No início da década passada, fui ao Japão algumas vezes profissionalmente. Uma coisa que me impressionou foi ver crianças pequenas (estimo com 7/8 anos de idade) andando desacompanhadas no metrô de Tóquio. Uniformizadas, estavam se dirigindo à escola. Anexei algumas fotos que eu mesmo tirei. Lembrei disso ao ler a notícia de que a Netflix vai reproduzir um reality show japonês que trata justamente desse assunto, a autonomia das crianças japonesas.
Em contraste, no mesmo jornal, reportagem sobre a “antiga” região da cracolândia, no centro de São Paulo, colhe depoimentos de moradores que reconquistaram o espaço. Um deles conta que agora pode deixar seu filho de 11 anos ir sozinho até a escola, que fica a UMA QUADRA da sua casa. Antes, ele precisava acompanhá-lo.
A surpreendente autonomia das crianças japonesas é uma questão cultural sim. Mas não se pode abstrair do fato de que vivem em uma sociedade muito mais segura, em que se espera que as crianças serão cuidadas e não abusadas pelos estranhos. Eu, particularmente, procurei ensinar meus filhos desde cedo a andarem sozinhos pela rua e a usarem o transporte público. Mas isso quando já estavam entrando na adolescência, não quando ainda eram crianças. Penso que deve haver um equilíbrio entre a neura da segurança (que é um problema real) e o dever de criar adultos autônomos. Em uma sociedade como a brasileira, trata-se de um equilíbrio difícil, mas necessário.