para a vacinação, era de se esperar que os estados que receberam menos doses tivessem um estoque menor, enquanto os estados que receberam mais doses teriam que ter um estoque maior.

O gráfico 3 mostra o estoque de doses em relação ao total de doses recebidas pelos estados. Podemos observar que justamente os estados que lideram a vacinação, MS e SP, têm os menores estoques. Quer dizer, mesmo estes estados tendo recebido mais doses proporcionalmente (98% e 97% de suas populações, respectivamente), os seus estoques estão baixos (5% e 6% das doses recebidas, respectivamente). Por outro lado, Bahia, Piauí e Pará têm ainda em estoque 19%, 24% e 25% de todas as doses recebidas até o momento. Ou seja, ainda que tenham recebido menos doses, os estoques estão altos, demostrando que estes estados não conseguem dar vazão na mesma velocidade dos que recebem mais. Tomei como exemplo esses 3 estados porque foram os citados pela reportagem, mas o raciocínio vale para todos os outros.

Então, minha hipótese é a seguinte: o MS está distribuindo doses de acordo com a capacidade de vacinação de cada estado, e não proporcionalmente às suas respectivas populações. Nesse caso, os governadores de SP e MS seriam os únicos que poderiam reclamar, pois seus estoques estão muito baixos. Cabe perguntar a cada governador porque não conseguem vacinar mais rapidamente suas populações. Falta de doses, como vimos, não é.

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