Rodrigo Maia, quem diria, acabou no Irajá

Há algumas semanas, li uma entrevista do consultor político Alberto Almeida, defendendo a tese de que uma terceira via, se quisesse ter alguma chance, deveria atacar Bolsonaro, para pescar os votos de anti-bolsonaristas que vão votar em Lula já no primeiro turno. Para quem não lembra, Alberto Almeida era um consultor muito requisitado pelo mercado financeiro, até que foi pego em um dos grampos de Lula, dando “conselhos” ao ex-presidente. A sua, digamos, isenção, ficou comprometida. Quando li a entrevista, pensei: “Alberto Almeida não mudou nada”.

E eis que Rodrigo Maia, o ex-todo poderoso presidente da Câmara dos deputados, faz a mesma análise: atacar Lula seria um erro, e foi por isso que a terceira via não decolou. Como desta vez a análise veio de um político experimentado, resolvi revisitar o meu ponto de vista.

Já defendi aqui várias vezes que, se um candidato quisesse ter alguma chance de chegar ao 2o turno, deveria pescar seus votos no anti-petismo, não no anti-bolsonarismo. A tese é simples: o PT está sempre no 2o turno de qualquer eleição presidencial. Foi assim desde 1989. Foi assim em 2018, com Lula preso e uma nulidade como Haddad como candidato. Portanto, seria perda de tempo tentar tirar Lula do 2o turno. O campo aberto é o do antipetismo, hoje ocupado por Bolsonaro. O anti-bolsonarismo é de ocasião, o antipetismo é orgânico.

Coincidência ou não, os dois únicos candidatos que saíram do traço estatístico nas pesquisas, Ciro e Moro, são bastante críticos ao petismo e a Lula. Rodrigo Maia crítica Ciro justamente por isso. Diz que o candidato do PDT “não chegará a lugar nenhum” fazendo isso. Bem, ele já chegou bem mais longe do que outros candidatos da “terceira via” que passaram a mão na cabeça de Lula.

Maia também diz que o candidato da “terceira via” deveria conquistar o eleitor que votou em Bolsonaro e se arrependeu. Bem, certamente não é batendo fofo em Lula que vai conquistar o eleitor bolsonarista arrependido. O que Maia descreve é um conjunto vazio, o que não deixa de ser uma explicação involuntária de porque a “terceira via” não decolou.

A nota cômica vai para o resultado desejado dessa “tática” de conjunto vazio: um candidato de “centro-direita” que isolasse a extrema direita em seu nicho. Em 2018, a “centro-direita” recebeu 7,5% dos votos, 5% de Alckmin e 2,5% de Amoedo. Não foi por falta de opções, portanto, que o antipetismo elegeu Bolsonaro. Hoje, a “centro-direita” está sentada no colo de Lula (Alckmin é seu vice!), e Maia, assim como o “consultor” Alberto Almeida, mal consegue disfarçar o seu papel de quinta-coluna do petismo. De anti-petistas na praça sobraram Bolsonaro e Ciro Gomes, não por coincidência os únicos candidatos competitivos além de Lula.

Rodrigo Maia já foi um dos grandes nomes do jogo político nacional. Neste ano, nem candidato vai ser. Veio com uma conversa de que não quer ser eleito para ficar na planície na Câmara dos Deputados. A verdade é que tem medo de não ser eleito. Rodrigo Maia, quem diria, acabou no Irajá.

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