O centro e os polos na política

É realmente curioso como este debate sobre a “polarização” e a busca desesperada por uma solução “de centro” surgiu.

Até o aparecimento do “fenômeno Bolsonaro”, o país encontrava-se dividido fazia 25 anos entre PT e PSDB. Foram nada menos que 6 eleições presidenciais em que os dois partidos se enfrentaram, sendo os outros partidos meros coadjuvantes.

Nestes 25 anos, ninguém falava de “polarização”. PT e PSDB eram considerados partidos “moderados”, um mais à esquerda, o outro mais centro-esquerda, mas ambos muito civilizados e coisa e tal. Tratava-se de uma rivalidade fake.

Aí então, no vácuo de uma inexistente direita conservadora, surge Bolsonaro, para se contrapor à esquerda (PT) e à centro-esquerda (PSDB). Com isso, aparece a tal da “polarização” com o PT, que, não custa lembrar, foi considerado um partido “moderado” nos últimos 25 anos.

Vou repetir então: foi necessário o surgimento do movimento bolsonarista para que ficasse claro que o PT é um partido radical, tão radical como o seu antípoda. Antes disso, o PT sentava-se à mesa dos partidos civilizados, como qualquer outro.

Interessante como tudo é uma questão de perspectiva.

A volta dos mortos-vivos

E não é que a Marta Suplicy não morreu?

Com a cara de pau própria dos políticos profissionais, eis que Marta volta à cena, em entrevista ao Estadão. Muito instrutiva, por sinal. Eu não sabia, por exemplo, que meninas que têm mais irmãs do que irmãos são feministas desde o berço. Conclusão que deve ter vindo de seus estudos sexológicos.

No campo político, Marta decretou que Lula é um preso político. Marta saiu do PT, mas o petismo não saiu de Marta. O fato de ter pulado do barco no auge do “golpe” justamente para o partido do golpista-mór foi apenas um acidente de percurso, do qual ela se arrepende. Agora.

Com relação a 2022, o candidato para vencer Bolsonaro não pode ser um outsider, como Doria, mas Luciano Huck é um “nome muito interessante”, pois ele está “focado em aprender sobre política”. É a figura do “paraquedista esclarecido”.

Política deve ser um vicio pior que drogas ou bebida. A pessoa simplesmente não consegue ficar fora. Marta tenta desesperadamente voltar ao jogo eleitoral, para sentir aquela adrenalina da campanha e, depois, do poder. Para isso, tenta recuperar o capital político perdido com sua traição ao PT na hora mais escura do partido. Marta, ao migrar para o PMDB, perdeu seus eleitores de esquerda e, obviamente, não conseguiu ninguém à direita. Ao tentar voltar ao ninho, Marta só confirma o que todos já sabiam: não passa de uma oportunista como qualquer outro.

Petrobrás grande

Hoje a Petrobras anunciou a produção média de petróleo no terceiro trimestre: 2,2 milhões de barris/dia, a maior produção da história da empresa.

Lembrei de um gráfico que vi em 2013 no site da Petrobras, que previa a duplicação da produção de petróleo até 2020. Procurei nos meus arquivos e encontrei (tenho por hábito guardar essas “previsões” para depois conferir). Era o tempo da “Petrobrás Grande”, em que o pré-sal era o nosso passaporte para o futuro e a Petrobras carregaria o Brasil nas costas.

Bem, o resto é história.

No gráfico abaixo comparo a previsão com a realidade. Hoje produzimos apenas 10% a mais de petróleo do que em 2013. Muito, mas muito distante da promessa de 4,2 milhões de barris. O pré-sal já representa 60% da produção, o que significa que os outros poços deixaram de produzir. Ficamos patinando por anos em 2 milhões de barris, e só recentemente a produção parece querer mudar de patamar.

A Petrobras foi vítima de rapina e de políticas equivocadas, como o congelamento dos preços dos combustíveis, a exigência de conteúdo nacional de seus fornecedores, a obrigação de participar de todos os leilões com, no mínimo, 30% do investimento e a construção de refinarias superfaturadas. O resultado foi o de alcançar, orgulhosamente, o posto de empresa mais endividada do mundo, sem a mínima capacidade de investimento.

A previsão de produção de 4 milhões de barris/dia foi uma de tantas previsões que naufragaram na incompetência e em visões pré-históricas de como funciona a economia e os negócios. Por isso, fico possesso quando leio “economistas do outro lado” pontificando sobre as “saídas” para a crise. Uma crise criada pelas suas belas teorias aplicadas ao dia-a-dia dos coitados dos brasileiros.

Sempre que você ouvir algum economista defendendo o Estado como “indutor” do crescimento, lembre-se do gráfico abaixo. E não se deixe enganar pelo embusteiro.

Fact checking

A notinha política abaixo contém três informações:

1. Aloizio Mercadante não morreu.

2. O PT quer diálogo.

3. Lula comanda o PT de dentro da cadeia.

Das três, duas são lendas urbanas. Prove que você está apto a trabalhar para uma agência de fact checking e aponte a única afirmação verdadeira.

Quem manda está em Curitiba

O PT paulista enfrenta uma difícil decisão: quem será o candidato do partido na eleição para a prefeitura de São Paulo?

Carlos Zarattini, Paulo Teixeira e Jilmar Tatto formam as opções caseiras. Aloísio Mercadante é opção de nome nacional. Ana Estela Haddad ou outros nomes não políticos, da “sociedade civil”, também são opções. E até apoiar nomes de outros partidos, como Guilherme Boulos ou Marcio França, faz parte do cardápio.

Mas, assim como no PCC, a decisão final sai de dentro da cadeia.

Arrependimento

Arrependo-me do meu voto no 2o turno? Não. Do outro lado estava o PT. Teríamos saudades do dólar a R$4.

Não posso criticar por ter votado em Bolsonaro? Posso. Não fui o responsável por termos no 2o turno a escolha entre a panela e a frigideira.

Só poderia criticar se tivesse anulado meu voto? Não. Quem anulou o voto apenas deixou a decisão para os outros. Ajudou a eleger o coiso do mesmo jeito.

Mesmo sabendo o que já sabemos, teria votado novamente? Sim. Do outro lado estava o PT.

Tenha sempre em mente: Bolsonaro é obra do lulopetismo.