Evo e as políticas “distributivistas”

Artigo de opinião traduzido do Washington Post.

O articulista, Ishaan Tharoor, compara a Bolívia com Argentina e Equador, e afirma que, ao contrário desses dois últimos, que adotaram políticas liberais e se estreparam, a Bolívia adotou políticas “distributivas” e, por isso, diminuiu a pobreza com sucesso.

Agora, eu pergunto: como um cara desses tem espaço em um jornal como o Washington Post? O sujeito se põe a escrever sobre a América do Sul e repete coisas sem nexo, que encaixam na narrativa pré-estabelecida de seu gabinete a 10 mil km de distância. Só faltou dizer que o Brasil de Lula teve sucesso com suas “políticas distributivas”, para depois sair dos trilhos com a política liberal de Temer/Bolsonaro. Certamente ele esqueceu esse exemplo, senão estaria no artigo.

O articulista convenientemente ignora que o Chile também diminuiu a pobreza extrema de 68% para 13% entre 1990 e 2016 (dados de reportagem do Estadão) adotando políticas liberais.

O articulista também convenientemente esquece que Argentina e Equador foram comandados por Cristina Kirchner e Rafael Corrêa, dois mandatários populistas bolivarianos distributivistas, até tão recentemente quanto 2016. Atribuir os problemas atuais às políticas liberais dos governos que os sucederam é, para dizer o mínimo, desinformação. E, para dizer o máximo, má fé.

A Bolívia se destaca dos outros governos bolivarianos porque, assim como Lula, Evo foi muito pragmático: manteve as bases fiscais do seu governo intactas, o que permitiu controlar a inflação e fazer políticas distributivas para inglês, quer dizer, para boliviano ver. Não à toa, Evo foi o único presidente do “eixo do mal” a prestigiar a posse de Bolsonaro. Ele foi esperto o suficiente para distinguir o discurso babaca bolivariano daquilo que realmente funciona na economia.

Se Evo estiver lendo esse artigo, certamente estará rolando no chão de rir, ao constatar que pundits imperialistas caíram na lábia de um índio boliviano.

Evo Morales golpista

Vamos deixar claro: foi Evo Morales que tentou mais um golpe na Bolívia. O exército só disse “enough is enough”.

Evo passou uma legislação em 2009 permitindo somente dois mandatos consecutivos. Só havia duas leituras possíveis: ou ele poderia concorrer somente mais uma vez (como fez FHC aqui), ou não poderia concorrer novamente, dado que a legislação sob a qual ele se elegeu não permitia reeleição. O tribunal constitucional (controlado obviamente por Evo) inventou uma terceira interpretação: a nova legislação inaugurava uma nova era, então Evo poderia concorrer mais duas vezes, o que de fato ocorreu.

Em 2016, já ao final de seu 3o mandato, Evo patrocinou um referendo para aprovar reeleições infinitas. Perdeu, mas o tribunal constitucional cancelou o resultado do referendo, dizendo que impedir a reeleição era um “atentado contra os direitos humanos”. Como se vê, não é só o nosso STF que é criativo.

Com o direito achado na rua de concorrer mais uma vez, Evo foi para a sua 4a eleição consecutiva. A contagem de votos foi interrompida quando totalizavam 83% dos votos apurados e indicavam um 2o turno, e foram retomados quando totalizavam 95% dos votos, indicando vitória de Evo no 1o turno. Relatório da OEA afirma que é “estatisticamente impossível” que isso tenha acontecido. Houve fraude, em uma eleição da qual Evo nem tinha o direito de participar.

Evo é o golpista. Que fique muito claro.

Qual a diferença entre Evo e Maduro?

Por que Evo aceitou renunciar após somente alguns dias de protestos, enquanto Maduro continua firme e forte à frente do governo venezuelano?

A resposta parece simples: Evo perdeu o apoio do exército, enquanto Maduro não só tem o apoio das Forças Armadas como controla forças paramilitares. Estas são até piores, pela sua capilaridade.

Evo está pagando o preço de não ter montado um Estado policial. A tecnologia, típica de Estados totalitários, foi importada de Cuba, e tem como objetivo tocar o terror naqueles que são contra o regime. Precisa ter coragem para se juntar a manifestações contra o governo, sabendo que seu vizinho pode denunciá-lo à polícia do regime.

Maduro não seguirá o rumo de Evo, a não ser que a Venezuela receba uma “ajudinha” externa.