Escolas públicas vs. particulares

Tropecei nesse artigo do site Wealth Advisor, dedicado a consultores financeiros dos ricos. O título é “Porque pais ricos estão escolhendo cada vez mais escolas públicas ao invés das privadas”. Nos EUA, claro. Várias informações interessantes:

1) Na média, os professores das escolas privadas ganham US$14 mil/ano a menos que os professores das escolas públicas.

2) Os professores nos EUA ganham, em média, 30% a menos que o trabalhador médio com nível superior.

3) Alunos de escolas públicas obtém notas melhores em exames de aprendizado do que alunos de escolas privadas, quando ajustado pelo nível de renda.

4) Em um estudo recente, alunos de escolas públicas obtiveram notas 7,3% maiores do que alunos de escolas privadas com mesmo nível de renda, e que estavam estudando com bolsa.

O que o autor do artigo recomenda é, ao invés de pagar escolas caras, melhor seria mudar-se para um bairro com boas escolas públicas. Nos EUA, você só pode matricular seus filhos em escolas públicas do bairro de residência.

Não preciso dizer que a realidade brasileira é BEM diferente.

Os investimentos sem o BNDES

– Ain, mas sem o BNDES os investimentos param, o país para…

Em 2015, emissões privadas mais desembolsos totalizaram R$ 281 bilhões, dos quais 59% eram do BNDES. Nos 12 meses encerrados em março último, emissões privadas mais desembolsos somaram R$ 278 bilhões, dos quais apenas 21% eram do BNDES. Ou seja, o montante permaneceu praticamente o mesmo, enquanto a participação do BNDES caiu em 2/3. Houve, como previsto, o fenômeno do “crowd in”, ou seja, a ausência de um funding atraiu outro, com evidentes ganhos fiscais no processo.

Que sentido tem um banco público fornecer dinheiro subsidiado para empresas que podem se financiar no setor privado? Nenhum. É o que mostram esses dados.

Privilégios

A proposta do relator da PEC da Previdência propunha idade mínima de 55 anos para a aposentadoria de policiais, contra 62/65 anos para as outras profissões.

Para os policiais, isto não é o suficiente. Querem outros privilégios. Têm a seu favor o apoio do presidente e do PSL.

Se você não faz parte das Forças Auxiliares de Segurança, a Nova Previdência acaba com os SEUS privilégios.

O meio de transporte dos ricos

Lembro da primeira vez que estive no Japão, e me espantei quando soube que TODOS os funcionários do escritório da minha empresa, do presidente à secretaria, vinham para o trabalho de trem e metrô. Foi um choque cultural.

Um dos meus colegas de lá me perguntou como era o escritório no Brasil, se era bem localizado. Eu, todo orgulhoso, disse que sim, estava na esquina da Faria Lima com a JK, um dos pontos mais valorizados de São Paulo. Ao que ele replicou: “que bom, deve ter uma estação de metrô perto então”. Para ele, boa localização era estar perto de uma estação do metrô. Não, não era esse o caso, e nem existe o sonho de que seja nos próximos 20 anos.

Foi um evento determinante na minha vida. A partir de então, comecei a pensar no transporte coletivo como uma alternativa real de transporte, livrando-me, aos poucos, do preconceito que cerca esse modal. Afinal, a “elite” vai de carro, enquanto o “povão” vai de trem/metrô/ônibus. Mudei para perto do metrô, vendi meu carro, e hoje uso intensamente o transporte coletivo.

Pelo visto, não fui o único. As viagens de carro caíram 43% em São Paulo entre os mais endinheirados nos últimos 10 anos. Aos poucos, o transporte coletivo vai deixando de ser “coisa de pobre”.

Infelizmente, no entanto, o que ocorre é o inverso: o transporte coletivo é “coisa de rico”. Em uma cidade como São Paulo, o transporte coletivo é muito eficiente nas regiões centrais, mais ricas, mas é de uma ineficiência atroz nas periferias. Não à toa, as viagens de carro subiram mais de 70% entre as menores faixas de renda na mesma pesquisa. Ainda estamos muito distantes de sermos uma Tóquio em termos de serviço de trens e metrôs para as regiões mais distantes. Aqui, como em varias outras áreas, o poder público está a anos luz das necessidades dos mais pobres.

Sistema de lealdades

No espetacular livro “Stálin, a corte do czar vermelho”, de Simon Montefiore, o autor descreve à perfeição as intricadas relações de poder em torno do ditador soviético, e como Stálin mantinha em suas mãos os cordões desse poder.

Lealdade era a palavra chave, e sombras de suspeição recaiam sobre pessoas que até ontem eram consideradas pilares do sistema. Na verdade, esse era o modus operandi: não deixar que ninguém se sentisse seguro de sua posição em momento algum, para que todos se desdobrassem em demonstrar sua lealdade ao ditador. Na União Soviética de Stálin, a falta de lealdade se resolvia com uma bala na nuca.

Ao lembrar de Mourão, Bebianno, Santos Cruz e, agora, Heleno, não pude deixar de lembrar desse livro.

PS: não estou aqui, de maneira alguma, querendo dizer que Bolsonaro é semelhante ao ditador soviético. O paralelo refere-se apenas ao sistema de lealdades que se sobrepõe a um sistema institucional de governo.

É de doer

“Enquanto o mundo discute inteligência artificial, Big Data, indústria 4.0, robótica de alta precisão, etc, e procura avaliar qual a melhor forma de o ambiente institucional estimular o progresso, nós, aqui, ficamos lutando para ver que grupo pode aposentar-se com 55 anos, recebendo seus benefícios de um Estado exaurido. É de doer.”

Fábio Giambiagi, hoje, no Estadão. Leiam, por favor.

A carteira do BNDES

O corpo técnico do BNDES “ganhou” uma reportagem completa do Valor Econômico, sobre a “rentabilidade” da carteira de ações do banco. Segundo levantamento dos próprios técnicos do BNDES (!), essa carteira rendeu 3,5 pontos percentuais acima do Ibovespa.

Qual o sentido disso? Absolutamente nenhum. Se o Tesouro Nacional estivesse em busca de aplicações de risco para o seu, o meu, o nosso dinheiro, há gestores muito mais competentes na praça, gerando ganhos muito maiores.

Mas ao Tesouro, obviamente, não interessa ganhar dinheiro no mercado de ações. Não é para isso que são arrecadados os nossos impostos. O BNDES supostamente existe para suprir “falhas de mercado”, onde à iniciativa privada não interessa o investimento que provê externalidades positivas para a sociedade.

Agora, me diga: que “falha de mercado” foi sanada com a compra de ações de Petrobras, Vale, Gerdau, Suzano, Cemig, etc etc etc? Por que a iniciativa privada não poderia participar dos processos que resultaram nessas ações encarteiradas pelo BNDES? Há, inclusive, uma contradição em termos: se houve “lucro econômico” com a compra dessas ações, é sinal de que não havia “falha de mercado”.

Essa reportagem vem sob medida, no momento em que se discute o desinvestimento dessas participações (são R$ 110 bilhões !!!). Afinal, esse é o raciocínio por trás, por que se desfazer de algo que “dá lucro” para o banco?

São dois os motivos: 1) não é função do Tesouro investir no mercado acionário e 2) o Tesouro está quebrado, e precisa desesperadamente do dinheiro. A reportagem convenientemente não entra em nenhum desses dois pontos.

Abuso de autoridade

Finalmente, um organismo internacional preocupado com o combate à corrupção, e não com os “direitos humanos” dos corruptos.

Não por coincidência, um organismo internacional focado em desenvolvimento econômico.

Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil

A senhora que nos ajuda em casa (vulgo “empregada doméstica”) entrou com pedido de aposentadoria em fevereiro, quando completou 15 anos de contribuição ao INSS. Detalhe: a senhora tem 68 anos de idade, e seu primeiro emprego registrado foi em minha casa, onde começou a trabalhar 15 anos atrás.

Estamos em julho, e ela está pacientemente aguardando o parecer do INSS. Afinal, para quem começou a trabalhar na roça, no interior da Bahia, ainda criança, o que são uns meses a mais, não é mesmo?

Pedro Fernando Nery lamenta a falta de uma Ordem dos Pedreiros do Brasil, que defendesse para os pedreiros uma gorda aposentadoria antecipada como a dos juízes. E eu, da mesma forma, lamento a ausência de uma Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil.

Professores aposentados

O relator está mudando o texto da reforma da Previdência, de modo a diminuir para 57 anos a idade mínima para que professoras se aposentem com o salário integral e tenham paridade com os professores da ativa. O texto original falava em 60 anos.

Que me desculpem professores e professoras, mas este dispositivo vai na contramão de uma educação melhor para nossas crianças. Isso, independentemente da idade estabelecida.

O problema reside no mecanismo. Com integralidade e paridade, o sistema público continuará tirando recursos dos professores da ativa para dar aos professores aposentados. Ou seja, os Estados e Municípios continuarão a ter menos recursos para pagar salários decentes aos professores da ativa. A coisa fica menos pior com o estabelecimento de uma idade mínima, mas o conceito continua torto.

O incentivo é perverso: esse esquema atrai profissionais que topam ganhar uma miséria no presente, em troca de ter uma aposentadoria muito acima do que recebem os outros mortais. Ou seja, os professores entram na carreira sonhando com o dia em que deixarão de dar aula. Como pode isso funcionar?

Deveria ser o inverso: aposentadorias alinhadas com o restante da população, e o compromisso de usar o dinheiro poupado (seria uma espécie de “fundo para a educação”) para aumentar os salários dos professores da ativa. Dessa forma, atrair-se-iam quadros dispostos a ganhar mais hoje, e não na longínqua aposentadoria.