A internet limpinha

Esse post do Glenn Greenwald me fez lembrar certas manifestações do PCO que coincidiram com algumas pautas conservadoras, levando até à criação de perfis “não aguento mais concordar com o PCO”. Greenwald é o PCO do jornalismo de esquerda.

Não tinha tido ainda oportunidade de escrever sobre o imbróglio “Elon Musk vs Jornalistas do Washington Post”, mas este post de Greenwald é uma boa deixa.

Para quem está chegando agora, Elon Musk, o novo dono do Twitter, cancelou a conta de alguns jornalistas do Washington Post. Pouco importa a sua alegação, a questão é se Musk tem o direito de cancelar quem quer que seja de sua rede.

O espetáculo de hipocrisia é tão patente que até um jornalista insuspeito para a esquerda conclui o óbvio: censura no fiofó dos outros é refresco.

O Twitter, assim como todos as outras redes sociais, não é uma espécie de dádiva divina à humanidade, tirada do nada para o deleite dos homens. Não. O Twitter é um business, que precisa ser economicamente viável para sobreviver, e só existe porque um empreendedor tirou a ideia do papel. No caso, o Twitter não estava cumprindo a sua função básica de ser viável economicamente, razão pela qual os acionistas decidiram vender todas as suas ações para Elon Musk.

Um efeito colateral da compra do Twitter por Musk é que ficou mais claro do que nunca que a rede social tem um dono. Quem não está contente com seus critérios pode simplesmente abandonar a rede, migrar para outra ou mesmo tentar montar um Twitter do B em que impere os seus próprios critérios. Foi o que tentou fazer, por exemplo, Donald Trump, quando foi expulso do Twitter, sem muito sucesso.

Angela Merkel, quando ainda chanceler da Alemanha, em meio ao debate acirrado sobre regulação das redes, aportou uma ideia que merece ser considerada: parece ser perigoso atribuir às redes a tarefa de regular o conteúdo do que vai em suas páginas, dado que os seus critérios podem não coincidir com os critérios do bem comum. Nesse sentido, Merkel apontava o dedo para legisladores que tiravam o corpo fora da espinhosa tarefa de censurar as redes (este é o nome da coisa), exigindo que as próprias redes o fizessem.

Com a suspensão das contas dos jornalistas, Elon Musk esfrega na cara da opinião pública as consequências não intencionais de se deixar a moderação de conteúdo nas mãos das empresas. Todos querem um internet limpinha e bem cheirosa. O problema está sempre em definir o que é “limpinho e bem cheiroso”.

O pop-lulismo

Eugênio Bucci, em seu artigo de hoje, celebra as “adesões espontâneas” à candidatura Lula. ”Dancinhas no Tik Tok” e “charges no WhatsApp” estariam surgindo espontaneamente, em um movimento mais cultural do que político. Seria o “pop lulismo”, um movimento pop que transcende a esfera política.

Pelo visto, o petismo que come de garfo e faca “descobriu” a potência das redes sociais, e está encantado. Exatamente o mesmo fenômeno ocorreu em 2018 em torno de Bolsonaro. No entanto, na época, a campanha do atual presidente foi acusada de manipular as redes sociais com robôs e de ter uma central de produção de conteúdo. Quem não se lembra da “denúncia” de financiamento de disparos de WhatsApp por parte de “empresários” às vésperas da eleição? Hoje não, hoje é tudo ”espontâneo”. É o “pop lulismo”. Lula seria “pop” e, portanto, as adesões à sua candidatura seguiriam a lógica da adesão a grandes ídolos.

Bucci não está errado. De fato, uma parte relevante de nossa decisão de voto tem mais a ver com emoção do que com a razão, e líderes populares atraem votos. Mas o professor da ECA-USP trai o seu babaovismo ao negar a Bolsonaro o mesmo caráter. Lula seria o único “líder pop” do Brasil, e a sua eleição seria uma espécie de reconhecimento a esse caráter quase divino do ex-presidiário.

O articulista termina com uma nota de rodapé, comentando o jogo de palavras entre “pop lulismo” e “populismo”. Afirma que essa identificação não é acidental, mas ressalva que há dois tipos de populismo: o do mal, encarnado por Bolsonaro, e o do bem, encarnado por Lula. Daí a defender uma “ditadura do bem” é um pulinho. É dessa cepa que é feita a intelectualidade petista.

Um conceito peculiar de democracia

Pedro Doria continua muito preocupado com a nossa democracia. Segundo o articulista, estamos ameaçados pelas fake news, que distorcem a vontade do eleitor. E as empresas de tecnologia não estariam fazendo nada a respeito, pois “não teriam qualquer compromisso com os valores democráticos”.

É curioso. Em redes bolsonaristas, a reclamação é a inversa: o Facebook estaria a serviço dos globalistas, perseguindo as “páginas de direita”.

Não é possível que as duas coisas estejam acontecendo ao mesmo tempo. Ocorre que cada um enxerga a realidade de seu particular ponto de vista, e é capaz de jurar que aquela é a verdadeira realidade. Mas, no caso, gostaria de estabelecer uma diferença fundamental entre os dois pontos de vista, independentemente de quem esteja certo sobre o que o Facebook esteja realmente fazendo. A diferença está naquilo em que cada parte DESEJARIA que o Facebook estivesse fazendo.

Pedro Doria representa uma linha que defende que o Facebook e outras redes sociais precisariam trabalhar como censores. Há algum tempo, escrevi um artigo refletindo sobre como esse problema é delicado (Redes sociais e a busca do censor ideal). Os bolsonaristas, por outro lado, querem campo livre para propagar suas “fake news”, o que, por suposto, significa campo livre para o adversário também propagar suas próprias “fake news”.

O TSE já se colocou como árbitro dessa questão espinhosa, que vem sendo objeto de análise desta página há algum tempo. Para Pedro Doria, isso não é o suficiente. As redes também precisariam atuar. Em meu artigo, reproduzo uma fala de Angela Merckel, que chama a atenção para o perigo de termos empresas privadas arbitrando o conteúdo de discursos privados. Alinho-me à ex-chanceler alemã neste ponto: o que menos precisamos é o Zucka com o poder de dizer o que podemos ou não dizer. Não para Pedro Doria. Em sua democracia, é super-natural que tenhamos um censor privado.

“Censura” é daquelas palavras proibidas, que um verdadeiro democrata não deveria nunca pronunciar, a não ser acompanhada da expressão “nunca mais”. Pedro Doria é esperto, e não usa a palavra maldita em seus textos. Mas o que propõe tem rabo de censura, focinho de censura e cheiro de censura. O seu conceito de democracia é peculiar.

Ninguém nunca muda de ideia

Existem basicamente três tipos de pessoas que comentam nos meus posts (e, de resto, nos posts de qualquer pessoa): 1) aqueles que concordam com o que está escrito; 2) aqueles que discordam do que está escrito e 3) aqueles que discordavam daquilo que está escrito, mas mudam de opinião depois de ler o que está escrito.

A diferença entre os tipos 1 e 2 para o tipo 3 é que os tipos 1 e 2 existem na vida real, enquanto o tipo 3 só existe no mundo das ideias, não tendo existência no mundo real.

Já escrevo nesse mural há alguns anos. Nunca, jamais, em tempo algum, li um comentário do tipo: “não concordava com esse ponto de vista, mas lendo o seu raciocínio, mudei de ideia”. Não, isso nunca aconteceu.

O povo das redes sociais vem até aqui para confirmar os seus pontos de vista prévios, seja através de textos com os quais concordam, seja através de textos dos quais discordam. Esses últimos, inclusive, são até mais úteis para este propósito, pois servem para, supostamente, dar a chance de “ouvir o outro lado”, para concluir que o ponto de vista próprio é realmente o melhor, mesmo exposto ao contraditório.

Se tem algo que aprendi ao longo desses anos, é que se trata de ingenuidade ou vã pretensão a ideia de que se possa mudar a opinião de alguém sobre alguma coisa. Por isso, raramente respondo a comentários ou entro em discussões aqui. E, quando fujo a essa regra, normalmente me lamento do tempo perdido.

As redes sociais não são uma arena para o debate de ideias. São um lugar para a reafirmação das próprias ideias. Tenha isso em mente antes de entrar em longos debates com desconhecidos.

O culpado é o retuíte

O colunista Pedro Doria repercute um artigo que, segundo ele, joga luz sobre o problema da divisão aparentemente irreversível que a sociedade atual vem sofrendo.

O “retuíte” do Twitter e o “like” do Facebook seriam os culpados pelo auto-isolamento dos grupos com opiniões diferentes e, consequentemente, pela erosão dos fundamentos da democracia. Uau!

Se não me engano, em 1860, quando estourou a Guerra de Secessão, em que morreram mais de 600 mil americanos em uma batalha de ideias que chegou às vias de fato, não havia nem o “retuíte” e nem o “like”. Estes recursos também não existiam, salvo engano, durante a implantação das mais sanguinárias ditaduras do século XX.

Li em algum lugar que o problema de nossa sociedade é a falta de problemas realmente sérios. Na falta destes, passamos a nos preocupar com “microagressões”, “vocabulário não discriminatório”, “retuítes” e “likes”. Essa “descoberta” do artigo citado por Pedro Doria encaixa-se à perfeição no caso.

Se é para ter uma teoria, tenho a minha própria: as redes sociais nos permitiram extravasar toda a nossa ira e revolta sentados confortavelmente no sofá de casa, dispensando o derramamento de sangue típico das vias de fato. Diria que é graças às redes sociais que não temos mais guerras civis no mundo, a não ser naqueles países onde a internet não conta com uma boa cobertura. A diferença dessa minha teoria para a dos “retuítes” e dos “likes” é que eu não a levo a sério.

O rei das redes

A coluna do Estadão constata o óbvio: Bolsonaro domina as redes.

Só acho que o diagnóstico está errado. O colunista sugere que Bolsonaro tem adotado uma “estratégia” para chamar a atenção, que seria a da “provocação” a artistas e rivais. Na verdade, penso que o engajamento citado é fruto de uma coisa bem mais simples: tamanho da audiência.

No Instagram, Bolsonaro tem pouco menos de 20 milhões de seguidores contra 4,5 milhões de Lula. 800 mil curtidas é um bom engajamento, mas explicável pela base de seguidores. Lula pode esperar cerca de 1/4 disso nos seus posts mais populares.

No Twitter, Bolsonaro tem 7,5 milhões de seguidores contra 3,3 milhões de Lula. Não à toa, seu post sobre a aliança Lula-Alckmin teve o dobro de curtidas do que o do seu adversário do PT sobre o mesmo assunto.

Bolsonaro entendeu antes de todo mundo a importância das redes. O seu volume muito maior de seguidores é fruto de um trabalho de anos, não de meses. Além disso, Bolsonaro usa as redes com a linguagem das redes, e não como uma página oficial com discurso insosso. E mais: sua interação soa autêntica, pois é o mesmo discurso que seus seguidores ouvem no cercadinho do Planalto. Muito diferente de tentativas toscas de Ciros e Alckmins da vida, que contratam marqueteiros para “acertar o tom”. Seu “kkkkkk” como comentário sobre a aliança Lula-Alckmin é exemplo acabado desse fato.

Assim como a motociata, seguidor no Instagram não significa necessariamente voto na urna. Mas se as redes sociais tiverem em 2022 a mesma importância que tiveram em 2018, Bolsonaro sai com vários corpos de vantagem. Não é à toa que seus adversários estão pedindo que o juíz consulte o VAR para verificar se o presidente não está impedido.

A confiança nas mídias

A pesquisa CNT/MDA, além da corrida eleitoral, trás um levantamento interessante sobre a confiabilidade dos diversos meios de comunicação.

A pergunta foi a seguinte: “qual o seu grau de confiança nas informações via…” e então citava 5 meios diferentes: telejornais, portais de notícias (tipo UOL), jornais impressos, blogs de notícias e mensagens de aplicativos (tipo WhatsApp). A resposta poderia ser uma das seguintes: confia sempre / confia na maioria das vezes / confia poucas vezes / não confia / não usa o meio de comunicação.

Somei as respostas “não confia” com “confia pouco” de cada um dos meios, normalizando pelo número de pessoas que efetivamente usam aquele meio. Ou seja, dos que usam, quantos não confiam. O resultado vai no gráfico abaixo.

Três coisas me chamaram a atenção:

1) o grau de desconfiança generalizado em relação às informações divulgadas, seja qual for o meio. Os meios editoriais levam ligeira vantagem mas, mesmo assim, contam com a desconfiança de 2/3 dos seus usuários.

2) a vantagem, mesmo que seja na margem, dos meios editoriais sobre os não editoriais. “Sair no jornal” ainda funciona como um selo de qualidade da informação para uma parte da população. Essa parte não é grande, mas existe.

3) apenas 1/4 dos leitores de mensagem de WhatsApp confiam naquilo que recebem.

Acho que os ministros do TSE fariam bem em observar essa pesquisa, para deixarem de tratar o brasileiro como menor de idade que precisa ser tutelado, senão engole qualquer coisa que lhe mandam. Talvez deixassem de perder tempo com teorias conspiratórias.

Gabinete do Amor

Enquanto Bolsonaro contamina a eleição com o seu Gabinete do Ódio, que espalha fake news através do Telegram com a ajuda dos russos, o PT contra-ataca, montando o seu Gabinete do Amor, para distribuir true news também através do Telegram. Quem disse que o Telegram não pode igualmente servir ao bem?

Se o objetivo de Bolsonaro é destruir a democracia, o objetivo do PT claramente é defender os valores do Estado Democrático de Direito. Por isso, certamente não veremos os juízes do TSE emitindo opiniões preocupadas com o rumo da democracia brasileira diante dessa tática digital do PT.

Alinhando-se a gigantes da democracia

Fui dar uma olhada a respeito da prática de bloquear aplicativos e sites ao redor do mundo. Há alguns casos.

A China é, de longe, o país que mais bloqueia o acesso a aplicativos específicos. O motivo não poderia ser outro: segurança nacional, ameaçada por ideias subversivas.

O mesmo ocorre em Cuba, que bloqueou o acesso às redes sociais durante os últimos protestos.

O governo da Índia vem bloqueando o acesso a aplicativos chineses, como forma de se proteger de “roubo de dados”.

O mesmo fez Donald Trump no apagar das luzes de seu governo, ao emitir uma ordem executiva para bloquear oito aplicativos chineses de pagamento. O motivo: tráfego de dados sensíveis e que, supostamente, ficariam disponíveis para o governo chinês. Biden revogou essa ordem em junho último, mas seu governo continua discutindo o que fazer com essa fragilidade.

Notem a diferença entre os casos de China e Cuba e os casos de India e EUA. Enquanto nestes últimos há uma preocupação com a exposição de dados para um governo hostil, nos primeiros o que há é pura e simplesmente censura de conteúdo contra seus próprios cidadãos.

Com relação especificamente ao Telegram, a notícia é de que o aplicativo já foi bloqueado em 11 países.

Na matéria, obviamente, não há uma lista desses 11 países. O número está lá somente para passar a impressão de que não estamos sozinhos, a oposição ao Telegram está se tornando generalizada. Mas não é à toa que a lista de países não foi divulgada pela reportagem.

Dando um Google, descobrimos que essa lista de países preocupados em proteger suas democracias incluem Rússia, Irã, Ucrânia, China, Cuba, Bahrein, Belarus, Paquistão e Indonésia. A justiça brasileira, ao ameaçar bloquear o Telegram, se alinha a esses gigantes da democracia. Parabéns aos envolvidos.

Lidar com a ameaça das redes sociais pode ser ainda mais ameaçador

Editorial do Estadão repercute a participação da filósofa Shoshana Zuboff em seminário patrocinado pelo Instituto FHC.

Zuboff, para quem não conhece (e eu mesmo fui apresentado à doutora hoje), é autora de um best seller sobre as redes sociais, “O Capitalismo de Vigilância”. A ideia é conhecida: as Big Techs são monopólios que usam de seu poder para, através de algoritmos, manipular as pessoas, ameaçando os pilares da democracia.

Antes de continuarmos, vamos voltar um pouco no tempo. O ano é 2008, e Barack Obama é eleito presidente em uma campanha marcada por uma novidade: o uso intensivo das redes sociais. Antes que vocês me perguntem, não, não houve nenhum questionamento sobre manipulação ou ataques à democracia. Pelo contrário. Resgatei reportagem de 2010, em que o coordenador da campanha digital de Obama é celebrado no Campus Party daquele ano, e é chamado a explicar como a coisa funcionava. Todos os elementos das campanhas modernas estavam lá: microssegmentação, formação de pequenos grupos de pessoas que chamam seus amigos, interação do candidato com potenciais eleitores.

A coisa muda completamente de figura quando Trump vence as eleições de 2016 usando exatamente as mesmas ferramentas. A intelectualidade descobre, então, horrorizada, que esses instrumentos podem ser usados “para o mal”. Para dizer que não foi a mesma coisa, apareceu a história dos “russos” que manipularam as eleições. Os russos fazem o papel do George Soros na teoria da conspiração do outro lado. É a eleição de Trump que dá a largada para a caça às redes sociais.

No Brasil, a coisa foi ainda mais extrema. Se Trump ainda tinha todo um partido trabalhando por sua candidatura, Bolsonaro ganhou a eleição presidencial sem partidos e sem estrutura, gastando uma fração do que gastaram os outros candidatos. Seu segredo? Os mesmos de Obama: microssegmentação, formação de pequenos grupos de pessoas que chamam seus amigos, interação do candidato com potenciais eleitores. A intelectualidade foi à loucura.

Chamo a atenção para essa questão política porque é a única questão realmente importante. Digamos, por hipótese, que as redes fossem proibidas, desde o início, de veicular todo e qualquer conteúdo político. Duvido que a senhora Zuboff gastasse o seu precioso tempo escrevendo sobre como as redes sociais manipulam as pessoas para vender mais produtos. E mesmo que o fizesse (afinal, acadêmicos precisam produzir artigos), duvido que alcançaria o mesmo interesse. O próprio editorial do Estadão chama a atenção para o uso político das redes, não outro. E é compreensível: afinal, o processo de escolha dos representantes é o próprio coração de uma democracia representativa.

A questão é o que fazer. Shoshana Zuboff não esconde suas preferências. Em entrevista ao falecido El País em português, a filósofa não deixa por menos: “temos que começar do zero”.

Uau! Conhecemos outras tentativas de redesenhar a humanidade da maneira “certa” e que terminaram muito errado. Dá para intuir a vocação democrática da doutora.

O editorial do Estadão destaca outra fala de Mrs. Zuboff, essa um pouco mais razoável: “a democracia é a única ordem institucional com autoridade legítima para mudar nossos rumos”. Ok, concordo, assim como concordo que as pessoas deveriam fazer o bem e evitar o mal. O diabo, como sempre, faz morada nos detalhes. Por exemplo, há críticas ao Facebook pelos seus algoritmos que escolhem qual informação chegará na timeline das pessoas e, ao mesmo tempo, critica-se o mesmo Facebook por não moderar suficientemente a rede e permitir “discursos de ódio”. O que Shoshana e seus pares gostariam de ter é um “algoritmo do bem”, que livrasse o mundo do “mal”. O problema não são os algoritmos em si, mas que sejam usados para o “mal”. Mal este, claro, que sempre está “do outro lado”.

Os totalitarismos do século XX não precisaram de redes sociais para manipular os povos. TVs, rádios e jornais sempre filtraram o que vai ao grande público muito antes das redes sociais. As redes sociais são apenas mais uma forma de manipulação da verdade. Qualquer tentativa de regulação passa por censura de conteúdo. Vamos ver como se defenderá isso no âmbito democrático.

PS.: “Quebrar monopólios” não resolve o problema de fundo. Monopólio é problema econômico, de concorrência. Não tem nada a ver com a natureza em si do business. Se o Facebook fosse “quebrado”, seus filhotes funcionariam exatamente como a mãe funciona hoje. Afinal, redes sociais e toda a internet funciona na base de análise de dados, qualquer que seja o tamanho da empresa.