Houston, we have a problem

Para os poucos que ainda não sabem, sou graduado em Engenharia. Na minha primeira aula na Poli de Introdução à Engenharia, com o saudoso Prof. Fadigas, guardei para mim a definição do engenheiro: aquele que é treinado para resolver problemas.

Aprendi também desde cedo que para resolver um problema precisamos reconhecer que há um problema. Quer dizer, antes mesmo de estudar as características do problema, e, óbvio, antes de sair feito um louco atrás da solução, é preciso antes de tudo reconhecer que existe um problema. “Houston, we have a problem” é o primeiro passo para a solução.

Digo isso porque, nesse caso da pandemia da Covid, parece que não conseguimos sequer chegar a um consenso de que existe um problema. Sem este consenso, ficará obviamente mais difícil caminhar para uma solução. Afinal, solução para quê, se não existe problema algum?

Coloquei o gráfico abaixo para tentar mostrar que existe um problema.

Trata-se da evolução do número de óbitos/milhão/dia, média móvel de 7 dias. Observe como o gráfico do Brasil muda completamente de padrão a partir da segunda metade de fevereiro. Nos dois picos anteriores, entre junho/julho de 2020 e janeiro/meados de fevereiro deste ano, o número de óbitos atingiu um platô de 5 óbitos/milhão/dia e ficou durante bastante tempo. Trata-se de um padrão próprio, diria brasileiro, diferente de EUA e Europa, onde os picos foram, em geral, muito mais altos e rápidos. Mas então alguma coisa de muito esquisita e errada aconteceu a partir de meados de fevereiro. A curva inclinou de maneira aguda, e subimos de 5 para quase 11 óbitos/milhão/dia em um mês. E nada indica que pararemos por aí.

Temos um problema. Esta curva de crescimento de óbitos simplesmente não é normal. Precisamos nos convencer todos, a começar do dignitário instalado no Palácio do Planalto. Caso contrário, não conseguiremos começar a pensar em uma solução.

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