Quem escolhe o que você vai ler, ouvir e assistir?

Em sua coluna de ontem, Pedro Doria pondera que o problema não é o que é dito, mas como o que é dito chega até nós. O colunista nos lembra que, no passado, para nos informarmos sobre o que ia no mundo, precisávamos ler jornais, ouvir rádio e assistir a TV, tudo isso à nossa livre escolha. Ou seja, escolhíamos a que tipo de informação teríamos acesso. Hoje não. Hoje, são os algoritmos que decidem o que vamos ler, ouvir e assistir. Assim, e essa é a conclusão de Doria, “as ideias radicais já existiam e não havia necessidade de censura, porque as ignorávamos coletivamente, e hoje os algoritmos as impulsionam”. Não está dito, mas fica subentendida a necessidade de censura do conteúdo das redes.

Os malabarismos de Pedro Doria para defender a censura nas redes estão equivocadas em dois aspectos.

Em primeiro lugar, as pessoas nunca foram livres para ler o que bem entendessem. Sempre houve um algoritmo, no caso, humano, que define o que vai aparecer nos jornais e programas de rádio e televisão. Não somente a notícia que vai aparecer, mas o tom dado. Durante crises políticas, faço questão de assistir ao Jornal Nacional, pois quero entender como a Globo está se posicionando, dado o seu grande poder de influência (hoje menor por conta das redes, mas ainda assim grande). Inclusive, o apelo à emoção, um dos elementos dos algoritmos das redes, sempre esteve presente na confecção das manchetes. O clique de hoje era a compra do jornal na banca de ontem. As redes somente automatizaram o processo. E cabe destacar que o algoritmo humano era tão opaco quanto o automatizado, a não ser quando sob censura estatal, ocasião em que o algoritmo fica claro para todo mundo.

Ainda sobre este primeiro aspecto, pode-se argumentar que a imprensa tradicional responde pelo que publica, o que não acontece com as redes. E nem poderia. Afinal, o jornal publica conteúdo próprio, ao passo que as redes publicam conteúdos de terceiros. São os terceiros que devem assumir a responsabilidade, não as redes. Apesar disso, as redes já hoje mobilizam exércitos de funcionários para monitorar e retirar conteúdos criminosos das redes. Mas sabemos que não é disso que se trata, mas sim, da repressão a conteúdos políticos, como se a imprensa tradicional não assumisse posicionamentos políticos em cada linha e frase que os editores decidem publicar.

O segundo aspecto a se considerar é a afirmação de que, antes dos algoritmos automatizados, ideias extremistas ficavam isoladas, não causando mal às sociedades. Joseph Goebbles daria gostosas gargalhadas diante de uma afirmação dessas. O chefe da propaganda do Reich não precisou de um Tik Tok para manipular a sociedade alemã. Aliás, cabe se perguntar se a sociedade alemã não se deixou manipular voluntariamente. As coisas são muito mais complexas do que a ideia simplista de manipulador-manipulados. O fato é que os radicalismos políticos antecederam as redes em muitos milênios.

Toda essa elaboração elegante de Pedro Doria serve apenas para justificar a censura, o que não deixa de ser triste, em se tratando de um jornalista.


Corroborando o que escrevi acima, quando pressionei a tecla “publicar” no Facebook, recebi uma mensagem alertando para o fato de que o meu post poderia ferir as “regras da comunidade”, e que a minha conta poderia sofrer restrições. Imagino (só imagino) que tenha sido pelo fato de ter usado a palavra “n a $ i s t a”. Troquei a palavra por Reich, vamos ver. Aliás, essa é a primeira vez que isso acontece comigo, uma experiência nova.

É sobre isso: as redes já filtram certos conteúdos, com base em critérios opacos. Exatamente como fazem os editores na imprensa tradicional.

O Threads “flopou”?

O que aconteceu com o Threads, a nova rede social que iria desbancar o Twitter? (Eu sei que é X, mas ninguém chama de X, né?)

Eu recortei e guardei a análise abaixo, do colunista Pedro Doria, publicado há exatos dois meses, praticamente decretando a morte do Twitter. Afinal, Elon Musk “cometeu muitos erros”, e as pessoas “estavam há meses procurando uma alternativa”.

O começo foi arrasador: o Threads conseguiu a marca de 10 milhões de usuários em meras 7 horas. O recorde anterior era do ChatGPT, que atingiu essa marca em 40 dias. Facebook e Instagram haviam conquistado 10 milhões de usuários em 852 e 355 dias, respectivamente. Um verdadeiro furacão. Não é à toa que Pedro Doria e todos os desafetos de Musk estavam como pinto no lixo.

Mas alguma coisa aconteceu. Quer dizer, alguma coisa não aconteceu. No gráfico abaixo, podemos observar o crescimento da base de usuários do Threads: depois de atingir 100 milhões de usuários em meros 4 dias, a coisa simplesmente parou. Hoje, a nova rede social de Zuckerberg tem 130 milhões de usuários (número de 05/09), contra 450 milhões do Twitter.

Mas não é no número de usuários que se mede o tamanho da flopada do Threads. Eu sou um usuário, mas entrei na rede somente quando a criei e nunca mais voltei. No dia 07/07, dia em que o artigo abaixo foi publicado, o número de usuários ativos bateu quase 50 milhões. Atualmente, com 130 milhões de usuários cadastrados, o número de usuários ativos é de 10 milhões. Para se ter uma ideia, esse número é 20 vezes menor que o número de usuários ativos do Twitter. O tempo médio gasto pelos usuários do Threads na rede é de 3 minutos, contra 30 minutos do usuário do Twitter. Combinando os dois números, a publicidade no Twitter tem 300 vezes mais exposição do que a publicidade no Threads, e é isso o que importa. (Vou colocar nos comentários a fonte dessas informações).

A conclusão que eu chego é a seguinte: o usuário está pouco se lixando com as polêmicas envolvendo Elon Musk, e só quer uma rede onde possa brigar. O Threads surgiu para fazer a mesma coisa que o Twitter. Ora, se vai fazer a mesma coisa, por que mudar? O efeito inércia trabalha a favor do incumbente. Se o Threads não mostrar alguma vantagem relevante em relação ao Twitter, não vai decolar. Essa história de prometer ser uma rede “limpinha e civilizada” não é um diferencial e, arrisco dizer, é contraproducente. As pessoas querem ler brigas e insultos, e não discursos politicamente corretos. Para isso, já temos a mídia mainstream.

Os negócios de Elon Musk com o governo americano

O colunista Pedro Doria pratica, em sua coluna de ontem, um de seus esportes favoritos: criticar os grandes Titãs da tecnologia. No capítulo de hoje, temos a questão do perigo representado por Elon Musk, um sujeito instável com um poder estratégico além da imaginação. Mas aqui não vou analisar esse “problema”. Vou me ater a uma crítica bastante comum ao criador do PayPal, da Tesla, da SpaceX e da StarLink: a de que Musk não seria nada se não fossem os subsídios do governo e, portanto, sua crítica ao Estado grande e generoso seria uma incoerência e, no final das contas, uma falta de gratidão.

Sempre achei pouca lógica nesse raciocínio. Afinal, os subsídios estão lá, em tese, para todos, mas existe um só Elon Musk. Ou seja, não é que os subsídios tenham sido dados para Musk porque só poderiam ter sido concedidos para sul-africanos com nome começado por “E”. Não. Todos tiveram acesso, mas nem todos aproveitaram. Além disso, certamente outros empresários se beneficiaram de subsídios, mas somente um criou a Tesla. Subsídios não necessariamente fazem bilionários. É preciso também ter o dom.

Mas, vejamos pelo ângulo oposto: a Tesla teria sido possível sem os subsídios? Ou, de outra forma, teriam sido os subsídios condição necessária, ainda que insuficiente? Fui atrás dos números: a Tesla obteve cerca de US$ 3,3 bilhões entre subsídios e empréstimos governamentais. Por outro lado, levantou cerca de US$ 19 bilhões em capital desde que foi fundada, em 37 rodadas de captação de recursos, sendo a última no dia 15/08 passado.

Você realmente acredita que, não fossem os subsídios, a Tesla não conseguiria o capital necessário para as suas operações? O que aconteceu é que esses US$ 3 bilhões de subsídios estavam na mesa, e Musk foi lá e pegou. Se não estivessem, ele poderia ter levantado esses recursos como levantou os outros U$ 19 bilhões. Hoje, a Tesla vale US$ 750 bilhões na Nasdaq. US$ 3 bilhões? Faça-me o favor…

Os contratos com a NASA são uma coisa diferente. No caso, não se trata de subsídios, mas de um cliente que viabiliza a empresa, no caso, a SpaceX. O próprio Musk admitiu em uma entrevista que, sem o contrato com a NASA, a SpaceX teria quebrado.

Musk tem um objetivo claro com a SpaceX: colonizar Marte. Para viabilizar esse objetivo, a empresa precisa, antes, mostrar viabilidade comercial. Para tanto, precisa conquistar clientes, em um mercado onde a concorrência é feroz. A NASA decidiu contratar a SpaceX não como uma benemerência, mas porque a empresa oferecia o melhor custo/benefício para os serviços que a agência espacial precisava contratar, dentre todos os concorrentes da empresa de Musk. Deve ser realmente difícil se estabelecer nesse mercado sem conquistar contratos com o maior cliente do setor, que calha ser uma agência governamental.

É realmente curioso como as mesmas pessoas que clamam por subsídios e defendem o papel fundamental do Estado em determinados setores apontam um dedo acusador para os empresários que aproveitam essas vantagens para “vitaminar” suas empresas. O que querem, afinal? Que anjos celestes empreendam?

Há nisso tudo uma visão estilizada da realidade. Um empresário como Musk, que defende o primado da liberdade de empreender, só pode ser contra qualquer participação do Estado na vida da sociedade. Isso se chama anarquismo, não liberalismo. O que ocorre é que esses mesmos que esfregam na cara de Musk o fato de que suas empresas têm muitos pontos de contato com o Estado (como não tê-los?), na verdade usam essa “contradição” para defenderem a presença do Estado em âmbitos onde a iniciativa privada desempenha de maneira superior. Aliás, a própria NASA reconheceu isso, ao encomendar foguetes da SpaceX, e não fabricá-los ela própria. Trata-se de uma falsa dicotomia, explorada para fins meramente políticos. Só isso.

Um conceito peculiar de democracia

Pedro Doria continua muito preocupado com a nossa democracia. Segundo o articulista, estamos ameaçados pelas fake news, que distorcem a vontade do eleitor. E as empresas de tecnologia não estariam fazendo nada a respeito, pois “não teriam qualquer compromisso com os valores democráticos”.

É curioso. Em redes bolsonaristas, a reclamação é a inversa: o Facebook estaria a serviço dos globalistas, perseguindo as “páginas de direita”.

Não é possível que as duas coisas estejam acontecendo ao mesmo tempo. Ocorre que cada um enxerga a realidade de seu particular ponto de vista, e é capaz de jurar que aquela é a verdadeira realidade. Mas, no caso, gostaria de estabelecer uma diferença fundamental entre os dois pontos de vista, independentemente de quem esteja certo sobre o que o Facebook esteja realmente fazendo. A diferença está naquilo em que cada parte DESEJARIA que o Facebook estivesse fazendo.

Pedro Doria representa uma linha que defende que o Facebook e outras redes sociais precisariam trabalhar como censores. Há algum tempo, escrevi um artigo refletindo sobre como esse problema é delicado (Redes sociais e a busca do censor ideal). Os bolsonaristas, por outro lado, querem campo livre para propagar suas “fake news”, o que, por suposto, significa campo livre para o adversário também propagar suas próprias “fake news”.

O TSE já se colocou como árbitro dessa questão espinhosa, que vem sendo objeto de análise desta página há algum tempo. Para Pedro Doria, isso não é o suficiente. As redes também precisariam atuar. Em meu artigo, reproduzo uma fala de Angela Merckel, que chama a atenção para o perigo de termos empresas privadas arbitrando o conteúdo de discursos privados. Alinho-me à ex-chanceler alemã neste ponto: o que menos precisamos é o Zucka com o poder de dizer o que podemos ou não dizer. Não para Pedro Doria. Em sua democracia, é super-natural que tenhamos um censor privado.

“Censura” é daquelas palavras proibidas, que um verdadeiro democrata não deveria nunca pronunciar, a não ser acompanhada da expressão “nunca mais”. Pedro Doria é esperto, e não usa a palavra maldita em seus textos. Mas o que propõe tem rabo de censura, focinho de censura e cheiro de censura. O seu conceito de democracia é peculiar.

Democracia antisséptica

Já contei essa história, mas vou contar novamente, porque tem muita gente nova por aqui.

Na época das eleições de 2014, eu tinha um colega de trabalho que era originário do interior da Bahia. Durante a campanha, ele foi visitar a família, e voltou contando que viu um carro de som percorrendo as ruas da pequena cidade, com o locutor informando a população que Aécio Neves, se eleito, iria acabar com o Bolsa Família. Não precisa de zapzap pra espalhar feiquenius.

Ainda naquela campanha, um filmete que ficou famoso mostrava a comida sumindo da mesa de uma família pobre, caso a proposta de autonomia do Banco Central, defendida por Marina Silva, fosse aprovada.

Isso se chama discurso político. No mundo ideal de Pedro Doria, no entanto, não há espaço para o discurso político. Na democracia de Pedro Doria, os candidatos devem passar pelo escrutínio das agências verificadoras de fatos, que definirão o que pode e o que não pode ser dito. É a democracia da censura do bem.

Pedro Doria, no entanto, também faz um discurso político. Sua afirmação de que Bolsonaro tem “uma máquina publicitária exclusivamente baseada na mentira” não passaria pelo filtro de uma agência verificadora de fatos. Aliás, a menção ao grupo de Zap dos empresários bolsonaristas é bem significativa: precisamos tomar cuidado com o que escrevemos até em grupos fechados. Essa é a democracia segundo Pedro Doria.

Os candidatos “democratas” (Lula, Ciro e Tebet) precisam, segundo Pedro Doria, reagir à desinformação. Como se fossem paladinos da verdade e do bem, e não políticos que lançam mão, o tempo inteiro, de narrativas que não passariam pelo crivo de agências verificadoras. Acho Bolsonaro um pulha (pra escrever um adjetivo aceitável nesse espaço família). Mas de quem tenho realmente medo é desses paladinos do bem, que querem construir uma democracia antisséptica, onde a política não tem vez.

O culpado é o retuíte

O colunista Pedro Doria repercute um artigo que, segundo ele, joga luz sobre o problema da divisão aparentemente irreversível que a sociedade atual vem sofrendo.

O “retuíte” do Twitter e o “like” do Facebook seriam os culpados pelo auto-isolamento dos grupos com opiniões diferentes e, consequentemente, pela erosão dos fundamentos da democracia. Uau!

Se não me engano, em 1860, quando estourou a Guerra de Secessão, em que morreram mais de 600 mil americanos em uma batalha de ideias que chegou às vias de fato, não havia nem o “retuíte” e nem o “like”. Estes recursos também não existiam, salvo engano, durante a implantação das mais sanguinárias ditaduras do século XX.

Li em algum lugar que o problema de nossa sociedade é a falta de problemas realmente sérios. Na falta destes, passamos a nos preocupar com “microagressões”, “vocabulário não discriminatório”, “retuítes” e “likes”. Essa “descoberta” do artigo citado por Pedro Doria encaixa-se à perfeição no caso.

Se é para ter uma teoria, tenho a minha própria: as redes sociais nos permitiram extravasar toda a nossa ira e revolta sentados confortavelmente no sofá de casa, dispensando o derramamento de sangue típico das vias de fato. Diria que é graças às redes sociais que não temos mais guerras civis no mundo, a não ser naqueles países onde a internet não conta com uma boa cobertura. A diferença dessa minha teoria para a dos “retuítes” e dos “likes” é que eu não a levo a sério.

Os nossos russos são melhores que os deles

Ontem foi o ministro Edson Fachin. Hoje é o colunista de tecnologia Pedro Doria. No centro das atenções, os temidos “hackers russos”, que teriam o poder de mudar resultados eleitorais.

Que parcela relevante de ataques cibernéticos no mundo partam da Rússia e de outros países do leste europeu não é segredo para ninguém. São verdadeiras quadrilhas especializadas. Mas o que isto tem a ver com eleições? Como em toda boa teoria da conspiração, o link entre uma coisa e outra fica a cargo da imaginação de quem acredita “que alguma coisa tem aí”.

Da mesma forma que uma grande conspiração orquestrada por “forças globalistas” foi a responsável pela eleição de Biden em 2020, Putin e os “hackers russos” estariam por trás da eleição de Trump em 2016. A não ser que fosse pela manipulação das urnas em si, fica difícil entender como “hackers” teriam o poder de mudar um resultado eleitoral. Mandar “fake news” em massa não parece ser algo que demande a ação de hackers. E, convenhamos, “fake news” estão à disposição e são usadas por ambos os lados da disputa.

No Brasil, como o TSE nos garante que as urnas são seguras e à prova de hackers, não se consegue entender direito a que Pedro Doria se refere. Quem lê a coluna à procura de evidências dessa influência em outras eleições sai de mãos vazias. É a típica sensação de se ler uma boa teoria da conspiração.

De verdade, a única influência de hackers na eleição brasileira foi a dos que invadiram as contas do Telegram de Moro e dos procuradores da Lava-Jato. As mensagens vazadas ilegalmente serviram como base (!) para a decisão do STF de soltar Lula e torná-lo elegível. Nesse sentido, as eleições brasileiras foram sim influenciadas por um ataque hacker. Mas como não são russos e amigos de Bolsonaro, tudo bem, está valendo.

Vale do silício: mocinho ou vilão?

Meu amigo Guilherme Morais chamou-me a atenção para a coincidência: dois artigos, em páginas consecutivas do Estadão de hoje, falando sobre o mesmo tema (a “especulação” do chamado Vale do Silício) de maneiras completamente opostas.

O primeiro destaca a condenação de Elizabeth Holmes por fraude.

Para quem não conhece, Mrs. Homes fundou, aos 19 anos de idade, a Theranos, uma empresa, ops, startup que se propunha a diagnosticar uma série de doenças utilizando apenas algumas gotas de sangue. O artigo, escrito por um jornalista da Associated Press, pergunta se o caso poderia servir para “passar uma mensagem preocupante para uma cultura do Vale do Silício que costuma se perder na própria arrogância”. Ou seja, o jornalista condena a auto-promoção dos empreendedores que, supostamente, enganam investidores incautos em uma “estratégia de excessos”.

Já o segundo artigo, do colunista de tecnologia Pedro Doria, vai na direção oposta: sugere que, ao invés de tentarmos copiar o modelo chinês ou coreano de crescimento, baseados em diretrizes estatais e que realmente não inovam, deveríamos tentar reproduzir a cultura do Vale do Silício, com a sua eterna destruição criativa e que verdadeiramente gera inovação.

Quem está certo? Pedro Doria, por certo. O caso de Elizabeth Holmes é um exemplo de fraude. Apenas uma fração dos empreendimentos do Vale do Silício que fracassam é fraudulento. A grande maioria fracassa porque foi mau executado. Para os investidores, no final do dia, tanto faz se o empreendedor é uma fraude ou incompetente. O resultado final é o mesmo, a perda do investimento.

Mas os investidores em startups sabem que a maior parte de seus investimentos nesse tipo de empresa será perdido. Trata-se de investimento de alto risco. Está-se em busca do novo Google ou Facebook, aquele investimento que vai se multiplicar por milhares de vezes. E, por isso, se topa perder dinheiro com as Theranos da vida. Faz parte. A condenação de Elizabeth Holmes não muda uma vírgula essa equação.

Quanto à coluna de Pedro Doria, vemos no Brasil o surgimento de várias empresas de tecnologia que já valem mais de US$ 1 bilhão e que passam por debaixo do radar do planejamento estatal, aquele que distribui subsídios e incentivos fiscais para “gerar emprego e renda”. O que seria preciso para incentivar ainda mais esse tipo de atividade? Recentemente tivemos a aprovação do marco das startups, o que já foi um avanço, incentivando o investimento nesse tipo de empresa. Mas o grande gargalo, ao que parece, é encontrar mão de obra especializada. E aí, o buraco é bem mais embaixo.

Perdendo a hegemonia cultural

O colunista Pedro Doria traz as conclusões de estudos que demonstrariam que conteúdos “de direita” viralizam mais do que os “de esquerda”. E mais: que pessoas “de direita” receberiam somente conteúdo “de direita” em suas timelines, enquanto pessoas “de esquerda” estariam expostas a conteúdos mais “diversificados”. Uau!

Não tive acesso a esses estudos, mas vou comprá-los a valor de face. Digamos que seja assim mesmo, ou seja, os algoritmos criam bolhas “de direita”, “radicalizando” (essa é a expressão usada pelo colunista) uma parcela da população. Como se pessoas “de esquerda” o fossem porque pensam por si próprias, e pessoas “de direita” fossem lobotomizadas para pensar do jeito que pensam.

Durante muitos anos, os poucos pensadores de direita apontaram a bolha de esquerda que as universidades representavam. Quem cursou humanas ou quem dá aulas em cursos de humanas nas universidades sabe do que estou falando. Ali, diversidade de pensamento é que nem mula sem cabeça, uma figura do folclore. Há um pensamento dominante, e ai de quem mija contra o vento. Gerações e gerações de brasileiros foram e são formados nessas bolhas.

Apesar de ser pública e notória, essa dominância sempre foi tratada pela esquerda como uma espécie de paranoia da direita. A universidade seria plural, todas as ideias seriam bem-vindas, e qualquer acusação em contrário era devida à mania de ver comunistas debaixo da cama.

Bem, agora é a hora da vingança da “direita”: essa acusação de que os algoritmos são “de direita” não passa de paranoia. As redes sociais são um lugar plural, onde todas as ideias têm livre circulação. Qualquer acusação em contrário é devida à mania de ver nazistas debaixo da cama.

É duro perder a hegemonia cultural.