Gueto cultural

“Padres ultraconservadores”.

Guetos são lugares onde certas categorias de pessoas são isoladas do mundo “bom, belo e justo” porque possuem um defeito insanável. Hoje não existem mais guetos físicos, mas existem guetos culturais.

A forma de colocar uma parcela da população em um gueto é estigmatizá-la através do uso de expressões que causam repulsa. O uso da palavra “ultraconservador”, assim como “extrema-direita”, atende a esse objetivo. Não basta que os padres sejam conservadores. É preciso que sejam “ultraconservadores”, uma categoria desprezível, do mal mesmo. O suficiente para colocar esses padres e seus seguidores em uma espécie de gueto cultural, onde ficam as pessoas que não podem ter voz na sociedade.

Mas, fiquemos tranquilos. A reportagem nos informa que “a ala predominante da Igreja Católica” reagiu “aos acenos a atos antidemocráticos”, redigindo uma carta com 10 motivos para não votar em Bolsonaro. O curioso é que os fariseus da imprensa rasgam as vestes quando pastores ou “padres ultraconservadores” fazem campanha para Bolsonaro, mas acham absolutamente natural quando uma parcela da Igreja Católica (que nem sei se é tão dominante assim) faz campanha para Lula travestida em “defesa da democracia”.

A língua é o principal instrumento usado para naturalizar realidades. O uso do termo “ultraconservador” não é acidental.

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