Às vésperas do 1o turno de 2018, uma manifestação #elenão havia sido convocada para o Largo da Batata, aqui em São Paulo. Um amigo, muito inteligente e a quem prezo muito, tentava me convencer a comparecer ao tal ato. O raciocínio era o seguinte: quanto mais gente fosse, mais ficaria claro que havia uma rejeição grande ao nome de Bolsonaro. Portanto, Alckmin tinha mais chance de vencer o PT no 2o turno, e haveria uma migração de votos de Bolsonaro para Alckmin. Minha resposta foi a seguinte: essa é a eleição anti-PT. Não é engordando uma manifestação claramente do PT que o Alckmin vai ganhar alguma coisa. Alckmin iria perder a eleição porque tinha escolhido o adversário errado: estava atacando Bolsonaro, quando devia estar atacando o PT. Não seria minha presença em uma manifestação de revolucionários da Vila Madalena que iria mudar isso.
Lembrei desse diálogo enquanto lia a entrevista, no Valor, do prefeito reeleito de Araraquara, Edinho Silva, um dos raros casos de sucesso do PT nessas eleições. Ainda mais quando se considera que foi tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma Rousseff em 2014.
Edinho propõe uma “frente” de partidos de esquerda, dialogando com partidos de centro, para “recolocar o Brasil no caminho da democracia”. Uma espécie de reedição do #elenão. São tantos embustes em um pensamento só que fica difícil até argumentar.
Pra começo de conversa, “recolocar o Brasil no caminho da democracia” não deixa de ser uma frase esquisita para um partido que saúda a “democracia” da Venezuela e tem em Cuba um modelo de sociedade.
Em segundo lugar, Edinho quer fazer aliança com partidos que, pelo menos até o momento, o PT considera como golpistas. Como “recolocar o Brasil no caminho da democracia” aliado a partidos “golpistas”? Uma contradição em termos. Na entrevista, Edinho ensaia um mea culpa a respeito da corrupção do partido, mas não diz uma mísera palavra que poderia servir de ponte para rever esse posicionamento.
Além disso, o PT cansou de bater nos chamados “partidos de centro” enquanto estava no poder. Todos eram fascistas. De modo que fica difícil entender uma aliança com fascistas para desalojar outro fascista do poder.
Por fim, é difícil acreditar na promessa de uma “frente” com o PT. Não orna com o desejo hegemônico do partido de Lula. Poderia enganar há 20 anos. Hoje, todo mundo conhece a natureza do escorpião. Em determinada altura da entrevista, Edinho crítica a “acidez” das críticas de Ciro Gomes. Esse foi um que sentiu na pele o que significa acreditar na boas intenções de Lula.
E, por falar em Lula, o final coloca por terra toda a “sensatez” que um dos mais “conscientes” quadros do PT procurou demonstrar ao longo de toda a entrevista. Ao colocar Lula como seu candidato preferencial em 2022, Edinho implode qualquer tentativa de aproximação com quem quer que seja. Está aí, nessa resposta, o PT destilado de todas as suas tentativas de parecer um partido disposto ao diálogo. Não. Qualquer iniciativa para enfrentar Bolsonaro em 2022 não pode incluir uma aliança com o PT.