O pop star

– O que deu na sua cabeça de convidar a Daniela??? Ela tá em fim de carreira, não vai atrair ninguém!

– Eu sei, mas foi a única que topou fazer o show de graça, porque o Lula ia estar aqui.

– E por que não foi atrás da Anitta? Ela também não gosta do Bozo, podia dar uma colher de chá aqui.

Ela não gosta do Bozo mas gosta de dinheiro, e não tínhamos como pagar o cachê nem do carregador das malas dela.

– Ok, depois do fim do imposto sindical, o caixa não dá nem pra comprar pão com mortadela, quanto mais pra contratar a Anitta. Mas o barato acaba saindo caro. E agora, o que vamos fazer? A praça tá vazia, a Daniela vai ficar pau da vida.

– Já sei! Vamos atrasar o show para depois da fala do Lula. O cabra vem, faz o discurso, e depois o pessoal vai ficando para o show.

– É, acho que pode dar certo. Avisa a produção que a Daniela vai entrar só depois do Lula. Espero que ele não atrase muito.


Você achou essa versão do que aconteceu ontem na Praça Charles Miller uma viagem? Pois saiba que foi exatamente essa a versão contada pela “repórter” de uma página chamada “Tab UOL”.

Além da versão “Lula Pop Star”, a “reportagem” nos trás outros detalhes picantes do encontro:

– Havia muito mais diversidade na Praça Charles Miller do que na Avenida Paulista, o que foi ilustrado com a foto de um casal gay. Fico cá imaginando a “repórter” fazendo uma espécie de censo nos dois lugares, de modo a dar base para essa afirmação.

– José Dirceu estava no meio do público tirando selfies. Aproveitou para criticar o deputado Daniel Silveira por crimes contra a democracia. Pelo menos, a “repórter” lembra que Dirceu foi condenado no mensalão e na lava-jato, mas não perdeu a chance de registrar a fala de uma senhora: “ele é muito corajoso mesmo de estar aqui”. Obviamente, nem a “repórter” e nem mesmo a senhora alcançaram o sarcasmo dessas palavras.

– Quando Lula chegou, gritos de “lindo” e “maravilhoso” vinham da plateia. Eram algumas senhoras que estavam com cervejas geladas na mão. O detalhe da cerveja, claro, serve para fazer o contraste com as evangélicas da avenida Paulista, que não sabem curtir a vida.

– E o ponto alto da festa, que nenhum outro veículo nos reportou, em um lapso jornalístico imperdoável: Eduardo Suplicy subiu ao palco para dançar com o rapper Dexter e, no final, dar uma canja de “Blowing In The Wind”.

O discurso de Lula durou 15 minutos (detalhe importante que também nenhum outro veículo reportou). Para quem conhece Lula, 15 minutos é sinal de que ele estava ali tentando se livrar rapidamente do mico. Afinal, ele é candidato a presidente, não puxador de público para artista decadente. Lula já mandou avisar: da próxima vez, ou é a Anitta ou não contem com ele.

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