Gasto com servidores

Gráfico extraído do jornal O Estado de São Paulo

Esse gráfico diz tudo e não esconde nada.

O mesmíssimo gráfico poderia ser feito comparando-se os gastos com Previdência em relação ao PIB e o número de idosos em relação à população total. Veríamos o mesmo tipo de distorção.

A fonte dessas distorções, no entanto, é diferente: enquanto na Previdência o gasto é alto porque as pessoas se aposentam cedo demais, no caso do funcionalismo público o gasto é alto porque os salários são muito altos em relação à massa salarial do país.

No Brasil, 76% dos servidores ganham acima de R$ 6 mil/mês, comparado com apenas 9% da população brasileira como um todo. Servidores ganham bem, não podem ser demitidos e até outro dia se aposentavam com o salário integral. Não é preciso ser expert em finanças públicas para sacar que a conta não fecha.

O Estado brasileiro foi sequestrado pelas corporações. Enquanto não libertarmos o refém, vamos continuar cortando o cafezinho e a luz das repartições públicas para tentar conter os gastos do Estado.

Tive uma ideia!

Tive uma ideia.

Por que não duplicar os salários dos funcionários públicos? Pelo raciocínio do economista da UnB, seria um impulso e tanto para a atividade econômica.

Para não aumentar a dívida (que já está em quase 80% do PIB, e continua crescendo) nem aumentar a carga tributária (que já está em 35% do PIB e continua crescendo), o governo poderia simplesmente imprimir dinheiro.

Faria isso escondido, na calada da noite, de modo que ninguém perceberia algo como 5% do PIB de aumento da base monetária. Assim, se evitariam os efeitos inflacionários da medida.

Pensando bem, acho que dá pra triplicar os salários do funcionalismo.

A conta não fecha

Quase metade da folha de pessoal na cidade de São Paulo vai para pagar inativos. Ou seja, as despesas com pessoal têm metade da eficiência que poderiam ter.

Não vou aqui entrar no mérito da justiça ou não desses gastos. Estão na Lei, ponto.

Meu ponto é outro: esses gastos não são sustentáveis no tempo. Fizemos uma reforma da Previdência com anos de atraso, e que vai somente diminuir o ritmo da deterioração. Isso se Estados e Municípios entrarem. Senão, nem isso.

Quando metade da folha de pagamentos vai para inativos, é que já viramos uma Grécia. Portanto, o ajuste deveria ser tão draconiano quanto. Lá, houve cortes de até 30% no valor das aposentadorias. Caso contrário, vai acontecer no Brasil inteiro o que já está acontecendo em alguns Estados: devo, não nego, pago quando puder.

No Brasil, o Estado de Bem-Estar Social funciona bem somente para os servidores públicos, às custas do Mau-Estar Social do restante do País. O que está acontecendo agora é que o restante do País disse um basta.

PS.: você, servidor público, não se sinta ofendido por essa análise. Não tenho absolutamente nada contra você em particular. Meu ponto é só econômico: o País não consegue mais sustenta-lo. Está falido. Antes de matar o mensageiro, reflita sobre a mensagem, e comece a fazer uma poupança para tempos de vacas mais magras ainda, que virão.

Privilégios – o nome do mal

Reproduzo abaixo comentário da amiga Liss de Silvio ao meu post sobre as “prerrogativas” da nossa nobreza. Um complemento perfeito, dado que as prerrogativas do funcionalismo público são a outra face da mesma moeda.

“Identificação total com seu artigo, como suele ocurrir.

Os privilégios dos que orbitam o Estado foram não apenas mantidos ao longo dos séculos (salvo uma ou outra aberração contraproducente) , como foram estendidos para cooptação da poderosa categoria dos barnabés.

Em que outro país listado entre os dez maiores PIBs, as filhas dos barnabés de alta nobreza ainda recebem pensão por morte do papis?

Só eu conheço umas quatro, sendo que uma delas, sexagenária, recebe duas.
Os cartórios, até há menos de 20 anos, eram hereditários, como as capitanias. Aliás, a pp existência dessas jabuticabas é inexplicável aos olhos da modernidade.

Os incontáveis penduricalhos que fermentam os holerites da barnabezada, os foros privilegiados, os direitos adquiridos, as centenas de dias de férias/ócio legalmente garantias para os aquinhoados da Ilha da Fantasia, as aposentadorias sequer imaginadas no mundo desenvolvido, as licenças – ah! As licenças!- com que são brindados e que a patuleia paga mas desconhece. Os convênios médicos ilimitados.

Bem, criou-se uma casta para a qual foram destinados todos os direitos e privilégios e nenhum dever (na prática). Ninguém mais mudará isso.”

Lobby do funcionalismo público

Nas três esferas do poder, o total de funcionários públicos representa cerca de 9% da população economicamente ativa (dados de 2016). O número já é uma barbaridade em si, mas vá lá.

A tal da Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público representa 46% da Câmara! Ou seja, a Câmara dos Deputados não passa de um grande lobby dos funcionários públicos! Como eles chegaram lá em eleições livres?

A única reforma política que deveria estar sendo discutida é aquela que devolve ao cidadão que não é funcionário público o poder sobre as decisões do parlamento. O resto é para inglês ver.

República brasileira

Estou lendo o excelente livro (mais um) de Jorge Caldeira, História da Riqueza no Brasil.

Em determinado momento, durante a transição do reinado de Pedro I para o triunvirato que regeria o Brasil enquanto Pedro II não atingisse a maioridade, Caldeira descreve o embate das duas lógicas conflitantes que marcavam a Constituição de 1824, a primeira do Brasil.

“Para aqueles que pensavam e agiam segundo a lógica do Antigo Regime, o governo arrecadava um máximo de todos e distribuía esse dinheiro “fazendo justiça” para quem tinha “direitos adquiridos”. Já os novos dirigentes pensavam e agiam segundo a lógica iluminista de que a soberania popular restringia o governo, de modo que este arrecadava de todos e distribuía para todos apenas o arrecadado e seguindo uma lei votada pelos representantes eleitos – essa era a função do Orçamento.”

Passados quase 200 anos, estamos na mesma. Os novos representantes do Antigo Regime, a alta casta do funcionalismo público, reclama seus “direitos adquiridos”, independentemente de haver ou não Orçamento para tanto.

Do outro lado, temos a lógica iluminista, que confere poder aos representantes do povo de delimitar onde serão gastos os limitados recursos arrecadados, sem a existência de “direitos adquiridos” dos novos nobres que fazem parte da Corte Brasileira. Uma Corte que vive sem rei, como aquela que sobreviveu após a partida de Pedro I.

A República brasileira ainda precisa ser fundada.

O último congressista enforcado nas tripas do último juíz

Lembram? MG é o Estado que ganhou uma liminar da juíza Rosa Weber para não ter R$75 milhões de seus recursos retidos pela União, pelo risco de descontinuar “serviços essenciais para a população”.

Um desses serviços, como podemos ver, é o pagamento de licenças prêmio para juízes, no valor de R$29 milhões.

Isso aqui só não acaba em uma grande Queda da Bastilha, com o último congressista enforcado nas tripas do último juiz, porque o povo brasileiro é muito cordato.

Privilégios

Bombeiro, policial militar, professor, precisam parar de se achar os únicos sofredores do mundo.

O pedreiro, que fica quebrando laje e assentando tijolo o dia inteiro, também tem um trabalho sofrido.

A empregada doméstica, que sai de madrugada de casa e tem uma jornada extenuante na casa dos patrões, incluindo aguentar os fedelhos impertinentes, também tem um trabalho sofrido.

A enfermeira, que se expõe aos mais diversos tipos de doença e precisa lidar com a má vontade de pacientes e familiares, também tem um trabalho sofrido.

Enfim, poderia aqui continuar indefinidamente com uma lista de profissionais que trabalham em atividades insalubres e, nem por isso, contam com os PRIVILÉGIOS de terem salários maiores que a média nacional, estabilidade no emprego e aposentadoria mais cedo que todo mundo.

Eu sim sou privilegiado. Eu sim, trabalho no ar condicionado em uma atividade intelectual. Mas, não se engane: não serei somente eu a transferir meus privilégios para policiais militares, bombeiros e professores. É às custas do pedreiro, da empregada doméstica, da enfermeira que as categorias PRIVILEGIADAS do funcionalismo público manterão seus PRIVILÉGIOS.

São os mais pobres, sempre, que pagam o pato.