Pequena plateia animada

Suplicy animava a pequena plateia cantando “Blowin’ in the Wind”.

S U P L I C Y

A N I M A V A

A P E Q U E N A P L A T E I A

C A N T A N D O B L O W I N’ I N T H E W I N D

Sério, não consigo parar de rir aqui.

O Refis do pobre

Aqui Ciro especifica um pouco mais o plano “limpa-nome”.

Em primeiro lugar, estabelece uma data de corte: 20/07/2018. Quem entrar no SPC depois dessa data, não poderá aderir ao programa. Esta foi a data em que pela primeira vez Ciro mencionou o programa. Evita que espertinhos façam dívidas já com o intuito de não pagá-las.

Em segundo lugar, não dá mais a impressão de que a dívida será “perdoada”, mas sim, será parcelada em até 36 meses. Ou seja, o pessoal vai pagar pela dívida, mas em condições melhores.

Mas a mágica trapaceira continua a mesma: ele faz uma conta, dizendo que a dívida média do brasileiro é de R$4.200, mas que o governo derrubaria esse montante para R$1.400, que seriam pagos em 36 suaves prestações de R$40. Ou seja, além de um facão em 2/3 da dívida, o saldo seria pago sem juros!

Obviamente, os bancos privados não topariam, e os bancos públicos seriam forçados a fazê-lo, com as consequências já conhecidas.

A peça publicitária ainda nos brinda com a inefável presença do Prof. Belluzo, o mago das soluções mágicas que só dependem de vontade política.

Uma coisa, no entanto, a campanha acerta: se foi feito o Refis, com custo de centenas de bilhões para perdoar dívidas de grandes empresas, qual o problema em gastar alguns bilhões para perdoar a dívida do pobre?

Na verdade, o problema está no Refis, uma pouca vergonha que vicia o sistema tributário, ao estimular a sonegação. Usar o Refis como exemplo é justificar um erro com outro.

A alternativa Marina Silva

Começo a ouvir, aqui e ali, nos meus variados círculos de influência, que o voto em Marina seria uma alternativa.

Gente que, em outras épocas, votaria em Alckmin de olhos fechados e que, ao mesmo tempo, não consegue engolir o capitão.

Para esse pessoal, o esquerdismo não é um problema fundamental. Na verdade, é até desejável uma certa “preocupação social”. É o perfil de FHC, que, a esta altura, deve estar torcendo secretamente por Marina, depois que seu projeto Luciano Huck fez água.

Marina parece ter, eleitoralmente falando, o defeito de Bolsonaro sem ter a sua virtude. Seu defeito é não ter apoios e tempo de TV. A virtude que lhe falta é o carisma, que sobra ao capitão.

Marina, no entanto, compartilha com Bolsonaro uma virtude comum, que é, ao mesmo tempo, um defeito: está longe do establishment. Virtude pelo óbvio que é não fazer parceria com bandido. Defeito (e acredito ser este o único motivo que segura os votos de Alckmin) pela também óbvia dificuldade em governar. Aqueles que votam em Bolsonaro e Marina acreditam que a governabilidade vem com o voto. Aqueles que votam em Alckmin, não acreditam nisso. Estes últimos têm Collor e Dilma para corroborar sua tese.

Marina torna-se, assim, uma alternativa anti-establishment da centro-esquerda. Aquilo que o PSDB gostaria de ser, se fosse possível governar sem o Centrão.

Como eu disse, começo a ouvir, aqui e ali, pessoas dizendo que Marina poderia ser uma alternativa. Pessoas que votariam em Alckmin, mas não acreditam que o apoio do Centrão será suficiente para fazê-lo decolar nas pesquisas. Ou pior: acreditam que o apoio do Centrão pode ser a pá de cal na sua candidatura.

Marina aparece em 2o lugar em todas as pesquisas. Leio e ouço muitos analistas políticos, e uma das poucas unanimidades entre eles é que Marina vai desidratar ao longo da campanha, com seus votos migrando para Alckmin ou para o candidato do PT. Também pensava assim. Começo a ficar com a pulga atrás da orelha.

Esta eleição está longe de ser óbvia. Ninguém está fora do páreo. Ninguém.

Um programa de governo liberal

Dei uma olhada no programa de governo de Jair Bolsonaro, especificamente as propostas na área econômica. Vou listar apenas as propostas concretas, não o “dever ser” comum a todos os candidatos, e comentar.

Proposta: criação do Ministério da Economia, que abarcaria os atuais Ministérios da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio.

Comentário: tudo que venha para diminuir a estrutura burocrática do Estado é bem-vindo. Mas a redução per se de ministérios tem apenas um valor simbólico, importante sem dúvida, mas que não garante a diminuição da máquina.

Proposta: logo no início do programa, encontramos a proposta de buscar superávit primário que equilibre a relação dívida/PIB no espaço de tempo mais curto possível. Mais à frente, a coisa fica mais específica: equilibrar as contas no primeiro ano e fazer superávit primário no 2o ano.

Comentário: o ajuste seria draconiano, algo equivalente, em termos políticos, ao que Collor fez ao confiscar a poupança no início do seu governo. Não estou aqui comparando as duas coisas, estou apenas chamando a atenção para a dificuldade política de se fazer isso.

Proposta: reduzir em 20% a dívida pública por meio de privatizações.

Comentário: a dívida pública está em aproximadamente R$ 3,7 trilhões. 20% somaria R$ 730 bilhões. A Petrobras seria, de longe, a empresa mais valiosa, e arrecadaria algo como R$ 100 bilhões. Mas a Petrobras não será privatizada. Fico imaginando qual foi a conta para chegar nesse montante.

Proposta: orçamento base-zero (o montante gasto no passado não justifica os recursos demandados no presente).

Comentário: boa proposta, mas a implementação é difícil, é necessário um processo orçamentário muito mais trabalhoso. É preciso muita vontade política para a implementação.

Proposta: introdução paulatina do regime de capitalização para a Previdência.

Comentário: se pudéssemos zerar a conta de todo mundo e começar tudo de novo, este seria o melhor regime. Mas o problema é que os novos entrantes no regime pagam as pensões dos que se aposentam. Sem esses novos entrantes, que optariam pela capitalização, abre-se um rombo na previdência antiga. O programa aponta a criação de um “fundo” para custear este rombo. A origem do dinheiro para constituir este fundo não é especificado pelo programa. Inclusive, mais à frente, a proposta diz que haverá redução da tributação sobre salários. A conta não fecha.

Proposta: renda mínima universal.

Comentário: bom programa, uma extensão do Bolsa Família.

Proposta: reforma tributária.

Comentário: só coloquei aqui porque poderiam pensar que esqueci. Existem só desejos genéricos de reforma tributária, nada de realmente concreto.

Proposta: independência formal do Banco Central.

Comentário: show.

Proposta: carteira de trabalho verde-amarela, com menos direitos trabalhistas e menos impostos.

Comentário: show. Eu optaria no mesmo dia da implantação.

Proposta: redução de alíquotas de importação e barreiras não-tarifárias.

Comentário: show. Sem comentários adicionais. Aliás, se isso for verdade, distingue Bolsonaro do Trump em um ponto importante.

Proposta: depreciação acelerada.

Comentário: muito bom, favorece investimentos, mas significa um subsídio que diminuirá o imposto arrecadado das empresas. Parece ir contra o ajuste fiscal.

Proposta: criação do Balcão Único para a criação/fechamento de empresas.

Comentário: muito bom. Temos em SP a experiência do Poupa-Tempo, que funciona muito bem.

Proposta: prazo máximo de 30 dias para resposta final, por parte dos órgãos públicos, de documentação para abertura/fechamento de empresas. Caso não haja resposta neste prazo, a empresa estará automaticamente aberta ou fechada.

Comentário: show.

Proposta: redução gradual das exigências de conteúdo local para a indústria de óleo e gás.

Comentário: muito bom.

Proposta: preços praticados pela Petrobras deverão seguir os preços internacionais, mas com hedge que suavize os movimentos de curto prazo.

Comentário: falar é mais fácil do que fazer. Normalmente quando as flutuações são baixas o hedge é desnecessário e quando as flutuações são altas o hedge é muito caro.

Proposta: acabar com o monopólio da Petrobras sobre toda a cadeia de produção de gás.

Comentário: todo fim de monopólio é bem-vindo.

Comentário final: as propostas econômicas ocupam, de longe, a maior parte do programa. Talvez porque Bolsonaro sabe que precisa ganhar a confiança nesta área de potenciais indecisos. O ponto fraco é justamente como lidar com o déficit fiscal: o programa nesta área é uma mistura de boas intenções com contradições. Dá para dar um desconto, dado que se trata de um assunto complicado mesmo. A direção geral está correta, melhor do que não reconhecer que Houston, we have a problem.

Trata-se de um programa, sem sombra de dúvida, liberal. Resta saber quão sincera e perseverante é a conversão do capitão ao ideário liberal. Pois será necessária muita convicção para obter o apoio do Congresso ao programa e para manter a rota quando os resultados demorarem a aparecer.