A demografia joga contra nós

Duas notícias hoje sobre demografia: no Estadão, a diminuição da população do Japão; no Valor, a inflexão da “relação de dependência” no Brasil.

Relação de dependência é a proporção de crianças e idosos (que supostamente não trabalham) em relação à população economicamente ativa. Essa relação vinha caindo desde a década de 60 com a redução da fertilidade, o que diminui o número de crianças. Neste ano da graça de 2019, segundo projeções do IBGE, o aumento do número de idosos ultrapassou a diminuição do número de crianças, fazendo com que a relação de dependência aumentasse. O censo de 2020 servirá para confirmar ou não essa projeção.

O Japão está perdendo população à razão de 500 mil habitantes por ano. Morre mais gente do que nasce porque a população é mais velha, na média. A fecundidade brasileira é um pouco maior que a japonesa (1,7 filhos por mulher contra 1,4 do país asiático) mas, ainda assim, menor que a taxa de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. O Brasil só não está perdendo população porque é bem mais jovem e, portanto, o número de nascimentos ainda supera o número de mortes.

Estamos no auge do nosso chamado “bônus demográfico”, ou seja, o menor número de dependentes em relação à população economicamente ativa. Esse bônus significa que o esforço da população que trabalha é, em tese, menor para aumentar a riqueza do país, pois há proporcionalmente mais gente trabalhando. Pois bem: conseguimos jogar no lixo uma parte importante desse bônus, fabricando a maior recessão da história do País com o maior desemprego da série histórica. Ainda dá tempo de usar essa janela que o bônus demográfico proporciona, mas é preciso correr, pois a janela já começou a se fechar.

Há alguns dias, escrevi sobre a aposentadoria do meu filho recém-formado. Segundo projeções do IBGE, daqui a 40 anos, quando ele estiver se aposentando, a relação de dependência no Brasil será semelhante à do Japão hoje. Daqui a 40 anos, provavelmente o Brasil estará perdendo população como o Japão hoje. Lá, eles têm uma poupança acumulada gigantesca, que os ajuda a não depender tanto da riqueza produzida pelas novas gerações. Para o bem do meu filho, espero que isso seja verdade também para o caso brasileiro.

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