Alguns são mais humanos do que os outros

O nosso ministro-astronauta já externou sua preocupação com os 100 mil funcionários dos Correios, que estariam ameaçados pela privatização. Afinal, são 100 mil famílias que dependem desse ganha-pão.

A mesma preocupação deve nortear a privatização das companhias de água e esgoto. Afinal, depois de privatizadas, as empresas vão demitir e achatar os salários, pois empregam muito menos gente para o mesmo nível de faturamento.

Se as encomendas estão sendo entregues ou se as casas estão sendo servidas por sistemas de esgotos, isso é um mero detalhe, que importa apenas para os milhões de brasileiros que usam os serviços dessa empresas. O que importa de fato é a manutenção do emprego improdutivo de alguns milhares de funcionários. Afinal, todos são seres humanos, mas alguns são mais humanos do que outros.

Desmonte da nossa história

Para o “especialista” da PUC-RJ, as ações de Dias Toffoli são “infelizes” porque enfraquecem o Judiciário em um momento em que a Constituição está sendo ameaçada pelo neoliberalismo do novo governo. Um verdadeiro “desmonte da nossa história”.

Ou seja, Dias Toffoli não está errando por atentar contra a Constituição que diz defender. Existe aqui apenas uma espécie de “erro tático”, em uma guerra contra os neoliberais.

Além disso, o Supremo não seria apenas o guardião da Constituição. Segundo o douto “especialista”, cabe ao Supremo defender ESTA Constituição social-democrata, e não qualquer outra legitimamente aprovada pelo Legislativo. Como se houvesse uma espécie de determinismo histórico, em que nada que não seja “social-democrata” fosse legítimo. “Desmontar” essa história seria passar por cima de uma “cláusula pétrea”, acima até das prerrogativas do Legislativo.

Fique tranquilo o “especialista”. Nossa história social-democrata não está ameaçada. Vide, por exemplo, o 13o salário do bolsa-família e a resistência de diversos ministros à privatização de estatais. Esse governo quer dar apenas um pequeno tilt para o liberalismo, nada muito tóxico. E, considerando o retumbante fracasso econômico da social-democracia, quem sabe pode até funcionar. E, se não funcionar, os sociais-democratas estarão sempre a postos para “salvar” o Brasil, com suas fórmulas de sucesso que funcionaram tão bem nos últimos 30 anos.

Bolsa-ineficiência

Marcos Pontes, o astronauta-ministro, é a favor da privatização dos Correios. Desde que preserve os 100 mil funcionários do elefante branco.

Minha sugestão é a seguinte: privatiza, e todos os funcionários dispensados pelo novo controlador, a União contrata pelos mesmos salários que recebiam nos Correios. Para fazer o que? Nada. Se foram dispensados, é porque sua função era dispensável. Portanto, serão contratados para ficar em casa.

Para tanto, será preciso que o Congresso aprove uma verba, que poderia ser chamada de “bolsa-ineficiência”, e que seria usada para explicitar o custo da ineficiência das estatais, que hoje fica escondido no balanço dos Correios. Isso valeria para todas as outras estatais.

Assim, todo brasileiro ficaria conhecendo quanto custava manter as estatais. Estará ali, transparente, nos gastos da “bolsa-ineficiência”. E Pontes e seus companheiros de ministério, tão ciosos dos “direitos dos trabalhadores”, não teriam do que reclamar.

Carro com motorista

Uma das grandes corridas tecnológicas da atualidade é a dos carros sem motorista. Já não é uma questão de “se”, mas de “quando” essa tecnologia será comercialmente viável. Muito provável que seja na próxima década.

Menos no Brasil.

No país que ainda não conseguiu dispensar a figura do cobrador de ônibus, dispensar o motorista deve ser coisa lá para o século XXIII.

Todos bloqueiam, mas alguns bloqueiam mais do que os outros

Imagine você se lideranças do MST e do MTST estivessem anunciando bloqueio de estradas para reivindicar qualquer coisa.

Bolsonaro, seus filhos, militares, lideranças do governo, redes sociais, todos juntos estariam, com razão, repudiando o movimento e prometendo o uso da força para coibir algo claramente ilegal.

Os caminhoneiros estão ameaçando bloquear estradas.

Então?

Mal posso esperar

Depois do chefe do Executivo ter inventado a intervenção que não é intervenção e o chefe do Judiciário a censura que não é censura, mal posso esperar o que o chefe do Legislativo está nos preparando.

Quem é o autoritário?

E quem define o que é “ódio, intolerância e desinformação”? Quem é o “dono da verdade”, aquele que definirá o que pode e o que não pode ser dito? Quem será o censor-mor da República?

E Bolsonaro era o autoritário que ameaçava a democracia.