Não toquem no meu ar-condicionado

Extensa reportagem hoje no Valor descreve como o Fórum de Davos se tornou um “Fórum verde”. São tantos aspectos a comentar que fico até perdido. Destaquei três pontos.

Vamos começar com a indefectível Greta. Ela “exige” que todos os investimentos em combustíveis fósseis cessem IMEDIATAMENTE. Assim, sem mais. Me faz lembrar a personagem da menina mimada da Fantástica Fábrica de Chocolate, que exigia do pai as coisas mais estapafúrdias, e exigia IMEDIATAMENTE. Ok, pode ser somente um recurso retórico para imprimir urgência à questão, forçando a barra na direção desejada. Mas que é caricato para quem tem bom senso, isso é inegável. Greta faz sucesso porque “bom senso” é matéria em falta nos dias correntes.

Mas o que me chamou a atenção foi o epíteto concedido à garota pela reportagem: nada menos que “porta-voz de sua geração”. Uau! Quem a elegeu? No máximo, Greta é representante da geração que fala muito e faz pouco. No dia em que eu testemunhar garotos e garotas em lares privilegiados abrindo mão do ar-condicionado no verão e da calefação no inverno, vou começar a dar ouvidos ao que falam.

O segundo ponto é o tal do “desinvestimento” em empresas ambientalmente incorretas. Parece que é algo que está “explodindo” nos fundos de universidades e ligados a instituições religiosas. Bem, há coisa de dois meses, a Aramco fez a maior abertura de capital da história, com demanda bem acima da oferta. A Aramco, pra quem chegou agora, é a empresa estatal saudita responsável por explorar petróleo naquele país. Assim como a Aramco, as outras empresas de petróleo vão muito bem, obrigado. E será assim enquanto não descobrirem outra forma mais barata de aquecer os jovens ativistas em suas atividades durante o inverno.

Por fim, na mesma página, uma pequena matéria descreve o boom de energia suja na África. Adivinha: países pobres em rápido crescimento vão usar a energia mais barata para o seu desenvolvimento. Foi assim com os atuais países ricos, e seria até cruel exigir outra coisa dos países mais pobres. Há um vago discurso de que “precisamos ajudar os países pobres a se desenvolveram sem agredir o meio-ambiente”. Sim, precisamos. Os países africanos, como sempre, esperarão sentados.

Enfim, longe de mim demonizar iniciativas que visem criar um futuro sem poluição e aquecimento global. Apoio tudo isso. Só não toquem no meu ar-condicionado.

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