O estadista de que precisamos

“Separe a economia da política.” João Doria, hoje, no Estadão.

Uma visão tecnocrática da economia, como se as decisões de alocação de recursos públicos pudessem ser feitas por uma espécie de Conselho de Sábios.

Doria é o que temos para o momento, mas está longe do estadista de que precisamos.

Uma era que se encerra

Começo a ler aqui e acolá a “matemática da candidatura Lula”.

Consiste em contar o prazo para que Lula torne-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Basicamente, em quanto tempo o TRF4 condena o nine em 2a instância.

A torcida está começando a ficar preocupada. O tempo está passando e a partida vai ficando no zero a zero. E o empate é deles.

Eu não estou preocupado.

Na verdade, estou torcendo para que Lula possa ser candidato.

Para que possa concorrer e ser derrotado.

Lula, se for candidato, será derrotado. E será derrotado por qualquer candidato que vá com ele ao 2o turno. Se é que ele vai ao 2o turno.

Poderia basear minha convicção em sua alta rejeição. Poderia basear minha convicção na primeira condenação de Moro, que virá (já imaginaram um presidente condenado? Só no Brasil). Poderia basear minha convicção, enfim, no deplorável estado em que sua sucessora deixou o país.

Mas não. Há um argumento mais forte.

O pêndulo da História.

Assim como Lula ganhou porque havia chegado a sua hora, Lula perderá porque o tempo do PT, e do pensamento que representa, acabou.

O pêndulo da História já havia se movido em 2013, quando milhões de pessoas foram às ruas. A dificuldade de definir qual foi a pauta de reivindicações daqueles protestos só confirma a “malaise” que caracteriza a mudança dos tempos.

Dilma só conseguiu atrasar o relógio da História porque usou dos mais baixos artifícios nas eleições. Seu marqueteiro está preso, o que diz muito. E o seu impeachment foi somente a confirmação de que ninguém consegue parar o pêndulo da História.

Torço sinceramente para que Lula possa ser candidato. A sua derrota será o fecho de ouro de uma era que se encerra.

O próximo presidente da República

Nenhum nome da lista do Fachin tem condições de chegar à presidência da república em 2018.

Tomando essa premissa como verdadeira, o próximo presidente está entre os seguintes nomes (em ordem alfabética):

Ciro Gomes

Henrique Meirelles

Jair Bolsonaro

João Doria

Joaquim Barbosa

Marina Silva

Ronaldo Caiado

Já vai se acostumando com a ideia.

O sentimento anti-PT

Ambulante no trem da CPTM.

Não entendi direito porque ele começou uma conversa com uma passageira (depois de oferecer amendoim bolinha e twix “1 por 2, 2 por 3”). Talvez porque ela estivesse com algum símbolo do PT, mas não consegui ver.

O papo era o seguinte:

“Foge desse pessoal do PT. Conheço bem. PT, PCdoB, CUT. Você vira massa de manobra. Vai lá na manifestação, apanha da polícia, enquanto o Lula tá lá no triplex dele em São Bernardo. Eu já disse pra minha mulher, não quero bolsa de nada, prefiro trabalhar, ganhar meu próprio dinheiro. Já fui militante do PT, trabalhei em 4 eleições, conheço esse pessoal. Mataram o Celso Daniel. Foge.”

Ambulante no trem da CPTM.

Alguma dúvida de porque Doria vai ser presidente do Brasil?

É feio roubar?

Estou lendo Anatomia de um desastre, dos jornalistas Cláudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira, contando a história da maior recessão brasileira de todos os tempos.

Logo no início tem um capítulo chamado “Momento mágico”, em que os autores contam o ápice do governo Lula, o ano de 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, e tudo parecia ser possível. Mal se sabia que ali estava se plantando a semente da maior recessão da história.

Mas não é este o ponto agora. Chamou-me a atenção outro aspecto levantado pelos jornalistas: o fato de Lula usar recorrentemente a expressão “momento mágico” em seus discursos. Lula é um grande comunicador, e sabe o poder das palavras, dos slogans. Obviamente, devem se basear em fatos, caso contrário não se sustentam. E era um fato que o Brasil estava crescendo, e a renda dos trabalhadores estava aumentando. Mas Lula também sabia que precisava capitalizar em cima daquilo, e usou e abusou do slogan “momento mágico”, embalando os brasileiros em um clima de ufanismo, que se somava à melhora econômica. Não bastava a renda maior. Era preciso que o brasileiro soubesse quem era responsável por aquilo. E a repetição do slogan “momento mágico” ajudava a criar essa aura de “podemos tudo”, que persiste até hoje. É essa a imagem que o brasileiro guarda do governo Lula, com nostalgia.

O contraste com o governo atual é gritante. Temer é a antítese de Lula em termos de comunicação pessoal e, além disso, a comunicação do governo é inexistente. Fosse Lula, estaria martelando na cabeça do povo a “herança maldita” que recebeu. Por muito menos, fez isso com FHC do início ao fim do seu mandato.

Qual o único político que tem feito isso com maestria? Sim, ele, João Doria. O único tema nacional que ele toca é lembrar a todos que o PT é uma quadrilha que pilhou o Brasil, e que Lula é o chefe da quadrilha, sem vergonha e cara de pau. Não importa se as pessoas sabem disso ou não, se concordam ou não. Ele repete, repete e repete. É seu slogan. Aquele que vai usar na sua campanha presidencial.

Nada é mais importante, nada mexe tanto com o imaginário da população, nada desmonta de maneira mais humilhante o discurso de Lula, a ponto de obrigar militantes do PT a defender uma certa leniência moral, como se roubar fosse algo relativo, justificável em alguns casos (para quem não sabe sobre o que estou falando, leia o artigo do Bresser Pereira na Folha hoje). Lula ainda não respondeu pessoalmente. Ainda. Quando o fizer, saiba que Doria ganhou.

Lembro da campanha para governador de 1998, quando Covas enfrentou Maluf no 2o turno. Covas espalhou outdoors pela cidade, com a foto de um menininho, e a frase: “Papai, é feio roubar?”. Ganhou a eleição.

Ouçam Fernando Gabeira

Aos amigos do mercado financeiro, que acham que a coisa não vai explodir porque “2018 está aí”, transcrevo um trecho de Fernando Gabeira, hoje, no Estadão:

“Os que esperam 2018 deveriam considerar apenas como ele será muito pior se nada for feito. Com que cara o Brasil chegará lá, dirigido por um governo corrupto, incompetente, politicamente nulo? […] Continuar com esse governo vai desintegrar o país.”

O ano do outsider

As eleições de 2018 serão bem diferentes das últimas 6, em que houve a polarização entre PT e PSDB, com a presença de uma terceira força, e um bando de nanicos. Em 2018, vários pesos-pesados da política disputarão, por partidos diversos. Só do PSDB teremos 4 candidatos: Alckmin, Aécio, Serra e agora Álvaro Dias, cada um por um partido. E ainda teremos o candidato do PMDB, que não apresenta candidato desde 1994, com Quércia.

Isso vai acontecer porque o país chegará em frangalhos em 2018, sem uma força política dominante, papel exercido pelo PT nas últimas 3 eleições. Exatamente como em 1990, o ano em que um outsider de um partido teórico venceu.