Amoêdo e a Agenda 2030

Uma das “provas” do suposto “esquerdismo” de João Amoêdo seria seu apoio a tão falada “Agenda 2030 da ONU”. Não conhecia a tal agenda, mas comecei a ver menções cada vez mais frequentes a ela em ataques ao candidato do Novo. Não dei muita importância de início, dada a conhecida “agenda anti-globalista” de vários adeptos da candidatura Bolsonaro, inclusive com a extinção pura e simples da ONU. Não que eu discorde totalmente desse ponto, acho a ONU de uma inutilidade atroz, mas às vezes a coisa parece meio paranoica.

Como eu estava dizendo, não tinha muita curiosidade em ver a tal Agenda 2030, até que um amigo fez um comentário em um dos meus posts, questionando meu apoio a Amoêdo por conta do apoio dele à Agenda. Como tenho em alta reputação este meu amigo, fui atrás para conhecer um pouco mais.

Em primeiro lugar, Amoêdo, quando perguntado (está em vídeo no YouTube pra quem quiser ver), falou o óbvio: a Agenda 2030 foi assinada por 194 países do mundo inteiro, incluindo todos os mais desenvolvidos. Então não faz sentido o Brasil isolar-se, ficar de fora. Segundo, que a co-autoria da vereadora Janaína Lima, do Partido Novo, à implantação da Agenda na cidade de São Paulo, foi uma decisão dela, o Partido não tem orientação específica a respeito. Além disso, o Brasil aderiu à Agenda. Portanto, a cidade de São Paulo somente seguiu aquilo que, como país, o Brasil já tinha aderido. E, em terceiro lugar, Amoêdo disse que há pontos positivos na Agenda de maneira geral, ainda que possa haver pontos que não façam sentido. É este terceiro ponto que resolvi investigar.

A Agenda 2030 é formada por 17 grandes temas, divididas em 168 ações. Fui verificar uma por uma dessas ações, e o resultado está na tabela abaixo, onde procurei classificá-las pelo seu nível de “esquerdismo”. Cada linha é um grande tema, com suas respectivas ações.

Pintei em verde as ações que considerei corretas. Em amarelo, estão as ações que considerei populistas, ou que seguem a agenda ambientalista, ou ainda, que podem dar margem a algum nível de ação esquerdista. Por exemplo, bastou colocar a palavra “empoderamento”, já mereceu um amarelo, mesmo a ação sendo correta. E, em vermelho, ações que seguem claramente uma agenda esquerdista, seja nos costumes, seja na economia. Fica aqui o aviso de que são os MEUS critérios. Convido a que façam o mesmo exercício com os seus próprios critérios, ao invés de simplesmente ficarem repetindo bovinamente verdades ditas por influencers de YouTube.

Podemos observar que Amoêdo está certo em sua afirmação. De fato, grande parte da Agenda é positiva. No entanto, pode-se argumentar que algumas maçãs podres no cesto servem para estragar o cesto todo. É verdade. Mas também é verdade que vivemos em um mundo onde nem todos pensam de maneira igual a mim ou a você, e se não aprendermos a conviver com as diferenças de opinião, acabaremos isolados em nossa seita, vociferando contra o mundo, enquanto o mundo avança na direção do que a maioria quer. O que eu quero dizer é que, queiramos ou não, a Agenda existe, o Brasil aderiu a ela, e precisamos fazer desse limão uma limonada. Negar tudo e ficar isolado não é uma alternativa.

A Agenda tem uma linguagem suficientemente ambígua para abrigar interpretações positivas mesmo em ações claramente negativas. Por exemplo, a ação sobre os “direitos reprodutivos” e “planejamento familiar” claramente está lá para defender o aborto. Mas a palavra aborto não está mencionada, o que já é uma vitória, e uma fresta por onde pode passar a defesa da vida mesmo com a implementação dessa ação. Além disso, o aborto não precisa da Agenda 2030 para ser implementado, como temos visto em diversos países.

Eu encaro a Agenda 2030 como uma grande carta de intenções de políticos e burocratas. Aliás, a ONU é o paraíso da burocracia estatal. Sua implementação é tão segura quanto os programas de governo dos políticos em véspera de eleição.

A “denúncia” do tal “apoio” do Amoêdo a esta agenda é só mais uma tentativa de dizer que o candidato do Novo é um “esquerdista disfarçado”. Seria o mesmo que eu dizer que Bolsonaro é um “esquerdista disfarçado” porque não quer privatizar a Petrobrás e defende que o nióbio seja nacionalizado. Cada um sempre tem alguma ponta de “esquerdismo”. Se você procurar, vai achar.

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