A liberdade de expressão é um dos pilares da democracia moderna, e o debate sobre a tolerância à livre expressão de ideias não democráticas é um dos tópicos mais quentes do debate sobre o tema.
No entanto, a coisa muda de figura quando uma democracia está em guerra. Lembro de um filme, “Adeus a Manzanar” (gostaria de assistir de novo), que conta a história de Manzanar, um campo de confinamento de japoneses em território americano durante a 2a Guerra. Os descendentes de japoneses, cidadãos americanos, foram despidos de seus direitos civis pelo simples fato de terem alguma ligação com o então inimigo. No caso, não se tratava nem de liberdade de expressão, mas de liberdade de movimento, o que é ainda pior.
Essa lembrança me veio a propósito da proibição do governo israelense de manifestações pró-Palestina em Israel. Alguém poderia pensar que se trata de uma contradição um país que se diz democrático proibir a livre manifestação do pensamento. Ocorre que Israel está em guerra, e durante a guerra, as leis são outras. Que o digam os japoneses de Manzanar. Não estou aqui dizendo que está certo ou errado, estou apenas chamando a atenção para a diferença entre tempos de paz e tempos de guerra.
Israel é a única democracia plena do Oriente Médio. Lá, em tempos normais, todos podem postar o que quiserem em suas redes sociais sem serem molestados por isso. O mesmo não se pode dizer de seus vizinhos árabes. Em tempos de guerra, no entanto, Israel se reserva o direito de não permitir o fomento de animosidades contra si mesmo, de pessoas que usam as prerrogativas democráticas para levantar a bandeira do inimigo. Na guerra, o inimigo é mantido fora do país, não dentro. Não por outro motivo, o porta-voz da polícia israelense sugeriu encher um ônibus para Gaza com todos os apoiadores do Hamas. E que fique claro que dizer que o Hamas tinha motivo para fazer o que fez, no contexto e no lugar em que é dito (dentro de Israel), é o mesmo que apoiar o Hamas. A democracia, durante a guerra, tem suas próprias regras.