Dada a largada para a análise de pesquisas eleitorais nessa página. Se você é daqueles que não acreditam em pesquisas eleitorais, não perca o seu e o meu tempo, simplesmente ignore. Aqui, como fiz em 2018, procuro entender as grandes tendências e chamar a atenção dos leitores para coisas que me chamaram a atenção.
O gráfico abaixo mostra todas as pesquisas publicadas neste ano, por ordem cronológica. Cada instituto tem sua metodologia de amostragem, então é natural que gerem resultados diferentes. Mas é possível derivar um certo padrão.
Lula lidera em todas as pesquisas, com intenções de voto entre 40% e 45%. Bolsonaro, igualmente em todas as pesquisas, segue em 2o lugar, com intenções de voto entre 25% e 30%. A menor diferença está na pesquisa da Paraná (40 x 30), enquanto todas as outras mostram distâncias maiores.
Mas é para o grupo “Outros” que eu gostaria de chamar a atenção. Em todas as pesquisas, este grupo perde de Bolsonaro. Ou seja, todos os outros candidatos não conseguem somar a intenção de voto em Bolsonaro. Fiz questão de plotar a intenção de voto estimulada, para não ter a desculpa de que o pesquisado não lembrou de algum candidato em que poderia votar. Estão todos listados, então a pessoa escolheu Lula ou Bolsonaro tendo como opção um terceiro nome na lista.
Houve um certo desalento essa semana com a chamada “terceira via”, depois da desistência fake de Dória e da desistência “no momento” de Moro. A grande premissa da terceira via é a união em torno de um único nome que pudesse desbancar um dos dois candidatos que estão na ponta, que hoje seria Bolsonaro. Ocorre que, mesmo na remotíssima possibilidade de que essa unificação ocorresse e que todos os que dizem votar em algum candidato que não Lula/Bolsonaro votassem nesse candidato único, o que as pesquisas dizem HOJE é que este candidato único não tiraria o lugar de Bolsonaro.
Para que houvesse alguma chance de a terceira via decolar, precisaríamos estar vendo, neste momento, uma maior dispersão de intenção de votos entre os candidatos, de modo que um eventual nome único não precisasse carrear 100% dos votos dos candidatos que desistissem para ocupar a 2a vaga no segundo turno, pois isso não vai acontecer.
Eliane Catanhêde termina sua coluna de hoje no Estadão com a seguinte frase: “Há uma desesperada demanda pela terceira via no eleitorado, mas as lideranças políticas são incapazaes de oferecer o produto”. Bem, não sei onde a colunista está vendo essa “demanda desesperada por uma terceira via”. O que eu estou vendo, olhando as pesquisas dos mais diversos institutos, é que o eleitor escolhe Lula ou Bolsonaro, MESMO TENDO OUTRAS OPÇÕES NO CARDÁPIO. Ou seja, a tal demanda parece ser mais um desejo do que uma realidade.
Claro, tudo sempre pode mudar, treino é treino, campanha é campanha, e o imponderável futebol clube sempre pode dar as caras. Mas o retrato de hoje do mercado eleitoral é demanda e oferta se encontrando em um ponto insuficiente para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro.