Quando li a chamada, pensei: “Uau, finalmente um lugar que verdadeiramente coloca em prática os preceitos de um planeta sustentável”. Esperava ler relatos de como os habitantes da ilha sobreviviam sem o fornecimento externo de comida, roupas e toda a lista de etceteras que fazem as delícias da civilização e são os responsáveis pela degradação ambiental. Saí de mãos abanando.
O máximo que tem são engenhocas que permitem, até onde entendi, sobreviver sem o fornecimento externo de eletricidade. Talvez o “autossustentável” do título da matéria se refira exclusivamente a isso. O problema é que o meio ambiente está se degradando não somente pela produção de eletricidade para climatizar adega (como aponta a reportagem), mas também, e principalmente, pela produção e transporte do vinho. Em outras palavras, produzir eletricidade para climatizar adega é a parte fácil, quero ver produzir todas os confortos da civilização de maneira autossustentável.
De fato, a reportagem não fala em uma ilha “autossuficiente”, em que um Robinson Crusoé sobrevive totalmente isolado da civilização. Isso sim, seria algo digno de nota. Veríamos, na prática, o mundo dos sonhos de Greta Thunberg. Mas não, é só uma ilha autossustentável, o que quer que isso signifique.
Para visitar a ilha é preciso desembolsar a bagatela de R$ 230 por pessoa. Até uma ilha autossustentável precisa do dinheiro corrente do mundo não sustentável para se sustentar. Talvez porque precise comprar materiais e contratar mão de obra que somente são possíveis de comprar e contratar em um mundo não sustentável. Não há mágica que se autossustente.