Tesouro Direto vs. Caderneta de Poupança

Mais um governo que quer “popularizar” o Tesouro Direto. Desde a sua criação, em 2002, a ideia sempre foi o de estimular que pessoas físicas comprassem diretamente os títulos da dívida pública, permitindo, assim, que o governo não ficasse totalmente refém do escrutínio de investidores profissionais, o tal “mercado”. A última grande mudança foi em 2015, quando os títulos com nomes de sopa de letrinhas, como “LFT” e “NTN-B”, passaram a se chamar “Tesouro Selic” e “Tesouro IPCA” para deixar a coisa menos hermética.

O sucesso tem sido relativo. O copo meio cheio é que o Tesouro Direto já acumula R$ 110 bilhões de estoque. O copo meio vazio é que só acumula R$ 110 bilhões de estoque, diante de um montante de dívida pública de R$ 5,9 trilhões. Para comparação, a caderneta de poupança tem estoque de R$ 1 trilhão, quase 10 vezes mais do que o Tesouro Direto.

O governo agora vai patrocinar uma série de iniciativas para tentar aumentar a adesão da população ao sistema. Na minha humilde opinião, nada disso vai funcionar. O motivo é simples e tem um nome: caderneta de poupança. A caderneta é um investimento ultra simples e que “nunca perde”, pois não é marcada a mercado. Ao contrário, o Tesouro Direto é complexo, precisa abrir conta em corretora, ter a expertise para escolher o título, ter o trabalho do reinvestimento e, para adicionar o insulto à injúria, pode ter rentabilidade negativa!

A caderneta é uma excrescência herdada dos tempos da inflação alta e da correção monetária, o overnight dos pobres. O overnight morreu, mas a caderneta continua aí, firme e forte. Enquanto a caderneta existir, pode fazer o que quiser, o Tesouro Direto continuará a ser um coadjuvante. Mas, e a coragem para acabar com a caderneta de poupança? Melhor acreditar que “medidas de estímulo ao TD” funcionarão.

Tesouro RendA+: vale a pena?

Fui olhar agora no site do Tesouro como funciona esse título (Tesouro RendA+). Ao contrário do que publiquei no final do ano passado (conforme havia entendido da reportagem), este título paga taxa de juros além da inflação durante o período de amortização, ou seja, quando você recebe o seu investimento de volta em prestações mensais. Portanto, a sua taxa de juros pode ser comparada diretamente com a taxa de juros dos títulos Tesouro IPCA normais.

O que vai diferenciar este investimento de um PGBL, por exemplo, é a questão fiscal. O PGBL tem a vantagem da dedutibilidade da base de cálculo do Imposto de Renda, ou seja, há uma postergação do pagamento do Imposto de Renda. E pode, inclusive, haver economia de IR, se o regime for regressivo (alíquotas menores com o passar do tempo), sendo de 10% a menor alíquota possível. No caso do Tesouro RendA+, a menor alíquota será de 15% sobre a renda obtida. Por outro lado, o PGBL costuma ser mais caro (maior taxa de administração) do que o Tesouro Direto. Então, é difícil, de antemão, calcular qual é o mais vantajoso. A vantagem do Tesouro RendA+ é a sua disciplina: você recebe os seus pagamentos mensais durante 20 anos após o vencimento, impondo uma certa disciplina para o seu fluxo de caixa.

Enfim, trata-se de uma boa iniciativa, mas parece pouco provável que um grande número de poupadores tenham a disciplina suficiente para aproveitar ao máximo o que este título tem para oferecer.

Tesouro RendA+: vale a pena?

O Tesouro vai lançar um novo tipo de título público, que servirá como uma espécie de título de aposentadoria. Chamado de Tesouro RendA+, a inovação desse novo título está em que, no vencimento, você recebe o montante em 240 suaves prestações, corrigidas pelo IPCA. Vale a pena? Depende da taxa de juros.

Este título vai competir com um título “normal”, que paga inflação + taxa de juros até o vencimento. Quando esse título normal vence, você pode pegar o dinheiro e reaplicá-lo. Então, a comparação deve ser feita entre esse título normal, que você pode reaplicar após o vencimento recebendo juros, com esse novo título, que você ”reaplica” recebendo zero de juros, pois as parcelas são reajustadas somente pela inflação.

Fazendo um cálculo simples. Digamos que você invista R$ 1.000 em um título Tesouro IPCA+ com vencimento em 10 anos e taxa de juros de IPCA+6% ao ano, sem pagamento de cupom intermediário. Daqui a 10 anos, você terá R$ 1.790,85, mais a inflação do período. Você pode pegar esse dinheiro e reaplicar. Digamos que, daqui a 10 anos, a taxa de juros de um título semelhante, com vencimento em 20 anos, seja de 3% ao ano (mais inflação), e você queira ir resgatando aos poucos o valor desse título nos 20 anos seguintes. Com essa taxa de juros (3%), você poderia resgatar R$ 9,93 por mês, corrigido pela inflação.

Agora vamos ao novo título. Digamos que a taxa de juros seja igualmente de 6% ao ano, de modo que o montante acumulado daqui a 10 anos sejam os mesmos R$ 1.790,85. Mas agora, a reaplicação tem juros zero, você resgata esse montante somente com o reajuste da inflação. Assim, a mensalidade nos 20 anos seguintes será simplesmente de R$ 7,46, corrigidos pela inflação, ou 25% menor do que no título “normal”.

Para compensar essa diferença, a taxa de juros paga pelo Tesouro RendaA+ deveria ser de 9,1% ao ano, mais a inflação. Claro que essa taxa varia de acordo com a premissa de juros na reaplicação quando do vencimento do título. Por exemplo, se assumirmos a premissa de taxa de juros de 6% no reinvestimento (sempre acima da inflação), a taxa do novo título deveria ser de 11,9% ao ano para igualar o rendimento do título “normal”.

Portanto, para saber se vale a pena o investimento, precisaremos ver a taxa de juros ofertada pelo Tesouro para esse novo instrumento. Se for a mesma de um título “normal”, obviamente não vale.

Não tem erro

LIQUIDAÇÃO NO TESOURO DIRETO!!!

Você que estava com saudade de ter rendimento de 1% ao mês, seus problemas acabaram! Qualquer título prefixado está pagando acima de 12,50% ao ano! Você agora pode comprar um título que vence em 2030 e garantir mais de 1% ao mês nos próximos 8 anos!

Claro, você precisa torcer para que a inflação fique bem comportada nesse período aí. Mas claro que vai, só temos governos responsáveis, que tratam o orçamento de maneira séria. Não tem erro.