Corno manso

Já escrevi aqui sobre o uso da conjunção adversativa “mas”. Trata-se de uma palavrinha que quer passar a ideia de que ambas as ideias ligadas são igualmente importantes, ainda que opostas. No entanto, quem tem algum treino de leitura, sabe que a segunda ideia domina a primeira, ainda mais se estão opostas uma ideia geral e conceitual e outra mais, digamos, prática, da vida.

Assim, por exemplo, na frase “sou a favor da fidelidade conjugal, mas sabe como é, a carne é fraca”, a fidelidade conjugal faz o papel de um objetivo desejável mas impossível de ser alcançado diante da fraqueza da carne. Claro está que a primeira ideia é somente uma declaração de intenções, enquanto é a segunda que determina a real intenção do orador.

O ministro da economia continua querendo nos convencer de que é um defensor da austeridade e do teto de gastos. Mas aí vem a palavrinha “mas”, com a ideia que realmente é importante: não dá para deixar 17 milhões de pessoas passando fome. Esta é a parte prática, a que realmente importa. Assim como o marido que trai a mulher (ou vice-versa, para não me chamarem de misógino), a tal fidelidade é somente uma declaração de intenções.

Infelizmente para o ministro da Economia, o mercado não é corno manso. Pelo contrário, costuma ser muito vingativo.

Fazendo a coisa certa

Nos últimos dias, vimos o bolsonarismo virando suas baterias para o mercado financeiro. Desde o próprio presidente, que chamou o mercado de “nervosinho”, passando pelo ministro da Economia, que afirmou que prefere não tirar 10 no fiscal para ajudar os “mais necessitados”, até as redes sociais, que estão acusando os que são contra o auxílio de serem os mesmos “liberais” que disseram para o povo ficar em casa.

O problema para os bolsonaristas é que, ao contrário das pessoas, não tem como cancelar o mercado. Pode xingar à vontade, o mercado estará lá, no dia seguinte, precificando as ações do governo. Trata-se de um “inimigo” de natureza diferente.

A maior parte dos brasileiros (o que inclui petistas e bolsonaristas, mas não só) acha que o mercado financeiro é um bando de meia dúzia de especuladores que ganham dinheiro às custas do sofrimento do restante dos brasileiros, incluído aí o presidente da república. Vou aqui procurar fazer um serviço de utilidade pública. Sabemos que o primeiro passo para resolver qualquer problema é diagnostica-lo corretamente. Vou procurar, neste post, definir a natureza do mercado financeiro. Dessa forma, o presidente e seus fãs poderão melhor enfrentar esse novo inimigo da pátria.

Para explicar o mercado, vou tomar como exemplo o dólar, mas o que vou explicar vale também para os juros e a bolsa. Como qualquer outro ativo, a cotação do dólar é fruto das negociações entre compradores e vendedores da moeda. Se há mais compradores do que vendedores, a cotação do dólar sobe, e vice-versa. Resta saber quem são esses compradores e vendedores e as suas motivações.

O senso comum atribui esse papel exclusivamente aos tais “especuladores”, seres das trevas que se reúnem em salas elegantes para manipular as cotações do dólar em seu próprio proveito. Os especuladores, de fato, existem, e abordaremos suas motivações por último. Antes disso, vamos discutir o papel de outros agentes na formação do preço do dólar, e que são muito mais importantes na tendência de longo prazo.

O primeiro agente são as empresas que dependem, de alguma maneira, do câmbio. Podem ser exportadores, importadores, multinacionais que recebem investimentos ou remetem dividendos. Há uma gama enorme de grandes empresas que se enquadram em alguma dessas categorias. Seus administradores estão o tempo inteiro avaliando o cenário para decidir se compram ou vendem dólares. Agora mesmo, por exemplo, as empresas exportadoras brasileiras não estão internalizando as suas vendas no exterior, preferindo manter os dólares lá fora. Ao fazer isso, não vendem dólares para comprar reais, o que ajuda a desvalorizar o real.

Um segundo agente são os próprios bancos que financiam as empresas que têm operações no exterior. Ao financiar essas empresas em dólar, os bancos podem tomar decisões sobre proteger ou não seus balanços da variação cambial.

Um terceiro agente são as pessoas físicas. Seja por motivo de viagem internacional, seja por quererem diversificar seu patrimônio em outras moedas, as pessoas físicas também compram dólares. O ministro da Economia, com sua offshore, é somente um exemplo. Uma outra forma de comprar dólares é aplicar em fundos com variação cambial no Brasil. Neste caso, o gestor desses fundos é obrigado a comprar ativos dolarizados, pressionando a cotação do dólar para cima.

E por falar em gestores de fundos, chegamos ao quarto agente, os especuladores propriamente ditos. Existem dois tipos de gestores de fundos: aqueles que fazem a gestão de fundos que têm necessariamente exposição ao dólar, e aqueles que usam o dólar somente para atividades especulativas, ou seja, procuram simplesmente lucrar com a variação da moeda.

O primeiro tipo é escravo do investidor: se o investidor escolheu um fundo cambial, cabe ao gestor somente comprar os dólares, sem discussão. Esse é o objetivo do fundo, e foi por isso que o investidor colocou seu dinheiro ali. Mas é o segundo tipo o de maior interesse aqui.

O gestor de patrimônio que usa o câmbio para tentar ganhar algum dinheiro é agnóstico. Isso quer dizer que tanto faz se o dólar sobe ou cai, o que interessa é estar na ponta certa quando uma dessas duas coisas acontecer. Esse gestor (que é o tal “especulador”) sabe que seu tamanho é minúsculo perto dos outros agentes (empresas, bancos e pessoas físicas em seu conjunto). Portanto, em um mercado gigantesco como o cambial, não há como sonhar em manipulação. O sonho do especulador é poder surfar a onda correta, seja de valorização ou desvalorização do dólar.

Para tomar suas decisões, o especulador procura antecipar o que os outros agentes vão fazer. Para isso, analisa os fundamentos que guiam as decisões de empresas, bancos e indivíduos. Sabemos que esses agentes, em países subdesenvolvidos, não costumam confiar muito em suas moedas. A desvalorização cambial nada mais é do que a desconfiança de que, no futuro, a moeda local estará depreciada, pela inflação, em relação à moeda estrangeira. Quando essa desconfiança aumenta, o real se desvaloriza.

Foi o que vimos na semana que passou. Mudar a regra fiscal de maneira casuística passa a mensagem de que o governo vai rodar a maquininha de imprimir dinheiro sempre que “imperativos políticos” prevalecerem. Assim, os tais “especuladores” somente estão procurando antecipar o que os outros agentes econômicos vão descobrir somente mais tarde. E pretendem lucrar com isso.

O governo quer acabar com a farra dos especuladores? Basta fazer a coisa certa. Assim, a inflação cai e o dólar também, punindo quem apostou no caos. E, para deixar claro, fazer a coisa certa não é demonizar o mercado nas redes sociais. O tal mercado não costuma se sensibilizar com isso.

Enchendo os bolsos com consciência social

Não importa onde você leia uma análise da série Round 6. Pode ser positiva, negativa, focar no sucesso do audio-visual coreano ou na violência, pouco importa. Estará lá, indefectível, a alusão à “crítica ao capitalismo” ou à “desigualdade de renda”.

Se isto pode ser verdade para Parasita, está longe de sê-lo para Round 6. Na reportagem, os personagens são caracterizados como “desempregados em dificuldades financeiras”. Bem, não sei a que série o repórter assistiu. Na série a que eu assisti, o protagonista está super endividado porque é um tremendo de um preguiçoso irresponsável. A tal “sociedade capitalista” não marginalizou o sujeito. Ele se auto-marginalizou.

Ok, sem dúvida há um imenso fosso entre ricos e pobres, principalmente em sociedades onde alguns são tratados melhor do que outros pela lei. Por outro lado, tratar as pessoas como incapazes de melhorar suas próprias vidas através das suas escolhas livres, é falsear a realidade. Essa discussão sobre desigualdade de renda é um pouco como a questão do aquecimento global: todo mundo concorda que algo precisa ser feito, cobra dos governos alguma atitude, mas ninguém quer se mover um milímetro do seu lugar. O problema são sempre os outros.

O mais paradoxal nessas obras ditas de “crítica social” (a matéria cita também o filme Coringa) é que seu resultado prático final é concentrar ainda mais a renda nos bolsos dos seus produtores, no caso, a Netflix. A série Round 6 já vale quase US$ 1 bilhão, e os acionistas da empresa não devem estar reclamando. E se, como no caso, o dinheiro vem junto com uma “crítica social”, melhor ainda. Afinal, nada como ganhar dinheiro construindo um outro mundo possível.

O alheamento de Brasília

O filme “Procura-se um amigo para o fim do mundo” é interessante, entre outras coisas, porque mostra as diversas atitudes que as pessoas podem ter em relação ao fim da vida. Uma das mais interessantes é o completo alheamento, representado pela faxineira mexicana que faz a limpeza semanal da casa do protagonista.

Uma vez tendo conhecimento do meteoro que iria chocar-se contra a Terra, o protagonista diz para a faxineira que ela estava dispensada. Afinal, que sentido havia limpar uma casa a duas semanas do fim do mundo? Ao ouvir que estava dispensada, a faxineira muda o semblante, mostrando tristeza e decepção. Estava sendo despedida! Por que? O serviço não estava agradando? O protagonista, então, percebe que ela não estava sabendo de nada. Sua vida continuava como antes. Para não decepciona-la, ele concorda em manter o serviço. Ela sai toda contente da casa e efetivamente volta na semana seguinte, como se nada estivesse para acontecer.

Nos últimos dias, a bolsa despencou, os juros e o dólar subiram, mas as pessoas continuam nas ruas, em suas rotinas, como se nada estivesse acontecendo. Às vezes, podemos ter a impressão de que o mercado é uma espécie de ente à parte, formado somente por especuladores em busca do lucro, divorciados da realidade das pessoas. Nada mais longe da realidade. O mercado financeiro é uma espécie de pele sensível, que sente antes de todo mundo os problemas econômicos. É o dinheiro de todos nós, empresas e pessoas, buscando proteger o seu poder de compra.

O mercado antecipa os meteoros. No final do livro Big Short (não me lembro se esta cena está também no filme A Grande Aposta), um dos protagonistas observa as pessoas na rua, andando despreocupadas, como se nada estivesse para acontecer, e pensa como a vida dessas pessoas vai virar de cabeça para baixo por causa da crise do subprime. De fato, o mercado estressou em 2008, mas a grande recessão econômica ocorreu somente em 2009.

O mercado está nervoso, muito nervoso, avisando que tem um meteoro vindo em direção ao Brasil. Mas, em Brasília, os políticos continuam cuidando da faxina da casa como em um dia qualquer.

A ponta do iceberg

As manifestações de 2013 começaram com um aumento das passagens dos ônibus em São Paulo. O aumento havia sido de apenas R$0,20, e parecia um exagero protestar contra algo tão irrisório. Por isso, o mote que marcou as manifestações foi “não é pelos vinte centavos”.

Os R$0,20 foram a gota d’água que fez transbordar o balde da insatisfação popular. Insatisfação contra os péssimos serviços públicos oferecidos em troca de uma carga tributária escorchante. Insatisfação contra as corporações que tomaram conta do estado brasileiro, e dele extraem benefícios negados ao restante dos cidadãos. Insatisfação contra a corrupção em todos os níveis do governo. Enfim, os R$0,20 eram de fato muito pouco, mas o suficiente para acender uma reação épica. Com o mercado está acontecendo mais ou menos a mesma coisa. Os R$30 bilhões que o ministro Guedes pediu licença para gastar são uma gota d’água no oceano. Afinal, o que são R$30 bilhões para ajudar os pobres em um país tão rico?

Mas não é pelos R$30 bilhões, assim como não era pelos R$0,20. Esses R$30 bilhões são a gota d’água que transbordou o balde da paciência do mercado. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para as emendas parlamentares. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para os 2 meses de férias no judiciário e para mais um TRF. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para pagar universidades públicas para os filhos da classe média. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para pagar aposentadorias para pessoas que sequer completaram os 50 anos de idade. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para pagar pensões para filhas solteiras de militares. Não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para subsidiar empresas que têm o lobby mais forte em Brasília. Enfim, não tem dinheiro para o bolsa família, mas tem para manter essa máquina balofa e ineficiente chamada Estado brasileiro.

O mercado, ao contrário das pessoas, não sai às ruas para protestar. O seu protesto (o nosso protesto) é vender os ativos que vão ser corroídos pela inflação. No limite, quem pode vende todos os seus ativos e envia o dinheiro para países onde a moeda é respeitada pelo governo. Na prática, a moeda do país torna-se um mero papel pintado, e as pessoas só confiam na moeda estrangeira. Não chegamos lá ainda, mas estamos caminhando perseverantemente na direção do desastre. Nessa toada, é uma questão de “quando”, não uma questão de “se”.

Não é pelos R$30 bilhões. Essa é apenas a ponta do iceberg.

Perdendo a virgindade

Todos conhecem a piada do namorado que, tentando convencer a namorada virgem a transar, a tranquiliza dizendo algo que não vou repetir aqui para não ferir suscetibilidades.

Quando o ministro da Fazenda, que é, em tese, o guardião da disciplina fiscal, usa o mesmo artifício do namorado, sabemos que a virgindade foi para o espaço. No caso, o teto de gastos, para todos os efeitos, não existe mais.

Lula está esfregando as mãos. Com sua capa de defensor dos pobres, exige que o auxílio seja de R$600.

Por que não? Afinal, como sabe qualquer casal de namorados, uma vez iniciado o ato, é impossível qualquer tipo de controle. Por que só R$ 30 bilhões? Por que não 60 ou 100 ou 200? Afinal, os pobres estão precisando, e não podemos nos tornar escravos do mercado, como afirmou o sábio Mourão.

O Congresso já está falando de um auxílio de R$500, e para chegar nos R$600 de Lula é um pulinho. Lula não se importa com os eventuais ganhos eleitorais de Bolsonaro porque é reconhecido como o pai do programa, desde sempre vilipendiado por Bolsonaro. Além disso, a deterioração das condições macroeconômicas, com o aumento dos juros, dólar e inflação, pode significar uma perda líquida de popularidade para o presidente no final do dia.

Há um suposto embate ideológico encomendado para o ano que vem, com candidatos de esquerda e de direita polarizando as eleições. Nada mais falso. O inimigo do Brasil não é o comunismo ou o capitalismo. O verdadeiro inimigo do Brasil é o populismo, terreno em que a esquerda e a direita tupiniquim se encontram festivamente.

Queremos imitar Xi Jiping?

Thomas Friedman, colunista do NYT, está preocupado com a China. Xi Jiping estaria indo longe demais em sua intervenção contra os capitalistas de empresas de tecnologia. Por exemplo: Jack Ma, o fundador do Alibaba, o maior site de e-commerce do mundo, estaria desaparecido. Realmente, uma coisa muito extrema.

Mas o que me chama a atenção é a justificativa para as ações do premiê chinês: Xi Jiping não quer para o seu país “a exacerbação de tensões sociais, o aumento da desigualdade e o estabelecimento de monopólios que dominem governos”, tudo isso fruto da ação das empresas de tecnologia. Em seu momento Eugênio Bucci, Friedman concorda que Xi Jiping está fazendo, em geral, a coisa certa. Só exagerou um pouco ao fazer Jack Ma “desaparecer”. Uau!

Xi Jiping está intervindo nas empresas de tecnologia porque é chefe de um estado autoritário e vê nessas empresas uma ameaça ao seu poder. Pelo visto, Friedman concorda com Lula, que afirmou, em uma antológica entrevista a um jornal chinês, que a China só chegou onde chegou porque tem um Estado forte. E põe forte nisso! Jack Ma que o diga.

Friedman e todos os seus colegas estão preocupados com a ameaça que os monopólios de tecnologia representam para a democracia. A intervenção de um governo autoritário para “resolver o problema” deveria ser suficiente para mostrar o quão delicado é este assunto de intervir na livre iniciativa e na liberdade de expressão. Não por outro motivo, os governos ocidentais estão patinando no controle dos tais “monopólios de tecnologia”. Afinal, fazer Zuckerberg “desaparecer” não é tão fácil, mas talvez seja a única solução, como demonstrado por Xi Jiping.

Todos sonham com um mundo bom, belo, justo e democrático, onde não haja “tensões sociais, desigualdade e pressão nos governos por parte de monopólios de tecnologia”. Xi Jiping resolveu esse problema. Queremos imitá-lo?

Capitalismo na selva

Estudo patrocinado pela Natura mostra que o PIB das cadeias produtivas da “sociobiodiversidade” no Pará é 3 vezes maior que o PIB do próprio estado. Este PIB “oculto” não estaria sendo captado pelo IBGE porque o acesso aos produtores seria “muito difícil”, segundo a reportagem.

Bem, não tive acesso ao tal estudo, não conheço a metodologia. Mas sei que PIB é a soma de tudo o que é vendido para as pessoas. Portanto, imagino que o que deve ter sido feito foi encontrar os produtos das tais cadeias de produção no Pará (açaí, castanha do Pará, palmito etc) à venda em todo o país e somar seu valor de venda. A reportagem menciona a pesquisa em mercados de outros estados. Portanto, a diferença entre este “PIB” e o PIB oficial seria a diferença entre o valor de venda desses produtos para outros estados e o valor da venda nos mercados desses outros estados. Além disso, como várias dessas comunidades não devem ser registradas, sua produção não aparece no PIB oficial.

Mas o que mais me chamou a atenção na matéria foi a declaração final da diretora da Natura. Segundo sua avaliação, essas cadeias “biodiversas” são um exemplo de como é possível gerar riqueza sem “concentrar renda” e “gerar desigualdade”. Quase caí da cadeira.

Antônio Seabra e Guilherme Leal, fundadores da Natura, são literalmente bilionários, estão entre os 100 indivíduos mais ricos do Brasil com certeza. Mesmo a tal diretora deve receber um salário que um produtor de açaí do Pará nunca jamais poderá imaginar um dia ganhar. A Natura é a prova viva de como qualquer atividade produtiva, por mais socioambiental que seja, concentra renda.

Quem me acompanha aqui sabe que não tenho absolutamente nada contra que empresários se tornem bilionários, muito pelo contrário. Se conseguiram, foi porque tiveram habilidade para criar valor para os seus clientes. Não fossem Antônio Seabra e Guilherme Leal, provavelmente grande parte da “riqueza” natural brasileira continuaria enterrada na floresta, e várias comunidades não teriam a sua fonte de renda. Portanto, os bilhões dos donos da Natura são muito merecidos.

O que não dá é patrocinar esse conto-de-fadas idílico, em que os “povos da floresta” e as “comunidades ribeirinhas” podem explorar as riquezas da natureza sem agredir o meio ambiente e, ainda assim, ganhar muito dinheiro. Quem ganha dinheiro é o empresário que transforma e leva esses produtos para quem está disposto a pagar por eles. O resto é narrativa para sair bem na foto.

O oitavo círculo do inferno

O teto de gastos é uma ideia de pervertidos, sociopatas que não têm o mínimo de empatia para com os mais pobres que estão passando fome.

Esta é a conclusão que se pode tirar da fala de Arthur Lira, defendendo “gastos sociais” mesmo que ultrapassem o limite constitucional de despesas.

É de uma hipocrisia bíblica. Por fora, túmulos caiados, por dentro, podridão. O presidente da Câmara, assim como seus pares e praticamente todos os políticos do Brasil, escondem-se atrás dos pobres para gastar no que lhes interessa: emendas parlamentares, privilégios corporativos, subsídios às empresas amigas e uma longa lista de etceteras que cabem em um orçamento de R$ 1,6 trilhões.

Trata-se, no final do dia, de um engodo: o que é dado aos pobres hoje é tirado amanhã via impostos e inflação. No meio do caminho, um Estado balofo e refém das corporações, em que políticos se escondem por trás da defesa dos mais pobres.

A sexta cova do oitavo círculo do inferno lhes está reservada.