O drama da empresa brasileira

São muitas histórias tristes por trás do fechamento da fábrica da Ford. É a mãe que paga a faculdade das filhas porque o marido, caminhoneiro, teve o seu caminhão roubado. É o pai do filho autista, que depende do convênio médico da empresa para o tratamento do filho. Sim, os dramas pessoais são imensos.

Assim como são os dramas dos quase 12 milhões de desempregados brasileiros, que caminham feito zumbis em busca de um trabalho. 12 milhões que não têm a sorte dos empregados da Ford, cujo caso mobiliza um batalhão de políticos em busca de uma “solução negociada” (leia-se, subsídios).

O prefeito de São Bernardo entrou com uma ação no Ministério Público do Trabalho, exigindo “esclarecimentos” da empresa. Ora, a Ford não tem “obrigação” de criar empregos. A companhia tomou uma decisão empresarial: cansou de queimar dinheiro do acionista em uma operação que perdeu mais de R$ 4 bilhões nos últimos 3 anos. Os dramas pessoais são duros, mas a conta não deveria cair nas costas da empresa.

A Ford, assim como milhares de empresas de todo Brasil, responsáveis pela demissão de milhões de pessoas, tem dificuldade de lidar com o sistema tributário mais insano do mundo, que serve para sustentar uma casta de funcionários públicos que não podem ser demitidos nem ter seus salários diminuídos e uma corja de políticos que buscam se promover nas costas das desgraças da população. Não conseguem lidar com uma justiça do trabalho surreal, onde qualquer “juiz do trabalho” (outra excrescência brasileira) pode colocar por terra qualquer negócio.

Claro, podem existir incompetência do empresário, uma mudança significativa de mercado, uma recessão, que explicam o fim de uma empresa. Isso faz parte do jogo e empresas fecham no mundo inteiro. Mas a dificuldade de se fazer negócios no Brasil sem dúvida joga um papel fundamental na mortalidade das empresas e, por consequência, na destruição de empregos.

O empresário brasileiro, aquele que cria os empregos, é um sujeito de fé. Acredita que mesmo com as bolas de ferro da carga tributária, da justiça trabalhista e da burocracia, ainda assim vai conseguir gerar valor para o acionista. Muitos ficam pelo caminho, deixando um rastro de milhões de desempregados. A Ford é só a ponta do iceberg.

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