O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez duro discurso, em Davos, sobre as mudanças climáticas. Mais um.
Mas, desta vez, o chefe da repartição pública global inovou. Guterres defende que as empresas de produção de petróleo devem ser responsabilizadas pelas mudanças climáticas, a exemplo das empresas de tabaco, pelo mal que causaram à humanidade.
Observando de longe, parece uma bobagem. Mas, se olharmos mais de perto, concluiremos que é, de fato, uma bobagem.
O paralelo é estapafúrdio em várias dimensões. Em primeiro lugar, com todo respeito à indústria tabagista, não faria muita diferença se os cigarros não existissem no mundo. Já o petróleo é a base da incrível diminuição de distâncias dentro das cidades e entre países, permitindo a construção das cidades tal qual as conhecemos hoje e todo o comércio internacional. Além disso, uma parte relevante da eletricidade produzida e de materiais plásticos usados para os mais diversos fins tem como base o petróleo. Podemos dizer que a civilização, tal qual a conhecemos hoje, seria impossível sem o petróleo.
Além disso, a responsabilidade da indústria tabagista é direta. Ou seja, o produto vendido pela indústria prejudica diretamente o fumante. No caso do petróleo, por outro lado, há um sem número de co-responsáveis: fabricantes de automóveis, usinas termoelétricas, fábricas em geral, casas com calefação, etc. Todos esses agentes deveriam também ser responsabilizados pela agressão ao meio-ambiente, não somente a indústria petrolífera. Na verdade, cada um de nós que anda de carro deveria pagar uma indenização.
Por fim, o que pretende o dirigente das nações desunidas? Uma ação de indenização, como ocorreu com a indústria tabagista? No limite, a depender do tamanho dessa indenização, a indústria de petróleo pode se tornar inviável. Então, quero ver os mandatários do mundo explicando para os seus eleitores os preços estratosféricos dos combustíveis ou, até mesmo, a sua completa falta. Talvez Guterres possa ajudar, enviando tropas da ONU para conter os protestos.
O secretário-geral da ONU lembra uma adolescente que faz muito sucesso com esse tipo de ideia. O único problema é que António Greterres já passou da idade de achar que discursos furibundos e descolados da realidade vão resolver alguma coisa.