A injustiça do VAR

Sou do tempo em que Maradona fez o gol de mão contra a Inglaterra. La mano de Dios. Um erro claro da arbitragem. Mas claro no replay. Na hora, o gênio fez com que todos acreditassem que um jogador de 1,65m ganhou de cabeça de um goleiro muito mais alto que saiu com as mãos. Se houvesse o VAR, teríamos sido privados de um momento histórico, épico, comentado até hoje, mais de 30 anos depois.

Quando lançaram o VAR, critiquei aqui. Hoje foi apenas mais um dia em que aprofundei na convicção de que o VAR não tem nada a ver com futebol.

Futebol é a vida, com seus erros e acertos, com a sua não linearidade, poucos momentos apoteóticos cercado de mesmice por todos os lados. Futebol só é o esporte mais popular do mundo porque é assim. O VAR torna o esporte mais parecido com outras coisas em que a tecnologia tem um papel fundamental na decisão de quem é o vencedor. Natação ou atletismo, por exemplo.

Ninguém gosta de ser vítima de um erro do árbitro, claro. O VAR veio acabar com essas supostas injustiças. Mas o que se viu hoje na Vila Belmiro foi justamente o oposto: o VAR cometeu injustiça, mesmo cumprindo a letra fria da regra.

Nos dois lances, o impedimento era impossível de ser visto a olho nu. Foi um centímetro, se muito. É muito difícil defender que este “adiantamento” tenha sido decisivo para que o gol tivesse sido marcado. Se o jogador estivesse um centímetro para trás, provavelmente o desfecho teria sido o mesmo.

O que eu quero dizer é que lances impossíveis de serem detectados pelo juiz em campo (com a possível exceção a atitudes anti-desportivas) deveriam fazer parte daquilo que chamamos, na vida, de “erro normal”. Nos tempos em que não existia o VAR, esses dois lances seriam revisados pelos comentaristas, haveria muita discussão sobre se havia ou não impedimento, mas a conclusão seria unânime: impossível o bandeirinha perceber.

Antes de dizerem que o choro é livre, estaria escrevendo a mesma coisa se o erro do VAR fosse a favor do meu time. Sim, erro do VAR. Não se anula um gol quando são necessários 5 minutos para se concluir que havia impedimento. Se a máquina demora essa eternidade, então é porque tem algo muito errado nisso tudo.

Enfim, acho a tecnologia interessante quando avisa o juiz quando a bola ultrapassou a linha, ou que houve uma atitude anti-desportiva. Mas o que se viu hoje foi a letra vencer o espírito, a regra vencer a alma do jogo. Não, me desculpem, isso é tudo, menos futebol.

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