O problema está na demanda, não na oferta

Adriano Pires, um dos maiores especialistas brasileiros em energia, escreve artigo no Brazil Journal em que explica o aumento absurdo dos preços dos combustíveis fósseis, principalmente gás, no mundo inteiro.

Resumindo a ópera: a demanda encontra-se em patamar muito maior que a oferta. Por trás desse truísmo econômico encontra-se uma realidade para a qual precisamos nos preparar: a oferta de energia “limpa” é instável e não confiável. Depende essencialmente da boa vontade da Mãe Natureza, que pode simplesmente se negar a colaborar, como temos visto na estiagem desse ano, que praticamente desligou Belo Monte, e na falta de ventos no Mar do Norte, que diminuiu a produção de energia eólica na Inglaterra.

Combustíveis fósseis, grandes lagos de hidroelétricas e átomos de plutônio são reservatórios de energia que servem como estoque para essas ocasiões em que mamãe natureza não colabora. Ocorre que a retirada de energia desses reservatórios gera poluição (ou, no caso dos lagos, a morte de muitas espécies), o que não combina com uma sociedade moderna e atenta aos problemas causados por esses processos.

O resultado é um descompasso entre oferta e demanda. Destaquei o trecho do artigo que acredito ser o mais importante.

Tenho repisado esse ponto toda vez que escrevo sobre o assunto: o problema está na demanda, não na oferta. Não existe uma migração de energias “sujas” para energias “limpas” sem custo. A energia limpa é mais cara, pelo simples fato de não ter fornecimento confiável ao longo do tempo. A solução é diminuir a demanda. Queremos um mundo mais limpo? Desliguemos nossos ar-condicionados e nossos sistemas de aquecimento (no caso do hemisfério norte). Achar que vamos continuar consumindo a mesma quantidade de energia, só que limpa, é pura ilusão. É isso que Adriano Pires mostra nesse artigo.

No final, quem sofre, como sempre, são os mais pobres. A migração para energias “limpas” torna a energia mais cara, e o preço é pago por todos, inclusive os mais pobres. Claro que as alterações climáticas afetarão também os mais pobres. Estamos no típico caso do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. A solução? Não vejo outra, a não ser diminuir o consumo. Conseguiremos abrir mão do conforto? Pouco provável.

O resultado é um preço de energia estruturalmente mais alto. É bom nos acostumarmos com a ideia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.