O STF que elege Bolsonaro

Ontem, a trinca Gilmar, Toffoli e Lewandovsky fatiou mais um pouco as delações da Odebrecht contra Lula, tirando de Moro as menções, por exemplo, ao “departamento de operações estruturadas” da empreiteira. A coisa foi tão descarada, que fez renascer a esperança do advogado do presidiário de Curitiba.

Depois não sabem porque Bolsonaro não derrete nas pesquisas.

Todo mundo é trouxa

Esta proposta do Ciro é errada de várias maneiras combinadas.

1. O Banco do Brasil e a Caixa serão obrigados a aceitar um desconto sobre a dívida inscrita no SPC. Não será como em um feirão de renegociação, como na comparação mal-intencionada do candidato. Em um feirão, os bancos negociam um a um, e têm um budget para negociar. Na renegociação do Ciro, a ordem vem de cima para baixo, forçando um cancelamento de dívida que pode estar acima de sua capacidade de conceder. No final, o governo precisará capitalizar seus bancos. Com que dinheiro? Já vimos BB e Caixa sendo usados para implementar políticas de juros no governo Dilma, e o resultado não foi dos melhores.

2. Os bancos privados também serão chamados a colaborar, mediante uma redução do depósito compulsório. Ou seja, além de liberar espaço no balanço das famílias, os bancos privados terão mais dinheiro para emprestar. Será um novo voo de galinha, baseado exclusivamente no crédito, e que termina em mais inflação. Novamente, já vimos esse filme antes.

3. É o governo que vai pagar a dívida dos inadimplentes (“são só R$1.800 por família!”), não são os próprios, como em um feirão de renegociação. De onde sairá o dinheiro?

4. Mas talvez o efeito mais deletério seja sobre o comportamento do devedor. Se eu sei que não precisarei pagar a dívida, então vou me endividar pra valer! No final, o governo paga. É o efeito Refis. “Ah, mas nunca mais o governo vai fazer isso, é só uma vez!” Quem disse? Se fez uma vez, por que não pode fazer de novo? Os endividados sempre esperarão outro “limpa-nome”. E, enquanto isso, se endividarão mais.

Ciro está comprando os votos dos endividados com o dinheiro de todos os contribuintes. Aqueles que não se endividaram ou que pagam suas dívidas em dia são trouxas, no final do dia.

É isso: Ciro é o candidato que acha que todo mundo é trouxa.

O símbolo do Brasil

Trecho da entrevista de André Lara Rezende, principal formulador econômico da campanha de Marina Silva, hoje, no Estadão.

Concordo com ele. A Petrobras é um símbolo. Símbolo de um país atrasado, preso a mitos do passado. Sujamos nossas mãos de óleo enquanto a Apple ultrapassa um trilhão de dólares em valor de mercado. E o pior é que Marina e André Lara não estão sozinhos. Com exceção do Amoêdo (Paulo Guedes não conta, o candidato é o Bolsonaro), todos os outros candidatos pensam da mesma maneira.

A Petrobras é um símbolo. Enquanto a Petrobras não for privatizada, não conseguirei acreditar em nenhum discurso de modernização e eficiência do país.

Análise do debate da Band

Quando deu 23:30 e soube que haveria mais três blocos daquele negócio, desliguei a TV. Já tinha visto o suficiente.

– Bolsonaro transpirando autenticidade e não sendo confrontado pelos outros candidatos em assuntos técnicos, seu ponto sabidamente fraco. Os outros candidatos não aprenderam com o Roda Viva. Surpreendeu ao levantar habilidosamente a bola de Álvaro Dias (coisa que Meirelles tentou desastradamente), em um claro movimento de flanco contra Alckmin.

– Alckmin com um discurso ensaiado de eficiência, mas usando palavras difíceis (autárquico e players foram algumas de que me lembro). Fez jus à fama de candidato pesado.

– Marina com sua voz que continua a mesma, dizendo que está tudo errado e abusando das platitudes do tal “centro democrático”. Um porre.

– Ciro muito habilidoso no confronto, também transpirando autenticidade. Engana bem os menos informados.

– Meirelles, com um discurso ininteligível, levou um drible debaixo das pernas do Alvaro Dias no início do debate que mostrou que ainda está na fase trainee de sua nova carreira de candidato à presidência.

– Lula não compareceu por conflitos de agenda.