A saúde não tem preço, mas custa caro

Em uma noite de setembro de 2017 recebi um telefonema devastador: meu pai, que já estava extremamente debilitado por um Parkinson agressivo, tinha sofrido um AVC. Fui até o hospital da Prevent Senior onde ele havia sido internado.

Depois de me mostrar as radiografias e tentar me explicar, da melhor maneira possível, o que havia acontecido, o médico deu seu veredito: o cérebro do meu pai estava irremediavelmente perdido, ele viveria como um vegetal dali em diante e, provavelmente, não por muito tempo. Junto com ele estava uma médica paliativista. Era a primeira vez que eu ouvia falar dessa especialidade. Com muita delicadeza, ela me explicou que, dali em diante, havia pouco o que o hospital pudesse fazer. O melhor procedimento seria mantê-lo em casa, para que vivesse seus últimos dias cercado dos cuidados da família.

Claro que desconfiei daquilo. A primeira coisa que você pensa é que o hospital paga esses profissionais para poupar custos. Não tive dúvida: depois da alta, procurei um médico de minha estrita confiança, ao preço de R$ 1.100 a consulta. Coloco o preço da consulta como uma demonstração da experiência do médico.

Este médico, após examinar meu pai, reuniu a família para dar o veredito: meu pai ficaria melhor longe dos hospitais. O mais adequado para ele, naquele momento, seria receber cuidados paliativos. Em um hospital fariam de tudo para mantê-lo vivo, prolongando artificialmente uma vida que a natureza já dava insistentes sinais de que estava chegando ao fim. Exatamente o mesmo arrazoado da médica da Prevent. Meu pai veio a falecer 5 meses depois.

Fiz questão de contar essa história porque esse tema dos cuidados paliativos foi uma das acusações que os médicos anônimos fizeram ao plano de saúde. A minha experiência é só a minha experiência, mas mostra que esse assunto é realmente muito delicado e pode ser facilmente confundido com controle de custos.

O fato é que as pessoas querem um plano de saúde que garanta a vida eterna a preços módicos. A vida não tem preço, mas mantê-la custa caro. Eu poderia ter batido o pé e internado meu pai para mantê-lo vivo, na esperança de que, um dia, ele acordaria de seu estado vegetativo. Quanto tempo mais ele viveria, sofrendo entubado em uma cama de hospital?

A Prevent Senior é uma empresa. Como tal, deve gerar lucro para sobreviver e continuar a oferecer os seus serviços. Eu fico aliviado toda vez que ouço dizer que a Prevent tem muito lucro. Isso significa que os planos que oferece, de custo razoável, são suficientes para fechar a conta. O fato de buscarem redução de custos não é pecado, é virtude. Claro, sempre no melhor interesse razoável de seus clientes.

Minha sogra tinha um seguro-saúde da Sul América, que custava mais de R$ 3 mil por mês. Isso há mais de 5 anos. Meus pais eram clientes da Prevent há muitos anos, sempre muito satisfeitos com o atendimento. Fomos pesquisar, exatamente como preconiza a reportagem do jornal: a Prevent tinha menos reclamações por segurado do que a Sul América, tanto na ANS quanto no Reclame Aqui.

O segredo é simples: como a Prevent é verticalizada, não há discussão sobre coberturas: cliente da Prevent entrou em um hospital da Prevent, tudo ali vai ser coberto. Grande parte das reclamações contra planos de saúde se dá pelas coberturas, o que vai ser pago pelo seguro, o que vai ser pago pelo segurado. Na Prevent não tem isso, tudo ali é pago pela Prevent. Nesse sentido, funciona como o SUS.

Agora, a Prevent está no olho do furacão. A reportagem afirma que “todos” esperam que a Prevent seja punida pelos seus malfeitos, mas que o plano continue a prestar os seus serviços, pois não há alternativa mais eficiente. Quase uma contradição em termos.

O grande pecado da Prevent teria sido o de forçar a prescrição do chamado “kit tratamento precoce”. Ora, se a operadora tem como objetivo o lucro, seria no mínimo uma contradição receitar remédios ineficazes contra uma doença. Se o fez, é porque estava convicta de que funcionavam. Aliás, há um grande ausente na reportagem: o Conselho Federal de Medicina. Como órgão regulador da atividade médica, seria ele a determinar o limite entre medicina e curandeirismo. Por que não foi ouvido pela reportagem?

A matéria clama por mais supervisão. A lógica é que a operadora privada vai sacanear seus clientes se não houver supervisão do Estado. Como se uma empresa que sacaneia seus clientes de maneira contumaz não estivesse fadada ao fracasso. No limite, vamos todos para o SUS, onde é o Estado que atende diretamente o cidadão. Nesse caso, não há que se falar em interesses privados na relação hospital-médico-paciente. Sem a iniciativa privada estragando tudo, o SUS deveria ser um modelo de atendimento da população. A julgar pela procura por planos privados, não é o que acontece. Por algum estranho motivo, as pessoas preferem pagar para serem sacaneadas pela iniciativa privada.

Da forma como eu vejo, o que temos hoje é uma empresa que foi apanhada (provavelmente em função do ego de seus fundadores, que achavam que encontrariam a cura da Covid) em um enredo político. Tem os seus podres, como toda empresa os tem. Seus clientes, no entanto, estão, em geral, satisfeitos. Daqui a alguns meses, a vida voltará ao normal: a Prevent continuará funcionando normalmente para os remediados que podem pagar os seus planos, enquanto os políticos da CPI continuarão se internando no Sírio, que ninguém é de ferro.

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