As agências de checagem já checaram: o autor do atentado nasceu no Brasil. Portanto, segundo as leis nacionais, é brasileiro.
Mas a Gutercheck também fez a sua checagem, buscando o sentido político das informações, e não a sua checagem literal e burra. Segundo a Gutercheck, o uso da palavra “brasileiro” para descrever o rapaz é inadequado e está prenhe de segundas intenções.
Imagine, por um momento, que o rapaz fosse negro. A manchete jamais seria “negro tenta matar a vice-presidente da Argentina”, apesar de a informação estar correta, segundo as agências de fact checking. O uso da palavra “negro”, ao chamar a atenção para uma característica secundária do criminoso, teria, obviamente, uma conotação política negativa.
Voltemos ao uso da palavra “brasileiro” para designar um cidadão que tem zero laços com o Brasil, a não ser a sua certidão de nascimento. É óbvia a conotação política do uso de uma característica secundária do criminoso: uma suposta violência política brasileira já estaria se espraiando por outros países da América Latina, em uma espécie de Internacional Fascista. ”Achar munição” na casa do brasileiro orna com o perfil. Só falta encontrarem posters de Hitler no quarto do rapaz.
Lembro das manifestações “pacíficas” lideradas pela esquerda, mas que acabavam em quebra-quebra. Os black-blocs, responsáveis pela violência, não tinham relação com os manifestantes. As reportagens os chamavam de “black blocs”, não de manifestantes. Hoje, pelo contrário, todos os brasileiros que não gostam da esquerda e, eventualmente, têm munição em casa, são potenciais assassinos, capazes da mais extrema violência política. Essa é a narrativa.