Escolhendo a desonra

Ainda sobre a candidatura de Lula mesmo contra a Lei da Ficha Limpa, como uma solução de compromisso para “preservar a democracia”, ou para “garantir a governabilidade”.

Essa situação me faz lembrar a leitura completamente equivocada das potências ocidentais em relação a Hitler antes da 2a Guerra e em relação a Stálin após a 2a Guerra.

Kissinger, em sua monumental obra Diplomacia, descreve com precisão: as potências ocidentais (Inglaterra e França antes da guerra, EUA depois da guerra) queriam a paz a qualquer custo. Desconsideravam os objetivos do seu interlocutor. Ou melhor, assumiam que o objetivo era o mesmo. E, com isso, fizeram concessões e mais concessões, até que ficou claro que Hitler não iria parar até conquistar a Europa e Stálin tivesse instalado governos-títeres em todos os países da Cortina de Ferro. Mas aí, já era tarde demais.

Enquanto as forças que jogam o jogo democrático continuarem achando que o PT joga o mesmo jogo, continuarão a ceder terreno, até ser tarde demais. Aí, só restará a luta com “sangue, suor e lágrimas”, como disse Churchill, um dos poucos que entenderam a real natureza dos seus oponentes. Sangue, suor e lágrimas que nossos vizinhos venezuelanos estão vertendo nesse momento.

Parafraseando Churchill, entre o descumprimento da lei e a guerra, eles escolheram o descumprimento da lei, e terão a guerra.

Não existe democracia sem lei

“É uma falácia dizer que uma eventual derrota de Lula da Silva nas urnas terá maior legitimidade democrática do que a sua exclusão das eleições por força da Lei da Ficha Limpa. Para que exista democracia, é preciso antes haver respeito às leis. […] O descumprimento da lei não é caminho para a democracia. É o atalho para o arbítrio.”

Trecho do editorial do Estadão de hoje. Coincidentemente, logo em seguida a um artigo do ex-embaixador Rubens Barbosa, que faz coro à ideia de que seria melhor “deixar Lula concorrer”, para que este e seus “democratas” do PT não pudessem usar o discurso do golpe e da vitimização.

O editorial do Estadão deixa claro que não há solução de compromisso possível sem o respeito à lei para todos. Um “arranjo” que permitisse a Lula assumir o governo atropelando a lei, isso sim solaparia a democracia.

Aos espíritos timoratos, que têm medo da gritaria dos petistas e seus satélites na academia e no mundo das artes, o recado do editorial do Estadão é claro: não existe democracia sem lei. A alternativa é o arbítrio, tão ao gosto dos petistas. Que o digam nossos vizinhos venezuelanos.

Autópsia de um parasita

Artigo delicioso hoje no Valor sobre o impacto do fim do imposto sindical sobre os sindicatos, tanto patronais quanto de trabalhadores.

De modo geral, estão descobrindo o maravilhoso mundo da iniciativa privada, onde é necessário agregar valor ao cliente para faturar o suficiente de modo a equilibrar as contas.

O presidente de uma confederação patronal disse: “Será difícil fazer a assistência que desejamos aos nossos associados”. Resta saber se os associados desejam a assistência que o sindicato deseja dar. Pelo visto, não.

O fim do imposto sindical colocou a nu uma situação já amplamente conhecida: o sistema sindical brasileiro não passava de um parasita que sugava uma parte dos rendimentos de empresas e trabalhadores sem agregar valor, sendo assim uma das muitas fontes da baixa produtividade brasileira.

Vários estão planejando pressionar Brasília pela volta do imposto. É mais fácil convencer os congressistas da importância da existência dos sindicatos do que os supostamente protegidos pela sua existência.

Como um criminoso deve ser tratado

Os habituais defensores do Estado Democrático de Direito dos ricos e poderosos ficaram “estarrecidos” porque Sérgio Cabral teve os pés e as mãos algemados para ir ao IML, em Curitiba.

Os defensores do Estado Democrático de Direito dos ricos e poderosos deveriam ficar estarrecidos é com o sistema prisional do Rio de Janeiro, que facilita regalias a um ex-governador que roubou centenas de milhões de reais de dinheiro público, deixando um estado à míngua.

As algemas em Sérgio Cabral não são tortura (preso pobre sabe bem o que é tortura), mas exemplo de como um criminoso perigoso, que ameaçou até juiz, deve ser tratado quando hóspede de um sistema prisional digno desse nome.”

O Antagonista

Ouvindo a voz do povo popular

Sérgio Cabral saiu algemado e acorrentado do presídio.

Os intelectuais ficaram chocados.

Os advogados de defesa ficaram indignados.

Os analistas disseram que poderia enfraquecer a operação lava-jato.

O pessoal da barbearia onde corto o cabelo (R$30 o corte, que já acho caro pela quantidade de trabalho no caso) achou foi é pouco.

Ontem assisti The Darkest Hour, filme que conta os bastidores da decisão da Inglaterra de resistir ao ataque nazi, ao invés de tentar chegar a um acordo de paz.

A situação estava realmente perdida. Todo o exército inglês estava cercado em Dunquerque e a única alternativa parecia ser a capitulação. Churchill acabava de assumir o governo por pressão dos trabalhistas, que exigiram seu nome para apoiar uma coalizão com os conservadores. No entanto, Chamberlain (o primeiro-ministro que deu lugar a Churchill), Halifax (ministro do exterior, preferido pelo rei para ser o primeiro-ministro) e o próprio rei preferiam uma saída negociada, que preservasse a paz. Como se isso fosse possível tendo Hitler do outro lado.

Churchill estava encurralado, sem apoio de seu partido e com a situação militar perdida. Resolveu então ouvir o povo (aqui é meio que um spoiler, mas que não tira a emoção da cena): toma o metrô e conversa com os passageiros, que são unânimes em dizer que a Inglaterra deve resistir.

O povo popular, aquele que anda de trem e ônibus e sustenta essa cambada com os seus impostos, está cansado de quem defende ladrão. O político que souber ouvir a sua voz ganhará as eleições.

Argumentos ilógicos

Coluna de um jornalista do Washington Post, traduzido no Estadão.

Ok, Trump é um boçal. Mas pelo menos podiam usar argumentos lógicos para provar a tese. Senão, fica parecendo birra infantil.