SUS ou não SUS? Eis a questão

Já faz alguns dias que vem circulando essa notícia, hoje reproduzida novamente pelo Estadão. Ninguém menos que Bill Gates escreveu um artigo elogiando o SUS brasileiro. Claro que esse elogio, assim, do nada, está sendo usado por aqueles que defendem a superioridade do sistema de assistência estatal à saúde, mesmo que esse elogio tenha vindo de um bilionário imperialista estadunidense.

Como sempre, nem tudo parece o que é. Fui ler o artigo no original. Antes de comentá-lo, é preciso dizer que um elogio de Bill Gates tem peso. Através de suas atividades filantrópicas, o fundador da Microsoft tem uma atuação muito diversificada em saúde em países de terceiro mundo. Gates tem, assim, uma visão muito ampla do que funciona e do que não funciona nesse campo. Portanto, o elogio ao SUS tem sim um peso.

Agora, vamos ao artigo em si. O que Gates elogia é o trabalho de prevenção exercido por centenas de milhares de agentes de saúde Brasil afora. Ele não entra no mérito do atendimento à doença em si. Muitos criticaram Gates, dizendo para que ele tentasse marcar uma consulta ou um exame pelo SUS. Mas ele não entra nesse mérito. O artigo fala somente sobre o trabalho de prevenção, que realmente vem dando resultados muito bons, se comparados aos de países de mesma renda per capita.

Aparentemente, o SUS funciona muito bem nas duas pontas do espectro do atendimento à saúde: prevenção (o que inclui as campanhas de vacinação) e atendimentos complexos. O problema está naquele grande, imenso meio de campo do atendimento à saúde básica, quando a pessoa está doente. Aí, é segurar na mão de Deus. Não, Gates não elogiou essa parte do sistema, mesmo porque não era o foco do seu artigo.

Como acontece frequentemente, a manchete se presta a todo tipo de manipulação, e com o “elogio” de Gates não foi diferente. O “bilionário estadunidense” não elogiou o SUS como um todo, mas somente o seu bom trabalho de prevenção. Como sempre, a verdade é desagradável para quem se deixa guiar somente por ideologia. No caso, o artigo de Gates desagrada a quem acha que o SUS não presta de maneira alguma, e também não serve como aval para aqueles que acham que a assistência estatal é a solução de todos os nossos problemas.

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