Eu termino meu livro “Finanças do Lar” com a pergunta “Quanto custa um filho?” Manchete principal do Estadão de hoje responde: mais de R$1 milhão!
Como alguns de vocês já sabem, tenho sete filhos, e foi isso que me fez colocar em formato de livro minha experiência como pai de família assalariado, classe média, no sustento de uma família tão numerosa. O capítulo final, “quanto custa um filho?” serve justamente para discutir o non-sense da pergunta.
Em primeiro lugar, porque não faz sentido colocar o valor total, como se esse montante fosse gasto todo de uma vez. R$ 1 milhão é uma quantia que assusta qualquer um, ninguém tem essa dinheirama disponível para gastar. Apesar de sabermos que esse montante será gasto ao longo de anos, nosso cérebro paralisa diante dessa montanha de dinheiro. Trata-se de um compromisso gigantesco: e se eu não conseguir juntar tudo isso ao longo dos anos? Não por outro motivo, as construtoras e os vendedores de carro raramente vão dizer o preço final do bem. Preferem informar o valor da entrada e as prestações, que sempre são “suaves” e “cabem no bolso”. Por que, então, afinal, não fazer o mesmo com o custo de criar os filhos? E se eu dissesse que um filho custa a bagatela de R$ 150 por dia, o equivalente a um jantar para dois em um restaurante razoável? Isso é o equivalente a R$ 1 milhão por ano. Parece bem mais palatável, certo? E isso se considerarmos apenas os 18 anos da conta da reportagem. Se levarmos em conta que filhos são para sempre, essa conta se dilui muito mais.
O segundo ponto está relacionado com o primeiro: você vai adaptando a sua vida à existência do(s) filho(s). Se você mantém suas finanças sob controle, vai encontrando formas de lidar com esses gastos ao longo do tempo. Claro, todos temos os melhores projetos para nossos filhos, mas a vida vai colocando seus limites para os nossos sonhos. Isso vale para os filhos ou para qualquer outro projeto. Então, esses custos teóricos de criação de filhos pecam também pela capacidade que temos de nos adaptar ao longo da vida.
Por fim, e, de longe, o mais importante: estamos falando de seres humanos, a coisa mais importante nessa história toda. Por isso, não faz sentido falar em cifras, apesar de, efetivamente, filhos darem despesas. Na verdade, os filhos vão nos custar tudo o que temos, e somente o que temos.
Nunca fui proselitista em relação ao número de filhos. Ter sete, um ou mesmo zero filhos é (ou deveria ser) uma decisão restrita à sagrada intimidade do casal, e pais, parentes e amigos deveriam se abster de dar palpite. Essa decisão deve se basear em coisas como um projeto de vida, estrutura psicológica e, porque não dizer, condições financeiras. Mas este último não deveria ser, nem de longe, o critério principal.
Muito bom o texto. Ja vi gente fazer o contrario, como calcular quanto voce vai gastar na vida toda com sua xicara de cafezinho de todo dia. Eu ignorava, mas essas pessoas sempre pensavam em parar de tomar cafe assim que viam o numero total.
Verdade! rsrsrs