Fechada a janela do swing partidário, em que políticos trocam de parceiros de maneira consensual, os analistas da suruba política brasileira começam a fazer a análise do resultado. Uma reportagem e a coluna de Bruno Carazza, ambos no Valor, reconhecem a vitória de Bolsonaro nesse processo.
A reportagem não deixa de mostrar uma certa perplexidade, ao constatar que a suposta “perspectiva de poder”, dada pela liderança de Lula em todas as pesquisas, não foi suficiente para atrair políticos para o PT ou suas siglas subordinadas. Carazza, por sua vez, atribui o fracasso do PT nessa fase a um certo clima de “já ganhou” no partido, ao passo que Ciro Nogueira, o capitão do time de Bolsonaro, trabalhou com afinco para engordar a sua sigla e as legendas aliadas.
As eleições de 1989 e de 2018 mostraram que é possível ganhar um pleito presidencial sem o apoio de grandes federações partidárias. Em 2018, inclusive, Alckmin teve pífios 5% dos votos contando com o apoio de meio Congresso e um latifúndio de tempo de TV. Mas 2018, assim como 1989, foi um ano atípico. Com o sistema político sob os escombros da Lava-Jato, pouco importava o apoio de políticos. Agora, com a volta de uma certa “normalidade”, provavelmente teremos uma eleição padrão, com duas candidaturas opostas se digladiando e, eventualmente, uma terceira candidatura desafiante. E, nesse jogo padrão, o apoio político é importante para atingir a capilaridade necessária em uma campanha nacional.
Voltando à perplexidade da reportagem do Valor, é de se notar como o Centrão, liderado por Ciro e Valdemar, mantém-se firme ao lado de Bolsonaro, a ponto de atrair quadros para as eleições regionais. Claro que, em um eventual governo Lula, os dois não teriam restrição a mudar de barco. Mas o fato de manterem-se no barco bolsonarista para as eleições significa duas coisas: 1) Bolsonaro não é aquele candidato tóxico que se quer varrer para debaixo do tapete. Pelo contrário, seu apoio ainda vale alguma coisa; e 2) O Centrão tende a ter muito mais poder em um eventual segundo governo Bolsonaro do que em um terceiro governo Lula. A experiência mostra que Lula e o PT são hegemônicos, e os principais nacos do poder ficam sempre com o PT. Mensalão e petrolão foram a maneira encontrada pelo PT para ter uma base sem dividir o poder.