Duvída seríssima

A manchete diz: “Marco Aurelio tem dúvida seríssima sobre a existência dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro”.

Aí você vai ler, e a dúvida se refere somente à lavagem. Não há dúvida sobre corrupção. É “somente corrupção” ou “corrupção mais lavagem”.

Tenho dúvida seríssima sobre a capacidade de interpretação de texto do jornalista.

O populista e as más notícias

Esse foi o tuíte de Bolsonaro comemorando o Caged de fevereiro.

Na época, pensei cá com meus botões: além do efeito “carnaval em março”, que distorce a comparação com fevereiro de outros anos, é muito, mas muito cedo ainda, para atribuir ao novo governo a criação de vagas. Tudo o que está acontecendo agora na economia ainda é, em boa parte, efeito dos governos passados. A economia real é um bicho que reage lentamente.

Agora que o Caged apontou surpreendente corte de empregos em março, fiquei esperando o tuíte do presidente pedindo desculpas pelo corte de vagas. Não virá, por óbvio. Porque o populista só aparece para dar as boas notícias.

O Brasil das corporações

Esta fala que vai abaixo foi cometida pelo inefável Ciro Gomes. Elogia a pressão dos caminhoneiros e sugere que os brasileiros façam o mesmo para defender a universidade pública, a Petrobras, a Embraer.

O que Ciro está sugerindo é que cada categoria que tenha alguma força de barganha tome a nação como refém e exija do governo como resgate alguns benefícios negados ao restante da sociedade. Negados não, subtraídos, pois se alguém está levando um benefício artificial, pode contar que quem está pagando é quem não tem poder de barganha.

Ciro defende apaixonadamente o Brasil das corporações.

O sistema judicial brasileiro

Imagine que um juiz valide um gol. Então, os árbitros de vídeo são acionados para julgar se foi mesmo gol. Tendo sido o gol validado, outros árbitros de vídeo são chamados para validar a decisão dos primeiros árbitros de vídeo. Tendo sido o gol validado novamente, outros árbitros de vídeo são chamados para validar a decisão dos dois conjuntos de árbitros de vídeo anteriores. A cada decisão tomada, cabem recursos dos times em campo para cada conjunto de árbitros de vídeo. Enquanto isso, os times e os torcedores aguardam a decisão em campo, jogando baralho.

Este é o sistema judicial brasileiro.

Mais corrupto do que nunca

O pessoal está focando na redução da pena.

Foco errado.

O STJ é o 2o tribunal que confirma a condenação de Lula dada pelo juiz Sérgio Moro. Lula é, cada vez mais, oficialmente corrupto.

PS: Não custa lembrar que a pena de Moro havia sido de 9 anos e meio. O STJ reduziu a pena em 8 meses (somente 7% abaixo da pena inicial).

Interpretação de números

Se a inflação de março de 2018 tivesse sido de zero, a manchete seria “a inflação foi infinitos porcento maior”? E se tivesse sido negativa? “A inflação foi menos 20 vezes maior”?

Nem acho que seja má fé. É dificuldade mesmo de interpretar números.

Sem concorrência

Diálogo no táxi.

– O senhor aceita cartão?

– Ô doutor, minha maquininha tá sem bateria.

– Pois vai precisar carregar, porque estou sem dinheiro.

Longo suspiro, terminando em um bufo.

– Pô doutor, essas maquininhas cobram 3% da corrida. Fica ruim pra gente.

O resto da corrida foi temperada com mau humor.

O Uber continua sem concorrência.

O BPC e a mente humana

Já escrevi sobre isso aqui, e o ministro Paulo Guedes, que não é bobo, sabe como funciona a mente humana.

Colocado diante da possibilidade de receber antes um benefício, é óbvio que a pessoa optará por isso, mesmo que seja um benefício menor. O raciocínio é simples: sabe-se lá se vou estar vivo daqui a 5 anos, quero receber agora.

Ao tornar a regra opcional, Paulo Guedes, na prática, terá a mesmo efeito do que se a regra fosse obrigatória. Gênio.