Mais uma pra nossa conta

Cansei de tentar explicar para amigos corinthianos, entusiasmados com a ideia de, finalmente, ter um estádio próprio, que aquilo estava sendo construído com o dinheiro deles. Não!, diziam, não tem um tostão público, vai ser tudo pago pelo clube, com o faturamento adicional proporcionado pelo estádio.

Bem, o estádio foi pago pela Odebrecht e pelo BNDES, em empréstimo operado pela Caixa. Os dois viram apenas uma fração do dinheiro de volta até o momento.

A Odebrecht seria paga com CIDs, certificados emitidos pela prefeitura que dão direito a isenção fiscal no município. A empresa poderia negociar esses CIDs no mercado para reembolsar-se. Para a Odebrecht, obviamente, tratava-se de uma enrascada, pois a empresa trabalha com dinheiro, não com CIDs. Mas negar um pedido pessoal do “amigo do meu pai” não pegava bem. Além disso, havia muitas outras frentes de negócios com o Estado brasileiro onde a empresa poderia se “ressarcir”. Não sei onde foi parar essa história dos CIDs, mas o fato é que a Odebrecht está cobrando a fatura do clube. Há exato um mês, o inefável Andrés Sanchez veio a público afirmar que haviam chegado a um acordo com a empresa, faltava só assinar o contrato. Acho que estão esperando o Bessias chegar com o papel.

Agora, a Caixa resolveu partir pras vias de fato, provavelmente porque a nova diretoria do banco, calejada no mercado financeiro, deve ter percebido que a diretoria do clube é uma versão menos séria do personagem Rolando Léro.

No final disso tudo, seja por meio de CIDs, seja por meio de corrupção em outros contratos, seja por meio do calote pura e simples, o estádio do Corinthians foi feito com o meu, o seu, o nosso. Os partidos de esquerda fãs de uma “auditoria da dívida” podem contabilizar mais essa.

A conta chegou

Ainda lembro das discussões homéricas que tive sobre o financiamento para a construção do Itaquerão. Alguns amigos defendiam que as CIDs, emitidas pela prefeitura da cidade, não eram investimento público, mas apenas incentivo para o desenvolvimento da Zona Leste da capital. O seja, o que seria gerado de impostos mais que compensaria a renúncia fiscal. Outros defendiam que o estádio era autossustentável, que os fãs da maior torcida de São Paulo fariam fila na entrada do museu do clube, pagando R$50 a entrada, como os fãs do Barcelona fazem.

A triste realidade é que a condição sócio-econômica do torcedor médio brasileiro não viabiliza a construção de estádios somente para o futebol. O ticket médio que o torcedor pode pagar não justifica a construção de estádios.

Há somente duas soluções. A primeira foi adotada pelo Palmeiras: uma empresa explora o estádio para eventos e, de vez em quando, cede o espaço para jogos de futebol. A segunda é o Tesouro bancar a construção do estádio a fundo perdido, como um patrimônio público. A construção do Itaquerão tentou explorar uma terceira via: a construção com dinheiro público, mas com utilização privada. O Corinthians faz de conta que está pagando, e o poder público faz de conta que está recebendo.

A Caixa, ao acionar a Odebrecht no caso do Itaquerão, decidiu parar de fazer de conta.

Governo simbólico

Da página de Eduardo Affonso

Há quem a critique, mas eu acho sensacional o simbolismo da posse simbólica de Lula para um quinto mandato consecutivo do PT, depois de amanhã, em Curitiba.

Tomara que os petistas não se contentem em gritar um simbólico “Viva o presidente!” na calçada em frente ao prédio (concreto) da Polícia Federal, e nomeiem também um ministério simbólico para, simbolicamente, governar o país por simbólicos quatro anos.

Lamentável é que tenham demorado tanto para ter essa ideia. Isso deveria ter sido feito já em 2003. Um governo simbólico, naquela ocasião, teria indicado diretores simbólicos para a Petrobras e saqueado apenas simbolicamente a empresa.

Teríamos tido um mensalão simbólico e só o simbolismo do triplex e do sítio. O calote dos países bolivarianos teria sido simbólico, simbólica a quadrilha formada por Dirceu, Genoíno, Delúbio e cia.

Friboi e Odebrecht não passariam de símbolos. Toffoli e Lewandowski seriam ministros simbólicos do Simbólico Tribunal Federal.

A simbolicíssima Dilma faria uma faxina simbólica varrendo simbolicamente para debaixo de um simbólico tapete os malfeitos simbólicos dos seus simbólicos ministros. Simbólicas pedaladas culminariam num simbolicamente fatiado impítimã e permaneceria intacta a simbologia do golpe.

Após dezesseis anos de puro simbolismo, o presidente que efetivamente toma posse nesta terça receberia um país com menos desemprego, menos ódio, menos doutrinação, menos violência.

Que a posse simbólica de Lula seja um símbolo de que o Brasil enfim achou o rumo e que ninguém – nem o PT – consegue errar o tempo todo.

Muito sucesso em seu governo simbólico, presidente Lula!

(Questão de ordem: Em caso de indulto ou uma marcoaurelice qualquer, o Haddad assume simbolicamente o cargo?)

O preço de um calote

Levaremos ao menos uma geração para pagar a conta deixada pelos governos do PT.

Por Felippe Hermes

Sobre o calote da Venezuela anunciado hoje.

Entre 2009 e 2014 o governo brasileiro emprestou R$ 55 bilhões de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador para que empresas brasileiras pudessem fazer obras no exterior. Cerca de R$ 72 em cada R$ 100 deste valor foi destinado a uma empresa: Odebrecht.

Em maio de 2014, o presidente do banco foi ao congresso explicar que o Brasil não estava ‘emprestando dinheiro para outros países’, mas sim para empresas.

Em outubro do mesmo ano, já nas eleições, um documento vazado do próprio BNDES (vazado pois todos os contratos e dados do banco sobre estas obras eram sigilosos) afirmava o seguinte sobre a obra do Porto de Mariel em Cuba:

O banco brasileiro emprestaria o dinheiro em um prazo de 25 anos, contra os 10 anos usuais em contratos do tipo.

O empréstimo seria feito em pesos cubanos

A garantia do empréstimo seria a receita do governo local com exportação de tabaco.

O governo negou irregularidades e o próprio relatório.

Hoje, já no segundo calote em poucos meses (além do de Moçambique no valor de R$ 700 milhões), soubemos que quem pagará a conta será o Fundo Garantidor de Exportações.

Em outras palavras: o governo tirou dinheiro do trabalhador, emprestou a taxas 3 vezes menor do que a inflação média (o que por si só causou R$ 11 bilhões em prejuízo), emprestou para os países, a Odebrecht lucrou com as obras e agora os trabalhadores pagarão o calote.

Ao final, o BNDES reportará em seu balanço a operação com lucro, afinal, recebeu o valor, e pagará aos seus empregados um bônus por “participação em resultados”.

No meio deste caminho, 3 ex-presidentes latino americanos e nada menos do que 15 ministros já foram presos ou indiciados por ligações com estas obras.

Enquanto isso, Dilma decide por qual estado disputará uma vaga no senado.

Organizando o capitalismo

“…acho que temos que organizar o capitalismo brasileiro, e o BNDES é o grande instrumento para essa organização.”

FHC – Diários da Presidência – Maio 1996

Em um blind test, juraria que era a Dilma dizendo isso.

Curioso notar que esse pensamento vem relatado como consequência de uma reunião com ninguém menos que Emílio Odebrecht, considerado por FHC como “muito competente em termos empresariais”, apesar “da firma Odebrecht ter ficada marcada pela corrupção na CPI dos Anões do Orçamento”.

E esse era FHC, o presidente mais lúcido que o Brasil já teve. Depois nos perguntamos porque o Brasil avança com essa lentidão exasperante.

Não é meu

A Odebrecht pagou as obras do Instituto Lula. Mas Lula vai dizer que o Instituto não é dele. Se quiseram dar o nome dele ao Instituto, ele não tem nada a ver com isso.