Uma doença mutante

Junto aqui uma notícia com um artigo do Fernando Reinach com os números da epidemia na Espanha.

A notícia é a seguinte: o inquérito sorológico quinzenal patrocinado pela prefeitura de São Paulo encontrou um aumento significativo de contaminados pelo novo coronavírus em bairros de IDH mais alto (centro expandido de São Paulo). No entanto, este aumento de contaminação, surpreendentemente, não resultou em maior procura pelos maiores hospitais da região.

Corta para o artigo, aliás, espetacular.

Fernando Reinach afirma que a verdade verdadeira é que esses testes rápidos usados nos inquéritos sorológicos (inclusive o paulistano), têm resultados tão verdadeiros quanto uma nota de R$3. Segundo ele, estamos descobrindo que esses testes não detectam a presença de anticorpos após algum tempo da contaminação. Ou seja, pessoas podem ter sido contaminadas, serem já imunes, e o tal teste não detectar.

Trata-se de uma descoberta recente, e que joga por terra a estratégia das pesquisas sorológicas baseadas em testes rápidos para o estabelecimento de estratégias de abertura da economia. Podemos ter uma população muito maior já contaminada a essa altura do campeonato.

Corta para a Espanha (gráfico abaixo).

Na Espanha, o pico de casos da 1a onda foi em 21/03, com 192 casos/milhão de habitantes. O pico de óbitos ocorreu 13 dias depois, no dia 03/04, com 18,4 óbitos/milhão. Agora, a 2a onda. O pico dessa 2a onda foi no dia 27/08, com 158 casos/milhão. 14 dias depois, no dia 09/09, temos o suposto pico de óbitos (ainda não sabemos se é um pico): 1,4 óbitos/milhão.

Então, temos o seguinte: o pico da 2a onda foi de 82% do pico da primeira, enquanto o pico de óbitos da 2a onda foi de 7,6% do pico da primeira. Ou, de outra forma: se o número de óbitos nesta 2a onda fosse proporcional ao número da 1a onda, teríamos hoje 8,4 vezes mais óbitos.

O que mudou da 1a para a 2a onda? Mais testes? Pessoas mais jovens sendo contaminadas? Melhores protocolos médicos? Mutação benigna do vírus? São várias as tentativas de explicação. Nada que realmente explique.

Esse conjunto de informações só faz crescer minha convicção de que estamos tratando com um alvo móvel. Certezas absolutas são substituídas por outras certezas absolutas. É preciso ter a mente aberta para receber novos conjuntos de informações e agir de acordo. Fernando Reinach tem essa capacidade, na minha opinião. Sua leitura da pandemia vem mudando com o tempo, na medida em que novas informações foram chegando. A pandemia no início era uma coisa, hoje é outra. Quem, no início, defendia que se tratava de uma gripinha, estava errado. Assim como hoje, quem defende que estamos à beira do apocalipse, está errado. Olhamos para trás e vemos 130 mil mortos. Olhamos para frente, e vemos, por tudo o que foi descrito acima, perspectivas melhores, não piores.

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