Miss Congresso

O site Congresso em Foco promove anualmente um concurso de beleza cívica, com o objetivo de coroar os parlamentares mais belos, bons e justos de nosso Congresso. Para garantir o seu objetivo, faz uma lista prévia, em que retira todos os parlamentares que porventura sejam objeto de inquérito na justiça e, principalmente, não tenham praticado atos “em flagrante confronto com o Estado Democrático de Direito e o respeito aos direitos humanos fundamentais”.

Depois desse filtro inicial, sobraram 419 deputados e 64 senadores aptos a serem escolhidos. Com esses critérios, imagino a lista de parlamentares que ficou de fora.

A deputada Sâmia Bonfim foi a grande vencedora da noite, sendo eleita Miss Congresso tanto pelo júri popular quanto pelo júri dos jornalistas. Em seu discurso da vitória, a deputada, visivelmente emocionada, declarou: “esse prêmio de melhor deputada é uma resposta à violência política de gênero!”, uma fala que arrancou suspiros da plateia e certamente estará na edição revisada de O Pequeno Príncipe.

Houve três tipos de votação: popular (via internet), jornalistas políticos e júri especializado.

A lista dos 25 jornalistas escolhidos para o concurso foi a seguinte:

  • Reinaldo Azevedo – Folha / Bandnews
  • Ricardo Noblat – Metrópoles
  • Denise Rothenburg – Correio Braziliense
  • Wilson Lima – O Antagonista
  • Guilherme Amado – Metrópoles
  • Eduardo Bresciani – Jota
  • Rafael Moraes Moura – O Globo
  • Ana Lúcia Caldas – EBC
  • Eliane Cantanhêde – Estadão / Globonews
  • Isa Stacciarini – CBN
  • Cristina Serra – ICL Notícias
  • Dora Kramer – Bandnews / Jovem Pan News
  • Anthony Broadle – Reuters
  • Hiury Wdson – Radioweb
  • Rubens Valente – Agência Pública
  • Carla Benevides – TV Senado
  • Adriano Oliveira – Bandnews
  • Cristiane Sampaio – Brasil de Fato
  • Renata Varandas – Record TV
  • Julianna Sofia – Folha
  • Luciana Lima – Meio
  • Raphael Felice – Correio Braziliense
  • Edilene Lopes – Itatiaia
  • Isabel Mega – SBT
  • Iasmin Costa – Jovem Pan News

A lista dos 6 componentes do júri especializado foi a seguinte:

  • Mara Karina Sousa-Silva – ativista contra o racismo
  • Priscila Cruz – Todos Pela Educação
  • Adayse Bossolani – ambientalista
  • Sylvio Costa – fundador do Congresso em Foco
  • Carlos Melo – cientista político
  • Ricardo Sennes – analista político

Os resultados das três votações estão anexados. Duas observações a respeito desses resultados:

– o “júri popular” não escolheu sequer um deputado de direita (ou mesmo de centro) entre os 25 mais votados. Entre os senadores, Soraya Thronicke, Marcos Pontes e Otto Alencar são menções honrosas. O que demonstra duas coisas: 1) o tipo de público que lê O Congresso em Foco e 2) como essas votações na internet não servem como proxy de nada, dado que os congressistas mais votados nessa lista estão longe de serem os mais votados do Congresso. Aliás, essa é uma boa contraprova de como popularidade na internet não se traduz necessariamente em voto, um ponto frequentemente levantado para colocar em dúvida o resultado das eleições.

– o resultado da votação dos jornalistas está muito mais próximo do resultado da votação pelo júri popular do que pelo júri especializado. O que demonstra que os jornalistas, na média, estão mais para leigos com uma caneta na mão do que profissionais especializados no que fazem. E leigos com um determinado viés.

Sou conselheiro do Ranking dos Políticos, uma organização que, como o nome diz, ordena os congressistas de acordo com determinados critérios. Ao contrário desse concurso de beleza cívica do Congresso em Foco, o Ranking dos Políticos tem critérios bastante objetivos: os conselheiros atribuem pesos para cada projeto de lei a ser votado no Congresso, tanto positivo quanto negativo. A nota do congressista é resultado do seu voto concreto, ponderado pelos pesos dados pelos conselheiros do Ranking. Assim, a atuação dos parlamentares é medida pelo que mais importa: como votou o deputado, para usar a expressão eternizada pelo inesquecível Eduardo Cunha.

Além de objetivo, o Ranking dos Políticos não se pretende isento e imparcial. Seu viés liberal é público e notório, de forma que ninguém é enganado quando vê o resultado do ranking, que pontua melhor os congressistas mais liberais. Já o concurso de beleza cívica do Congresso em Foco é apresentado como se fosse a coisa mais isenta do mundo, em que os parlamentares seriam escolhidos por supostos “critérios universais”. Assim é se assim lhe parece.

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