Houston, we have a problem

Para os poucos que ainda não sabem, sou graduado em Engenharia. Na minha primeira aula na Poli de Introdução à Engenharia, com o saudoso Prof. Fadigas, guardei para mim a definição do engenheiro: aquele que é treinado para resolver problemas.

Aprendi também desde cedo que para resolver um problema precisamos reconhecer que há um problema. Quer dizer, antes mesmo de estudar as características do problema, e, óbvio, antes de sair feito um louco atrás da solução, é preciso antes de tudo reconhecer que existe um problema. “Houston, we have a problem” é o primeiro passo para a solução.

Digo isso porque, nesse caso da pandemia da Covid, parece que não conseguimos sequer chegar a um consenso de que existe um problema. Sem este consenso, ficará obviamente mais difícil caminhar para uma solução. Afinal, solução para quê, se não existe problema algum?

Coloquei o gráfico abaixo para tentar mostrar que existe um problema.

Trata-se da evolução do número de óbitos/milhão/dia, média móvel de 7 dias. Observe como o gráfico do Brasil muda completamente de padrão a partir da segunda metade de fevereiro. Nos dois picos anteriores, entre junho/julho de 2020 e janeiro/meados de fevereiro deste ano, o número de óbitos atingiu um platô de 5 óbitos/milhão/dia e ficou durante bastante tempo. Trata-se de um padrão próprio, diria brasileiro, diferente de EUA e Europa, onde os picos foram, em geral, muito mais altos e rápidos. Mas então alguma coisa de muito esquisita e errada aconteceu a partir de meados de fevereiro. A curva inclinou de maneira aguda, e subimos de 5 para quase 11 óbitos/milhão/dia em um mês. E nada indica que pararemos por aí.

Temos um problema. Esta curva de crescimento de óbitos simplesmente não é normal. Precisamos nos convencer todos, a começar do dignitário instalado no Palácio do Planalto. Caso contrário, não conseguiremos começar a pensar em uma solução.

As principais causas mortis no Brasil

No dia 17/03 último completou-se um ano da primeira morte por Covid-19 no Brasil. Neste dia, totalizamos, segundo dados do Ministério da Saúde, 284.775 óbitos por Covid-19. É muito? É pouco?

Fui dar uma olhada nas estatísticas do Datasus, a base de dados do Ministério da Saúde, que traz a causa mortis de todos os óbitos do país. Os dados estão atualizados até 2019. Neste ano, houve um total de 1.349.801 mortes no Brasil. As causas campeãs foram as seguintes:

  • Câncer: 235.301
  • Causas externas (violência/acidentes): 142.800
  • Infarto e outras doenças isquêmicas do coração: 117.549
  • Derrame: 101.074
  • Pneumonia: 83.080
  • Diabetes: 66.710

Os números são comparáveis porque se trata do mesmo período.

Alguém sempre poderá dizer que deve ter morrido menos gente das outras causas em 2020, simplesmente houve uma troca de uma causa de morte por outra. Só saberemos isso com certeza quando os dados de 2020 do Datasus forem publicados. De qualquer forma, não parece haver dúvida de que a Covid-19 é, hoje, a principal causa de morte no Brasil.

Atualização da vacinação

Trago dois gráficos mostrando a evolução da vacinação no Brasil e os dois gráficos mostrando a marcha da vacinação no mundo.

O primeiro gráfico mostra o total de vacinados no Brasil vis a vis o total de vacinas disponibilizadas pelo governo federal.

As barras azuis mostram as vacinas disponibilizadas em milhões de doses, a linha laranja o total de doses em relação ao total da população (no caso, 11,24%), a linha amarela o total de doses aplicadas até o momento (contando 1a e 2a doses) e a linha cinza o percentual da população vacinada com pelo menos a primeira dose. Note que os objetivos são diferentes: se toda a população estiver vacinada, a linha cinza chegará a 100, enquanto se toda a população tiver recebido a 2a dose, a linha laranja chegará a 200. Além disso, o governo deverá disponibilizar 200% do total da população para que todos recebam duas doses (estou falando aqui em tese, pois sabemos que as crianças não serão vacinadas).

O segundo gráfico mostra a evolução do ritmo de vacinação.

A linha azul é o percentual da população vacinada diariamente, enquanto a linha laranja é a média dos últimos 7 dias. Podemos observar que, até mais ou menos meados de fevereiro, o ritmo vinha em 0,10% ao dia, mas caiu para 0,05% na 2a quinzena de fevereiro, provavelmente porque tivemos um gap grande no recebimento de vacinas (houve um lote em 06/fev e outro só em 24/fev). O ritmo voltou a se acelerar a partir de então e agora, 20/03, atingimos a maior média da série, 0,13% ao dia, provavelmente porque os Estados estão recebendo mais vacinas neste mês de março.

Por fim, a marcha da vacinação.

Vê-se claramente que houve uma aceleração no Brasil de uma semana para cá: a vacinação de pelo menos uma dose para 70% da população estava prevista para dez/22 há uma semana e agora está em jun/22. Ainda é um ritmo insatisfatório, este número precisa estar dentro de 2021, mas já é alguma coisa. Aliás, em tese, pelo número de doses administradas, todos os maiores de 70 anos já deveriam ter recebido pela menos a 1a dose. Isto ainda não aconteceu porque há 2as doses e outros grupos prioritários sendo vacinados, mas estamos chegando perto. Na maioria dos Estados, a campanha para maiores de 70 anos já está em andamento.

Enfim, as notícias são melhores do que há uma semana. Vamos continuar na batalha.

Não estamos em um conto de O. Henry

Um dos problemas mais difíceis de resolver em economia é o chamado “contrafactual”. Ou seja, o que teria sido se outra coisa tivesse sido feita. Aliás, esse é um problema das nossas vidas, a economia é apenas o estudo de nossas vidas de um ponto de vista particular. Nossas vidas são uma linha reta, impossível de saber o que teria sido se outra coisa tivéssemos feito.

O segundo filme da trilogia “De Volta Para o Futuro” trata desse tema de maneira muito cômica. O protagonista viaja para o futuro e, quando volta para o passado, cai em um mundo completamente diferente. Ocorre que o vilão havia conseguido viajar para o passado e havia mudado um ponto da história. O protagonista, portanto, havia caído em uma “realidade contrafactual”, aquela que teria sido se um determinado ponto da história tivesse sido diferente.

O exemplo oposto é de um conto de O. Henry, autor norte-americano famoso pelos seus contos paradoxais. Neste conto, Caminhos do Destino, O. Henry narra a história de um sujeito que se vê diante de uma bifurcação na estrada e tem três decisões possíveis: ir pela esquerda, ir pela direita ou voltar. O. Henry conta a história das três decisões possíveis, e nas três o sujeito acaba morto pela arma de um mesmo indivíduo. Ou seja, temos o nosso destino traçado, o que quer que façamos.

Faço menção ao contrafactual porque muitos bolsonaristas dizem que se o presidente tivesse agido de outra forma, dando prioridade para medidas de mitigação da pandemia ou para a obtenção de vacinas, a realidade não seria muito diferente da que temos hoje. Estaríamos mais para um conto de O. Henry do que para o filme De Volta Para o Futuro.

Para corroborar essa afirmação, apresentam como contrafactual os resultados de outros países: estamos longe de sermos os piores em termos de óbitos por Covid ou ritmo de vacinação comparados com outros países que, em tese, fizeram direitinho a lição de casa. Este seria o contrafactual.

O que dizer?

Em primeiro lugar, o jogo ainda não terminou. Comparações neste momento correm o risco de se tornarem velhas. Mas o principal defeito desse raciocínio é o uso de um contrafactual potencialmente inadequado. Vou dar um exemplo familiar.

Meu filho sempre foi o primeiro da turma nas escolas onde estudou. Tínhamos muito orgulho de sua performance. No entanto, quando foi prestar vestibular para Medicina, teve que fazer dois anos de cursinho para passar. O fato de ter sido primeiro da turma no colégio não se traduziu em facilidade para passar em um vestibular concorrido. O fato é que o nível da comparação anterior era simplesmente inadequado. Foi necessário trabalho duro para atingir o objetivo.

Há pessoas que têm facilidade para fazer certas coisas, estão acima da média. Têm o “dom”, como dizemos. Esse dom, no entanto, não é tudo. Há pessoas que compensam a falta do dom com trabalho duro. Tinha um colega na Poli que fez três anos de cursinho para entrar. Ele claramente não tinha o dom como a maioria de nós, mas compensou isso com trabalho duro e, hoje, tem o mesmo diploma.

Todos nós somos uma mistura de dom com trabalho duro. Dizem que Pelé e Ayrton Senna se destacavam pela dedicação aos treinos. Conhecemos muitos jogadores talentosos que ficam pelo caminho porque não se dedicaram suficientemente à carreira. Quando um filho meu vai mal em uma prova, a primeira coisa que pergunto é: você está com a consciência tranquila de que estudou tudo o que poderia ter estudado? O resultado de uma prova específica é, muitas vezes, acidental. O resultado de muitas provas é fruto de dom + esforço.

O governo Bolsonaro está indo mal na prova da pandemia? Comparado com outros países, parece que não especialmente. Fez tudo o que estava ao seu alcance? Este é o ponto. As mensagens ao longo do tempo foram quase sempre no sentido de minimizar o problema. Se o governo efetivamente fez algo, se perdeu no meio da mensagem.

Então, o fato de, comparativamente, o Brasil não estar entre os piores, não serve de nada. Não somos o último aluno da sala, mas sempre ficará a dúvida se, com mais trabalho duro, não poderíamos ter nos saído melhor. Dizer que “teria sido a mesma coisa” é uma afirmação a priori, sem contrafactual possível. Em outras palavras, a história muda se a fazemos de maneira diferente. Não estamos em um conto de O. Henry.

Quem avisa, amigo é

Outro dia foi Gilberto Kassab. Hoje, é outra raposa política que dá “dicas” para o presidente.

Parece eu quando comecei a ensinar xadrez para o meu filho: “não, filho, com esse movimento você deixa sua dama exposta e perde o domínio do centro do tabuleiro”. E, como todo pai, deixava ele voltar a peça e pensar mais um pouco.

Frequentemente, no entanto, meu filho agia orgulhosamente e não voltava a peça, dizendo que ele é que estava certo. O resultado desastroso não tardava a aparecer.

As raposas políticas brasileiras reconhecem que Bolsonaro tem um apoio popular não desprezível e é com ele que precisam conviver. E, se for possível embarcar em sua recandidatura em 2022, tanto melhor, desde que consigam a sua parte no latifúndio. Por isso estão tentando fazer ver ao presidente suas jogadas sem futuro.

Para o bem da saúde do povo (e, no caso, para o bem de suas ambições) seria bom que não se deixasse levar pelo orgulho próprio.

Quiz do dia

Quiz do dia: quem é o autor do tuíte abaixo?

a) Lula, em sua linha de se colocar como o candidato que se preocupa com a saúde do brasileiro.

b ) João Doria, em mais um discurso oportunista, aproveitando a pandemia para se auto-promover

c) Felipe Neto, continuando sua campanha para derrubar esse presidente genocida

d) Maju “o-choro-é-livre” Coutinho, no típico discurso da mídia “independente” brasileira

e) Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara e representante da fina flor do Centrão – aquele pedaço do Congresso que vai evitar a votação do impeachment -, mandando recado de que o presidente não está agradando.

Inflação, pra que te quero

Há quem diga que um país pode se endividar à vontade em sua própria moeda, pois os financiadores não têm escapatória, a não ser financiar o governo. Isto valeria especialmente para o Brasil, onde não são muitas as alternativas dos investidores além dos títulos públicos. No limite, o governo resolve seu problema rodando a maquininha de imprimir aquele papel de gosto duvidoso chamado Real. Não quer meu título de dívida? Tome aqui esse papel colorido e vai com Deus!

Em países onde prevalece uma longa história de respeito pelos contratos, isso até certo ponto é verdade. EUA, Alemanha, Japão, Reino Unido formam um grupo de países que podem, até certo ponto, abusar de sua prerrogativa de endividar-se. Do lado de baixo do Equador, no entanto, isso está longe de ser verdade.

Há três dias “comemorávamos” os 31 anos do confisco dos haveres dos brasileiros pelo Plano Collor. Foi o único calote de fato da dívida interna, incluindo o papel pintado. Os outros “calotes” se deram através da inflação.

Este preâmbulo serve como pano de fundo para analisar a decisão do BC de elevar a taxa Selic pela primeira vez nos últimos 5 anos. De todos os bancos centrais do mundo que importam, somente a Turquia está elevando juros. É compreensível: estamos em meio a um desastre sanitário sem precedentes, que atingiu o emprego e a renda de uma parcela relevante da população. Pensar em inflação nesse contexto parece fora de lugar.

Não no Brasil. Aqui, o BC reagiu a uma deterioração das expectativas de inflação, que ameaça romper a banda superior da meta esse ano e ficar acima da meta no ano que vem. Em princípio, essa deterioração vem do fato de que o câmbio está muito pressionado, contaminado vários preços da economia, a começar dos combustíveis.

Mas o câmbio é apenas o sintoma, não a doença. A doença é a percepção de que o governo brasileiro, em todos os níveis e esferas, não está a fim de cortar gastos. “Gasto é vida”, já disse uma ex-presidenta de triste memória. Sua desastrosa passagem pelas nossas vidas não foi o suficiente, no entanto, para arrancar esse mantra que permanece nos corações e mentes da sociedade brasileira.

Vejamos o exemplo concreto, que foi o gatilho para a piora substantiva dos preços no mercado financeiro nas últimas semanas: a aprovação do auxílio emergencial em troca de alguns “gatilhos” de contenção de gastos. O que são esses “gatilhos”? Basicamente o congelamento do salário dos servidores públicos quando as despesas obrigatórias (e salários são despesas obrigatórias) ultrapassarem 95% das despesas totais. O mecanismo que permitiria corte de salários e jornadas de trabalho foi descartado.

Não passou despercebido o seguinte: o efeito do congelamento de salários sobre os gastos do governo (em relação às receitas) é tanto maior quanto maior for a inflação. Os salários não são reajustados e perdem o seu poder de compra. Ou seja, o ajuste das despesas do governo PRESSUPÕE QUE EXISTA INFLAÇÃO. E, quanto maior, melhor. Se não houver inflação, esses gastos diminuem apenas na medida do crescimento da economia que, como sabemos, é muito fraco.

Quer dizer, a mensagem foi a seguinte: o ajuste fiscal se dará através da inflação. E, claro, com uma mensagem dessas, os financiadores da dívida pedem um prêmio mais alto para carregá-la, de modo a se protegerem da inflação futura. O BC apenas sanciona algo que já foi percebido pelos credores da dívida.

É claro que este é um círculo vicioso: taxas de juros mais altas produzem mais despesas financeiras, que por sua vez aumentam a dívida, piorando a percepção de risco. O BC tenta fazer a sua parte, mas é como dar um anti-febril para um paciente com Covid e mandá-lo de volta para casa. O vírus continua lá, fazendo o seu trabalho no pulmão do indivíduo.

Quando assumiu a presidência da Argentina, Maurício Macri tinha um plano de reorganização das finanças públicas argentinas. Como sabemos, fez muito pouco, muito tarde. Lá, como aqui, as dificuldades políticas são enormes para se cortar despesas. Lá, como aqui, os credores sabem que a inflação é o único remédio para esse problema. Macri pagou o preço. Bolsonaro aprenderá com seu vizinho do sul?

Ritmo da vacinação – atualização

Republico os gráficos abaixo atualizados e com dados mais precisos, obtidos no site do Ministério da Saúde.

O primeiro mostra, nas barras cinzas, as doses, em tese, contratadas pelo Ministério da Saúde, segundo reportagem de O Globo. A linha laranja mostra o número acumulado de doses até o final do ano. As barras em azul mostram as doses efetivamente despachadas para os estados e a linha amarela mostra o número de doses já distribuídas.

Podemos observar que até ontem, 17/03, apenas 9,7 MM de doses foram distribuídas em março, faltando 28,3 MM para completarem as programadas 38 MM para o mês. Ou seja, em metade do mês o Ministério entregou 25% das doses, restando 75% para a segunda metade.

O segundo gráfico mostra o percentual de doses aplicadas em relação ao total de doses disponibilizadas pelo Ministério da Saúde (linha laranja). As barras azuis mostram o total de doses disponibilizadas em cada dia. Note que, quando um lote é distribuído, o percentual imediatamente cai, pois este lote de vacinas vai demorar alguns dias para ser aplicado.

Podemos observar que o número de doses aplicadas varia entre 60% e 80% do total de doses disponibilizadas. Como é preciso guardar uma parte das vacinas para aplicar a 2a dose, chegar perto de 80% das doses é praticamente acabar com o estoque disponível.

Enfim, claramente o gargalo ainda está na disponibilização das doses.

Corre Queiroga, corre!

Sinal amarelo

A popularidade do presidente caiu aos menores níveis de seu mandato, equivalente ao patamar que prevaleceu entre os meses de maio e julho do ano passado, coincidentemente, o período em que vimos o número de óbitos subir de maneira relevante e permanecer em patamar elevado.

O número de óbitos começou a cair a partir de agosto, o que, em conjunto com o auxílio emergencial, fez com que a popularidade se recuperasse nos meses seguintes.

Não se trata ainda de um nível desesperador para o governo, mas acende uma luz amarela. Neste nível de popularidade, dificilmente um governo se reelege ou elege seu sucessor, é o que mostra a história. A boa notícia para Bolsonaro é que as eleições estão a um ano e meio de distância e a pandemia tem data para terminar, com o avanço da vacinação.

A questão que fica é o rescaldo da crise: quanto cresceremos e qual será a velocidade de recuperação do emprego, considerando a resposta lenta da vacinação. São estes os fatores que determinarão as chances de reeleição, por mais que a resposta à crise sanitária tenha sido um desastre.

Prioridades

Gilberto Kassab, uma das raposas mais felpudas do cenário político brasileiro, corrobora o que escrevi aqui dias atrás: não há chance de uma “candidatura de proveta” de centro prosperar.

Mas não foi esse o ponto que me chamou a atenção na entrevista de hoje no Estadão. Destaquei as duas perguntas finais, sobre o desempenho do governo federal na pandemia.

“Se fosse presidente, estaria visitando a Fiocruz semanalmente. Essa condução não pode ser delegada. Se fosse presidente, teria transferido o meu gabinete para a Fiocruz.”

Não precisa ser uma raposa da política para entender que a vacinação é o “dia D” na guerra contra a pandemia. A névoa da ideologia cegou o presidente durante meses cruciais em relação a essa verdade tão comezinha.

Foram meses de negação, detonando o contrato da Pfizer, dizendo que eram os laboratórios que deveriam nos procurar, alimentando teorias conspiratórias a respeito dos supostos efeitos das vacinas, detonando a “vachina do Doria”, enfatizando a não obrigatoriedade da vacinação, colocando a aprovação da Anvisa como primeiro passo para o governo se movimentar. Enfim, uma longa lista de erros.

Alguns dirão que faltam vacinas no mundo e muitos países que fizeram tudo certo ainda assim não as tem. Isso é meia verdade, mas digamos que seja uma verdade inteira. Pouco importa. Política é imagem, política é narrativa. Quando Kassab diz que mudaria seu gabinete para a Fiocruz, é disso que se trata. É provável que este ato não fizesse o laboratório produzir uma dose sequer a mais de vacina. Mas o ponto não é esse. O objetivo seria mostrar que o governo está totalmente comprometido com a prioridade número 1 dos brasileiros no momento. Uma prioridade, segundo Kassab, mais importante do que uma casa ou um carro. No que ele tem razão.

“Essa condução não pode ser delegada”. Não consigo enfatizar suficientemente este ponto. Não adianta querer jogar o problema econômico no colo dos governadores. Memes, informações distorcidas e carreatas “fora Doria” servem para galvanizar os convertidos. Para a grande maioria dos brasileiros, presidente e governadores estão no mesmo saco dos efeitos perversos da pandemia.

Os governadores, pelo menos, perceberam antes que a vacina é a solução. Só o tempo dirá se será suficiente para reelegê-los. Quanto ao presidente, talvez fosse melhor mudar seu gabinete para a Fiocruz.