Colonizando o orçamento público

Quando TODAS as centrais sindicais se unem para publicar um anúncio de página inteira, o melhor a fazer é segurar sua carteira.

O assunto é a desoneração da folha de pagamento. O fim, como sempre, é muito nobre e também eficiente, quando se trata de disfarçar transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, função que nossas leis cumprem muito bem.

Para quem está chegando agora, trata-se de diminuir a contribuição patronal para a previdência social. Como não há fonte alternativa de recursos e as aposentadorias continuam sendo pagas religiosamente, há que se sacar dinheiro de outro lugar. Ou outro imposto é criado, ou aumenta-se a dívida pública. De qualquer forma, alguém irá pagar por isso.

O mais curioso é que as centrais sindicais foram absolutamente contra a reforma da previdência. Quer dizer, defendem uma previdência com as regras mais generosas do mundo, mas na hora de pagar a conta, tentam empurrar o papagaio para os outros.

Nesse sentido, vale ler o último parágrafo do manifesto, em que as centrais defendem que o “financiamento da previdência seja amplamente reformulado”. Em outras palavras, que se encontre alguém para pagar pelas nossas aposentadorias. O ministro Guedes já encontrou essa solução: a volta da CPMF, um imposto que todos pagam, inclusive os mais pobres. Está aí, pela enésima vez, um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos, no caso, dos trabalhadores sem carteira para os trabalhadores com carteira assinada.

O lobby é muito forte e a extensão da desoneração será aprovada. Será apenas mais um exemplo de como as elites extrativistas colonizam o orçamento para o seu próprio benefício. Depois, saímos correndo para encontrar R$ 30 bilhões para matar a fome dos descamisados. Descamisados estes que são roubados do outro lado sem perceber.

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