O artigo anti-liberal que defende o liberalismo

Fazer-me gastar meus preciosos minutos matinais para ler um artigo de opinião requer habilidade. Normalmente, passo os olhos e, se o título por algum motivo me chama a atenção, dou uma olhada no autor e na conclusão do artigo para ver se me interessa. Se continuar me interessando, leio o primeiro parágrafo para entender como se concatena com o último e, se houver uma contradição forte, leio o resto para entender qual foi o raciocínio que levou do primeiro ao último parágrafo. Coloquei os recortes, então, nesta ordem: o título, o final e, finalmente, o início do artigo.

O título relaciona mercado e jogos de azar, uma relação não muito original, mas resolvi parar porque o articulista, professor titular da USP não da área de economia, iria falar sobre o mercado. Li, então, o último parágrafo, onde o articulista diz que a equipe econômica atual pode ser tudo, menos liberal. Puxa! Vale a leitura do primeiro parágrafo, pensei. Aqui está um verdadeiro liberal, daquele liberalismo raiz, não Nutela.

Pois bem. No primeiro parágrafo, o articulista descreve o que seria o liberalismo clássico, aquele dos séculos XIX e XX. Já comecei a ficar desconfiado, porque o liberalismo do século XX tem pouco a ver com o do século XIX, mas vá lá. Pela descrição do articulista, o liberalismo dá valor ao cumprimento dos contratos e às instituições estatais que garantem este cumprimento. Perfeito, é isso mesmo. A descrição foi fiel. Como não vi nenhuma ação desse governo com vistas a enfraquecer as instituições e o cumprimento dos contratos, fiquei curioso em ler o resto.

Não colei aqui o resto do artigo porque, infelizmente, não há, nas linhas seguintes, uma ideia sequer que ligue o primeiro ao último parágrafo. Digamos que não seria uma redação nota mil do ENEM. O articulista simplesmente elenca várias iniciativas desse governo na área trabalhista e da Previdência como evidências de que as instituições estariam sendo enfraquecidas. Isto não seria liberalismo de verdade! Quase consegui ver Adam Smith escrevendo as normas da CLT e Milton Friedman instituindo a Justiça do Trabalho.

Na verdade, trata-se de mais um artigo defendendo a pauta anti-liberal. Seria apenas mais um artigo que passaria em branco, não fosse esse estilo Ciro Gomes de dizer uma coisa mas jurando que está dizendo outra com ares professorais. O articulista é professor titular de Direito da USP, portanto, amostra da elite pensante do País. Não estamos onde estamos à toa.

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