Conhecimento de causa

É, sem dúvida, muito grave o que está acontecendo no INEP, às vésperas do ENEM. Isso traz muita insegurança com relação a um dos maiores exames vestibulares do mundo.

Muitos especialistas têm se manifestado. O maior deles é o ex-ministro da educação, Fernando Haddad.

Haddad não tem experiência só de ouvir dizer não. Ele era o ministro da educação nas duas únicas ocasiões conhecidas em que houve vazamento da prova, e que levaram ao cancelamento do certame: um geral em 2009 e outro circunscrito a estudantes de uma escola, em 2011. Taí alguém que pode falar com propriedade sobre segurança da prova.

Quando Haddad se candidatou à prefeitura de São Paulo em 2012, pensei com meus botões: não tem a mínima chance, essas falhas administrativas do ENEM colaram nele, não vamos entregar a direção da cidade a um incompetente desse quilate. Bem, não só o fizemos, como fomos capazes, os brasileiros, de colocar o incompetente no 2o turno das eleições presidenciais 6 anos depois.

Não gosto de “whataboutismo”, vício de pensamento que tem sua mais típica expressão no “e o PT?”, para justificar o injustificável. No caso, não há desculpa para o que está acontecendo no INEP. Mas Haddad certamente não é a pessoa que pode sair por aí dando lição de moral sobre segurança da prova.

Notícias boas e verdadeiras

Lauro Jardim nos faz saber que Haddad se reuniu com alguns empresários em São Paulo. Empresário, como sabemos, é um bicho pragmático. Pode até ter suas opiniões, mas prepara seus negócios para qualquer cenário. E um cenário possível é a volta de Lula ao poder.

Alguém anotou as “contribuições” de Haddad para o esclarecimento dos empresários e repassou-os ao jornalista.

Comento cada uma a seguir.

1) “O PT não é um partido de esquerda, mas de centro-esquerda.

”O PT quer ocupar o lugar do “centro”, aquele que não faz mal a ninguém. De fato, visto do PSTU, o PT é um partido de centro-esquerda. O problema é que, visto do centro, o PT é de esquerda mesmo.

2) “A culpa é da Dilma”

Já escrevi aqui que Dilma colheu o que Lula plantou. Na verdade, deu azar, porque a farra das commodities foi acabar justo no seu governo. Sem dinheiro para sustentar os gastos mastodônticos patrocinados desde o governo Lula, foi a pique. Mas ela não está sozinha nessa. Aliás, vemos que Haddad concorda com o Ciro.

3) “A grande vingança do Lula será fazer o Brasil crescer novamente”

A fala é uma bobagem, mas é interessante o tema da “vingança” aparecer na conversa. Há uma sensação ruim de que Lula de volta ao poder não deixará pedra sobre pedra. Mas pode ser só uma sensação ruim.

4) “Lula não sabia da corrupção na Petrobras.”

O esquema era 1/3 para o PT, 1/3 para o PMDB e 1/3 para o PP. Mas Lula não sabia de nada.

5) “Autonomia do BC, não”

Finalmente uma verdade. Parece aquela piada: “trago notícias boas e notícias verdadeiras. O problema é que as boas não são verdadeiras e as verdadeiras não são boas”.

É dura a vida do Haddad.

Lula será o candidato

A mando de Lula, Haddad se auto-anunciou como pré-candidato do PT à presidência nas eleições de 2022.

Como interpretar esse movimento?

A primeira coisa que me chamou a atenção foi o fato de que o anúncio foi feito por Haddad e não pela direção do partido. Em qualquer partido sem dono, há uma briga de foice pela legenda entre vários pretendentes. Não no PT. O PT tem dono.

O segundo aspecto que me chamou a atenção foi o silêncio de Lula. Foi Haddad a fazer o anúncio, citando Lula. Por que não o próprio Lula a ungir o seu pré-candidato? Aliás, o silêncio de Lula tem sido ensurdecedor desde a sua saída da prisão. Tínhamos mais notícias de Lula durante a sua estadia em Curitiba do que depois.

Uma pista para esse silêncio pode ser encontrada na notinha da Coluna do Estadão, encomendada por “ministros do Supremo”. Segunda a nota, o anúncio da pré-candidatura de Haddad “baixa a fervura” do julgamento a respeito da parcialidade de Moro, o que abriria as portas para a anulação da sentença e, consequentemente, a purificação da ficha de Lula. Em outras palavras, o julgamento no Supremo seria absolutamente técnico, pois o seu viés político (permitir a candidatura de Lula) estaria mitigado pelo anúncio de uma alternativa “viável”.

Bem, todos esses movimentos apontam para uma candidatura Lula em 2022. Seu silêncio é o da raposa que sabe que não ganha nada ficando ao sol dois anos antes da eleição. Ele não precisa trabalhar para ser conhecido, então não precisa começar a fazer campanha já. Aliás, a votação de Andrade em 2018 mostra que Lula consegue uma votação expressiva mesmo não aparecendo na cédula.

Como nota cômica, a matéria traz o depoimento de Boulos, reclamando que o PT deveria “discutir projetos” antes de “discutir nomes”. O sujeito acha realmente que existem chances de o PT apoiá-lo em 2022. Não consigo parar de rir.

O candidato do PT em 2022 será Lula.

PS.: há uma outra hipótese para o sumiço de Lula: ele estaria doente e, de fato, a unção de Haddad representaria uma passagem de bastão dentro do partido. Desse modo, o julgamento no STF serviria para dar um lustro na biografia do condenado, mais do que abrir as portas das eleições. É só uma hipótese menos provável.

As prerrogativas do PT

O PT continua em sua busca por um candidato que carregue o peso da sigla na disputa pela prefeitura de São Paulo. Na falta de Haddad, Lula defende uma “novidade”. Hoje, reportagem do Estadão traz a lista de potenciais nomes novos.

Ao lado de figurinhas carimbadas, como Juca Kfouri e Mário Sérgio Cortella, chama a atenção o nome do advogado Marco Aurélio de Carvalho, ninguém mais, ninguém menos, que o coordenador do grupo Prerrogativas. Sim, aquele grupo de WhatsApp que defende as prerrogativas dos corruptos de terem um julgamento ad aeternum, chamando isso de Estado Democrático de Direito. Por que não estou surpreso?

Vai FHC!!!

Extraído da página do economista Sergio Almeida:

Vocês:

“Mas o PT deveria admitir os erros na economia.”

“O PT tem em Haddad uma esquerda com discurso mais moderno e moderado.”

“Economistas ‘market-friendly’, como Marcos Lisboa, comporiam a equipe econômica.”

O PT:

A ingenuidade de FHC

“… em detrimento da relação de respeito mútuo que sempre mantivemos.

”Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkdksjdjjdjqkakakkkkskkkskmkskmmmkkkmdndjndj

Desculpem-me, ainda estou recuperando o fôlego.

Quando FHC vai aprender de uma vez por todas que não há respeito mútuo quando se trata do PT?

Ok, nunca.

Ambiente de conflito permanente

Hoje condenei Haddad por não ter telefonado para cumprimentar Bolsonaro pela sua eleição.

Deve ter ouvido as críticas, e preferiu mandar um tuite. Bela iniciativa, ainda que com um certo atraso.

Parece claro que preferiu um tuite a um telefonema para que a coisa ficasse pública, e não restrita aos dois, sujeita às versões de ambos os lados. Um sinal de desconfiança, plenamente justificável, dado o clima geral.

O tuite de Haddad foi simpático e respeitoso, estendendo uma bandeira branca. Muito distante do tom entre choroso e belicoso da véspera.

O que fez Bolsonaro com a bandeira estendida? Desprezou-a. A frase “Realmente o Brasil merece o melhor” não precisa de complemento. Para bom entendedor, pingo é letra: o melhor sou eu.

Precisava disso? A campanha não acabou? Não poderia simplesmente parar no agradecimento? Ou complementar com algo do tipo “O Brasil espera o melhor de todos nós”?, uma frase que chamaria o PT à sua responsabilidade de ser uma oposição leal?

Ok, o PT já fez coisa muito pior e não é um partido confiável. Mas o gesto de Haddad não seguiu a linha do partido e a resposta de Bolsonaro só serviu para provar que estavam certos aqueles que aconselharam Haddad a não mandar mensagem alguma, que certamente existiram.

Bolsonaro perdeu a chance de ajudar a distender o ambiente. Talvez não lhe interesse um ambiente sem animosidades, talvez somente se sinta à vontade em um ambiente de conflito permanente. Assim como o PT.

A natureza do escorpião

Ontem, tanto Márcio França quanto Paulo Skaf ligaram para João Doria para cumprimenta-lo pela vitória. Não tenho dúvida de que Doria teria feito o mesmo caso o vencedor do pleito fosse qualquer um dos outros dois.

Aécio ligou para Dilma em 2014, assim como todos os candidatos derrotados nas últimas eleições presidenciais ligaram para os vitoriosos.

O derrotado parabenizar o vitorioso faz parte da liturgia de um processo eleitoral democrático. É sinal de uma oposição que pode ser forte, mas não será desleal.

Haddad não ligou ontem para Bolsonaro. Segundo ele, “porque não sabia como sua ligação seria recebida”. Parece coisa de adolescente, mas é só o cacoete de um partido hegemônico, que não aceita a derrota.

Se Bolsonaro iria ligar para Haddad em caso de derrota? A julgar pelo seu discurso da fraude nas urnas, provavelmente não. Mas isso seria apenas a confirmação de sua imagem anti-democrática.

Haddad, ao contrário, ganhou muitos votos de última hora por representar pessoalmente a imagem da “resistência democrática” ao avanço autoritário. Muitos votaram em Haddad apesar do PT, pois o seu bom-mocismo e seu ar intelectual sempre lhe deram esse ar meio PSDB.

Haddad, ao não parabenizar Bolsonaro, perdeu a chance de ouro de distender o ambiente e se mostrar um verdadeiro democrata. Perdeu a chance de se tornar um líder relevante da oposição. Vai desaparecer no meio da gritaria antidemocrática do PT.

Haddad demonstrou ontem a verdade da velha máxima, a de que o escorpião não perde a sua natureza.